Irã aumenta produção de urânio para uso em armas em meio a tensões com EUA
País eleva estoque de material enriquecido a 60% em 92,5 kg, montante que, se refinado, pode virar bomba
Internacional|Do R7

O Irã tem ampliado significativamente a produção de urânio enriquecido a níveis próximos do necessário para o uso em armas nucleares desde dezembro, segundo relatórios da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), da ONU (Organização das Nações Unidas).
Os documentos, divulgados na quarta-feira (26), apontam um crescimento expressivo no estoque de urânio enriquecido a 60% de pureza físsil -- a poucos passos técnicos dos 90% exigidos para uma bomba atômica -- e a ausência de avanços na resolução de questões pendentes sobre o programa nuclear iraniano.
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De acordo com a agência de notícias Reuters, que teve acesso aos relatórios da AIEA, o estoque de urânio a 60% alcançou 274,8 kg em 8 de fevereiro, um aumento de 92,5 kg em relação ao último trimestre. Esse volume, se enriquecido ainda mais, seria suficiente, em teoria, para produzir até seis bombas nucleares, seguindo um padrão da agência.
Antes da aceleração anunciada em dezembro, o Irã produzia entre 6 e 9 kg por mês desse material. Agora, a taxa saltou para 35 a 40 kg mensais, aproximando-se dos 42 kg que, refinados, poderiam bastar para uma bomba.
A agência AP também teve acesso a um dos relatórios, que destaca uma “séria preocupação” com o fato de o Irã, único país sem armas nucleares a produzir urânio tão enriquecido, estar acumulando esse material.
O estoque total de urânio enriquecido iraniano atingiu 8.294 kg, um salto de 1.690 kg desde novembro. O Irã, no entanto, diz que seu programa nuclear tem fins exclusivamente pacíficos, voltados à geração de energia.
Escalada de tensões com os EUA
A aceleração iraniana coincide com o retorno de Donald Trump à presidência dos EUA, que prometeu intensificar a política de “pressão máxima” contra Teerã.
Durante seu primeiro mandato (2017-2021), Trump retirou os EUA do acordo nuclear de 2015 -- que limitava o enriquecimento iraniano a 3,67% e o estoque a 300 kg em troca de alívio de sanções -- e voltou a impor duras sanções econômicas. Desde então, o Irã ultrapassou amplamente esses limites.
“O presidente Trump está comprometido em garantir que o regime iraniano nunca obtenha uma arma nuclear e aberto a conversas para um novo acordo”, disse Brian Hughes, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, segundo a AP.
Na segunda-feira (24), Trump anunciou novas sanções contra a indústria petrolífera iraniana, intensificando a pressão.
Impasse diplomático
A AIEA alertou que o tempo para uma solução diplomática está se esgotando. “O aumento significativo da produção de urânio altamente enriquecido pelo Irã é uma séria preocupação”, declarou a agência em um trecho destacado nos relatórios, segundo a Reuters.
Entre as questões pendentes, está a presença inexplicável de vestígios de urânio em locais não declarados, algo que a AIEA cobra explicações há anos. “O Irã diz que declarou tudo, mas isso é inconsistente com nossas avaliações”, afirmou a agência.
O The Washington Post, citando uma fonte familiarizada com um dos relatórios da AIEA, diz que o aumento de 92,5 kg no estoque de urânio a 60% eleva os temores de que Teerã possa buscar uma arma nuclear, especialmente após reveses regionais e pressões do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que prometeu “terminar o trabalho” contra o Irã com apoio americano.
Respostas do Irã
O líder supremo iraniano, Ali Khamenei, já sinalizou posições ambíguas: em agosto, abriu portas para negociações com os EUA, mas recentemente disse que dialogar com Washington não é “sábio nem honrado” sob pressão. “Não negociaremos sob ameaça ou sanções”, reforçou o chanceler iraniano, Abbas Araghchi, na terça-feira (25), segundo a AP.
Enquanto isso, o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, disse que o Irã já possui urânio suficiente para “várias bombas” se decidir refiná-lo. “A quantidade está lá”, disse Grossi a legisladores europeus, segundo o The Washington Post.