Artista iraniano recebe 74 chicotadas por criticar uso de véu islâmico
“Quem não está pronto para pagar o preço da liberdade, não é digno da liberdade”, declarou o cantor após a aplicação da pena
Internacional|Do R7
O cantor iraniano Mehdi Yarrahi, conhecido por sua postura crítica ao regime do Irã, recebeu 74 chicotadas como parte de sua condenação por apoiar o movimento “Mulher, Vida, Liberdade”. A punição física foi aplicada nesta semana, e o caso foi arquivado em seguida, segundo informou a advogada do caso, Zahra Minouei, na quarta-feira (5).
Yarrahi foi preso em 2023 após lançar a música “Roosarito”, que incentivava as mulheres a retirarem o hijab, o véu islâmico obrigatório no país. No videoclipe, iranianas aparecem dançando sem o acessório, desafiando as regras impostas pelo regime. O cantor foi colocado em prisão domiciliar por um ano, e sua pena incluiu também a punição corporal.
Mesmo diante da repressão, Yarrahi reafirmou sua posição e demonstrou resistência. “Quem não está pronto para pagar o preço da liberdade, não é digno da liberdade”, declarou em um vídeo publicado após a aplicação da pena. Ele também revelou que, ao tentar recuperar a escritura de sua casa — confiscada como fiança pelo governo — foi informado de que a sentença de chicotadas deveria ser cumprida antes.
A condenação gerou forte reação dentro e fora do Irã. Narges Mohammadi, ativista e ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, classificou a punição como um “ato de vingança” contra aqueles que desafiam o regime. Já a atriz Taraneh Alidoosti, presa em 2022 por posar sem véu, usou suas redes sociais para expressar indignação: “Vergonha da tortura, vergonha das leis desumanas, vergonha da nossa impotência”, escreveu no Instagram.
A repressão contra Yarrahi ocorre em um momento crítico no Irã. 209 dos 290 deputados pressionam pelo endurecimento das penas para mulheres que não usam o véu, exigindo uma legislação mais rígida. No entanto, o presidente Massoud Pezeshkian, considerado moderado, rejeitou a proposta, alegando que ela “vai contra os interesses da população”. A decisão aprofundou o embate entre o governo e setores ultraconservadores, que tentam reforçar as normas impostas pelo regime.
Desde os protestos de 2022, desencadeados pela prisão e morte de Mahsa Amini, acusada de usar o hijab de forma inadequada, o Irã tem adotado medidas ainda mais severas para punir a dissidência. Ativistas denunciam que punições como a aplicada a Yarrahi fazem parte de uma estratégia de intimidação contra artistas, intelectuais e qualquer um que desafie as regras impostas pelo governo.
Apesar da repressão, o movimento “Mulher, Vida, Liberdade” segue vivo dentro e fora do país, com apoio de exilados iranianos e organizações internacionais de direitos humanos.