Proteínas que se “dobram errado” podem destruir o cérebro
Doenças priônicas causam danos cerebrais graves, mas novas pesquisas avançam em diagnóstico e terapias
Fala Ciência|Do R7

As doenças priônicas são incomuns, mas extremamente perigosas, pois afetam diretamente o cérebro. A forma mais conhecida nos seres humanos é a doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ), que provoca alterações de memória, mudanças de comportamento e perda de coordenação motora. Sua progressão é rápida e não há cura atualmente, tornando essencial a detecção precoce e a vigilância constante.
O elemento central dessas doenças é que o agente causador não é um vírus nem uma bactéria, mas sim uma proteína mal dobrada que consegue forçar outras proteínas normais a se dobrarem de maneira incorreta. Esse fenômeno cria um efeito dominó molecular, que se espalha no cérebro causando danos irreversíveis.
O mecanismo de destruição cerebral
Essas proteínas resistem a desinfetantes comuns, por isso hospitais aplicam protocolos de esterilização específicos para prevenir contaminação em procedimentos de risco.
Diagnóstico moderno e testes inovadores

Tradicionalmente, a DCJ só podia ser confirmada após a morte, por meio da análise do tecido cerebral. Recentemente, surgiram métodos capazes de detectar a doença em vida, como o teste RT-QuIC, que identifica a presença do príon em amostras de líquor:
O RT-QuIC permite diagnósticos mais rápidos, aproximando a prática clínica da confirmação laboratorial e facilitando respostas em saúde pública.
Pesquisas promissoras e terapias em desenvolvimento
Estudos recentes exploram substâncias capazes de interromper a agregação de proteínas mal dobradas. Um exemplo é o extrato da Moringa oleífera, rico em ácido clorogênico e ácido neoclorogênico, que mostrou potencial para:
Publicações no ACS Omega sugerem que esses compostos podem inspirar medicamentos inovadores para tratar doenças priônicas e outras condições neurodegenerativas.
Impacto global e colaboração internacional
O Príon 2025, congresso internacional que será realizado em Búzios, reunirá especialistas para discutir:
Doenças priônicas não afetam apenas a saúde individual, mas também têm impactos econômicos e sociais, como demonstrou a interrupção temporária das exportações de carne para a China após um caso de encefalopatia bovina.
Príons e neurociência do futuro
Pesquisas indicam que mecanismos semelhantes aos das doenças priônicas aparecem em Alzheimer, Parkinson, ELA e até em certos tipos de câncer. Esse comportamento “príon-like” redefine a compreensão sobre como proteínas instáveis podem propagar disfunções e abre caminho para estratégias terapêuticas inovadoras.
O Brasil, com centros de referência e pesquisas pioneiras, está na linha de frente global, aproximando laboratório e prática clínica e fortalecendo a vigilância contra essas doenças raras e destrutivas.
