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'É um caldeirão prestes a explodir', diz analista sobre o Equador

Segundo especialista em política internacional, economia e tensões raciais geram um quadro de tensões no país, que pode ser agravado

Internacional|Fábio Fleury, do R7

Multidão participou do velório de um líder indígena morto em protesto
Multidão participou do velório de um líder indígena morto em protesto

As tensões no Equador, que começaram com protestos contra medidas tomadas pelo presidente Lenín Moreno na última semana, não dão sinal de diminuir, já geraram centenas de prisões e algumas mortes, e podem resultar em um cenário trágico. O país neste momento é "um caldeirão prestes a explodir", segundo o analista internacional Amauri Chamorro.

O corte do subsídio no preço dos combustíveis, que deu início às manifestações na semana passada e gerou o estado de exceção decretado pelo presidente, seria apenas a gota d'água de um processo bem mais longo. Os problemas, segundo ele, vêm se acumulando desde que Moreno assumiu a presidência do Equador, em maio de 2017.

"Desde que ele assinou o acordo com o FMI para receber um pacote financeiro (de US$ 10 bilhões, cerca de R$ 41,1 bilhões), ele vem implementando medidas que prejudicam muito a população mais pobre. Antes dos subsídios, ele já havia demitido 200 mil funcionários, perdoado dívidas bilionárias, entre outros", explica Chamorro, que nasceu no Equador mas mora no Brasil há anos.

Economia fragilizada


Outro aspecto importante é que a economia do Equador é dolarizada, não possui uma moeda própria e, por isso, depende totalmente da entrada da moeda norte-americana no país. Uma das medidas de Moreno foi extinguir uma taxa que incidia sobre a importação de produtos de luxo, que favoreceu a saída de dólares.

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O segundo mecanismo que ajudava a segurar reservas estrangeiras no Equador era uma tarifa sobre a saída de divisas, de 5% sobre cada dólar que saía do país. Essa tarifa também foi extinta pelo presidente como forma de adequar a economia às exigências feitas pelo FMI.


A exportação no Equador também foi profundamente afetada. "Lenín cortou os subsídios à produção. O país era líder mundial na exportação de camarão, banana e rosas. Também tinha uma produção muito importante de arroz, o governo comprava e revendia o arroz para balancear o preço. Agora isso acabou, esses produtores quebraram, tem havido muitas greves pelo litoral", ressalta.

Problemas de atitude


Além da parte econômica, a atitude do presidente complica ainda mais a situação, segundo o analista. Desde o início dos protestos, Lenín Moreno não apenas se recusou a negociar uma possível retomada do subsídio aos combustíveis como decretou estado de exceção, efetivamente fechando o Congresso, além de transferir temporariamente o governo para Guayaquil.

"A postura do Lenin foi muito impositiva. A repressão nunca foi tão agressiva contra o povo como agora. Em outras ocasiões o Exército apenas avisava o presidente que o povo estava na rua e dizia que não iria interferir, apenas o escoltava para o aeroporto e ele ia embora", relembra Chamorro.

Declarações de membros do governo contra os movimentos indígenas também ampliaram as tensões. "O ministro da Defesa já disse se houver conflito, a responsabilidade é de quem morrer. Isso faz a população sair com ainda mais força na rua. O país vive um colapso social sem saída. A gente teme uma guerra civil agora, há declarações muito racistas contra os indígenas", diz.

Cultura de protestos

Como exemplo de como os protestos são importantes, o analista relembra que, antes dos dez anos em que Rafael Correa governou o país (de 2007 a 2017), o Equador teve sete presidentes nos dez anos anteriores (de 1997 a 2007). Tudo porque a mobilização popular sempre foi algo comum no país.

"É parte da cultura equatoriana ir pra rua e enfrentar o governo", diz o analista. "O que está acontecendo agora é diferente. Não é um partido, não é uma classe econômica, não é um grupo específico, é todo mundo que está na rua. O Lenín Moreno neste momento não tem controle nenhum sobre o país".

"A única saída é antecipar as eleições, isso é previsto na constituição. As organizações civis estão pedindo. Faz mais de uma semana que o Congresso eestá fechado. Isso é uma ditadura. A situação vai se radicalizar, sensivelmente. O discurso do governo para a população é radical. É um caldeirão que está perto de explodir", alerta Chamorro.

Veja fotos dos protestos na quinta (10)

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