Argentina julga 35 acusados por crimes durante a ditadura
Serão julgados simultaneamente 20 ex-militares, 14 ex-policiais e um ex-procurador por crimes contra a humanidade no regime militar (1976-83)
Internacional|Da EFE
O Tribunal Oral Federal da província de San Juan, no noroeste da Argentina, fez sentar a partir desta terça-feira (25) no banco dos réus 35 acusados por crimes contra a humanidade durante a última ditadura cívico-militar do país (1976-1983).
Trata-se do terceiro "megajulgamento" por crimes cometidos durante o regime nesse distrito, no qual estão indiciados 20 ex-militares, 14 ex-integrantes da polícia provincial e o ex-procurador federal Juan Carlos Yanello.
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Segundo informaram fontes jurídicas, a previsão é que sejam realizadas entre uma e duas audiências a cada 15 dias e que cerca de 400 testemunhas prestem depoimento.
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Serão investigados crimes cometidos contra mais de 150 pessoas e, embora vários deles já tenham sido julgados em processos anteriores, agora serão colocados sobre a mesa outros episódios que afetam 15 novas vítimas.
Entre eles, os da causa conhecida como "Fuzilamentos", uma série de seis "execuções extrajudiciais".
Os demais crimes que chegaram a esta instância são privações ilegítimas da liberdade, torturas, 22 desaparecimentos forçados e delitos contra a integridade sexual como estupros e abusos.
Em outubro de 2018, o mesmo tribunal condenou à prisão perpétua dois ex-policiais e nove ex-militares, aplicou penas de seis e 18 anos de prisão para outros dois acusados, e absolveu os três restantes.
A chamada "Megacausa II" unificou um conjunto de expedientes que tramitaram de forma separada na etapa de instrução, com um total de 205 vítimas e se centrou na investigação do terrorismo de Estado na província de San Juan e o funcionamento de centros clandestinos de detenção e tortura.
Segundo organismos de direitos humanos, o terrorismo de Estado fez desaparecer na Argentina cerca de 30.000 pessoas, muitas delas drogadas e jogadas vivas às águas do rio da Prata, nos que ficaram conhecidos como "voos da morte".
Após o julgamento das juntas militares, que em 1985 condenou os principais chefes da ditadura, as centenas de processos abertos para julgar os comandantes inferiores foram interrompidos pelas leis de Ponto Final e Obediência Devida sancionadas em 1986 e 1987.
No entanto, em 2005, a Corte Suprema de Justiça declarou, durante o governo de Néstor Kirchner (2003-2007), a inconstitucionalidade dessas leis e os julgamentos foram retomados.