Em ato raro e assustador, macaca carrega cadáver do próprio filhote por dias antes de devorá-lo
Cientistas acreditam que canibalismo pode ajudar a mãe a ter mais sucesso nas próximas gestações
Hora 7|Filipe Siqueira, do R7
Em um zoológico da Europa, um ato de canibalismo assustador deixou cientistas intrigados. Uma mãe macaca carrregou por dias o corpo do filhote morto, até finalmente devorá-lo. O estranho evento de luto foi registrado no parque de safári Dvůr Králové, na República Tcheca.
Em agosto de 2020, a fêmea de dril (Mandrillus leucophaeus) — um primata parente próximo dos babuínos — deu à luz um filhote, mas oito dias depois o recém-nascido morreu. Os biólogos não sabem exatamente a causa da morte, uma vez que o filhote não nasceu com problemas de saúde.
Após a morte, a fêmea (chamada Kumasi) passou a proteger o corpo e impedir os tratadores de levá-lo da área dos primatas. Ela também carregou o cadáver por quase dois dias — os cientistas acham que, talvez, negando que o filho tenha falecido.
E tudo ficou mais estranho quando a macaca comeu boa parte dos restos mortais do rebento, antes de os tratadores finalmente intervirem e retirarem o que sobrou do filhote. Segundo os observadores, apenas a mãe comeu o corpo, sendo observada pelos outros drils do ambiente.
Um estudo do caso foi publicado no periódico científico Primates no fim de junho. Até uma gravação do momento foi feita, em um vídeo descrito como "potencialmente perturbador" pelos cientistas — cliique AQUI se quiser assistir a ele.
Raro entre primatas
Canibalismo infantil é considerado algo bastante raro entre animais, segundo os estudiosos. "Na literatura científica, você pode encontrar apenas relatos anedóticos", afirmou a bióloga e coautora da pesquisa Elisabetta Palagi, da Universidade Pisa, em entrevista ao site LiveScience.
Apesar de assustador para humanos, os pesquisadores acreditam que pode haver boas razões para o ato de devorar o filhote.
"Se considerarmos o incrível investimento de energia reprodutiva das mães primatas, o canibalismo pode ser considerado um traço evolutivo adaptativo que ajuda a mãe a recuperar energia após a gestação", completa Elisabetta Palagi. O estudo mostra que o jantar assustador pode ajudar a mãe a ter mais sucesso em gestações futuras.
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Como os drils são uma espécie pouco estudada e em risco de extinção, são necessários mais dados para comprovar a tese de benefício nutricional. Um dos indícios mais fortes é que os outros primatas do ambiente não participaram do ato canibal, uma vez que não precisavam de nutrientes extras.
"Embora não possamos tirar conclusões firmes sobre os benefícios potenciais do comportamento da mãe, essa observação nos exercícios acrescenta uma peça ao quebra-cabeça dos comportamentos tanatológicos e de canibalismo em primatas", afirma a pesquisa, que informa também que a morte rápida diminuiu as chances de vínculo afetivo entre a mãe e a cria.
LEIA ABAIXO: Uma breve história do canibalismo como prática medicinal na Europa