Após 28 anos no poder, PSDB perde o comando de São Paulo com derrota de Rodrigo Garcia
Atual governador ficou em terceiro lugar com 18,4% dos votos; o resultado põe fim a história que começou em 1995 com Mário Covas
Eleições 2022|Do R7
Vinte e oito anos depois de chegar ao governo de São Paulo com Mário Covas, em 1994, o PSDB sofreu ontem a pior derrota desde que perdeu a Presidência da República em 2002, quando Lula (PT) superou José Serra.
O atual governador Rodrigo Garcia ficou em terceiro lugar na disputa, com 18,4% dos votos, atrás de Tarcísio de Freitas (Republicanos) e de Fernando Haddad (PT), que disputarão o segundo turno no dia 30 de outubro.
Entre a desolação e o pessimismo com o futuro, dirigentes e quadros históricos do PSDB se dividiram ao avaliar os motivos que levaram ao fim da hegemonia paulista, mas convergem na tese de que a guerra fratricida desencadeada após a ascensão de João Doria em 2018 foi determinante.
Depois de superar Márcio França (PSB) no segundo turno em 2018, com uma estratégia de surfar na onda Jair Bolsonaro e diante do fiasco da candidatura de Geraldo Alckmin naquele ano, Doria tornou-se o candidato natural à Presidência em 2022 e tentou promover uma guinada à direita no PSDB.
Na concepção do político com origem no mundo empresarial, o partido deveria ficar menos social-democrata e mais liberal. Essa transição, somada a um discurso antipetista, seria a fórmula para os tucanos recuperarem o prestígio com o eleitorado que migrou para o bolsonarismo, mas se ressentia dos arroubos do presidente.
O estilo voluntarista de Doria, porém, explodiu pontes. O racha que mais tarde culminaria no processo disruptivo das prévias presidenciais começou em um jantar no ano passado no qual o entorno do governador surpreendeu o presidente da sigla, Bruno Araújo, ao defender a ideia, sem nenhuma articulação prévia, de que o chefe do Executivo paulista assumisse o comando partidário.
Naquela altura, Doria já havia traçado um plano de voo que previa projetar Rodrigo Garcia na administração, filiá-lo ao PSDB e lançá-lo candidato à sua sucessão. Mesmo após vencer as prévias, no entanto, Doria passou a ser atacado por adversários internos e não conseguiu viabilizar sua candidatura presidencial.
Futuro
O PSDB tem agora um projeto claro no horizonte: tentar liderar a oposição ao governo federal e buscar recuperar o protagonismo no campo da centro-direita. Essa estratégia esbarra na resistência interna do grupo de tucanos que prega o apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e uma eventual composição no governo do petista.
Em São Paulo a narrativa é outra. "Não podemos jogar 28 anos no lixo e ir na oposição em São Paulo. A minha posição é que devemos nos posicionar no segundo turno. Vou convocar o diretório e a bancada da capital para fazer uma consulta. Haddad e Tarcísio têm programas semelhantes ao do PSDB", disse o presidente do PSDB paulistano, Fernando Alfredo.
"Seria ruim ficarmos neutros em São Paulo. O PSDB precisa tomar uma posição no segundo turno e apoiar quem assinar uma carta de compromisso com a sociedade", complementou Orlando Morando, prefeito de São Bernardo do Campo e membro da direção executiva tucana.
No momento de avaliar as razões da derrota de Garcia no primeiro turno mesmo tendo a retaguarda da máquina, tucanos dizem reservadamente que a campanha pela reeleição foi errática e falhou ao adotar a linha do nem esquerda, nem direita.
"Filiado há pouco tempo no PSDB, Rodrigo Garcia não convenceu o eleitorado de quem representa o legado do partido desde Mário Covas", disse a cientista política Vera Chaia, professora da PUC-SP.
Integrante da executiva nacional e tesoureiro do PSDB, César Gontijo é cauteloso ao avaliar erros, mas acredita que o principal deles foi não ter candidato próprio ao Palácio do Planalto.
Sobre o futuro, ele prega que o partido se "reinvente" para liderar a oposição. "Precisamos recuperar o protagonismo no campo da centro-direita", afirmou.