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Empresas chinesas vendem botes para refugiados e divulgam em redes de tráfico humano na Europa

Anúncios em e-commerce citam explicitamente uso para migração; autoridades britânicas alertam para riscos e investigam fornecedores

Internacional|Do R7

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As autoridades também alertam para o risco que essas embarcações clandestinas podem oferecer aos imigrantes Reprodução/X/@CanarioToday

Dezenas de empresas chinesas estão vendendo online “botes infláveis para refugiados” e promovendo seus anúncios em redes de tráfico humano. Com promessas de envio rápido para a Europa, os principais alvos desses vendedores são imigrantes ilegais.

Os botes infláveis rotulados como “refugee boats” estão disponíveis em diversos tamanhos. Um modelo com até 12 metros de comprimento é vendido por empresas chinesas por US$ 1.680 (cerca de R$ 8.800).


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Segundo investigações do jornal The Telegraph, uma rápida busca na internet revelou dezenas de fornecedores promovendo a venda de botes para refugiados, destacando a velocidade de entrega e a qualidade dos equipamentos para a travessia do Canal da Mancha.

Apesar das tratativas do Ministério do Interior do Reino Unido, que está em negociações com o governo chinês para restringir a venda das embarcações, durante três meses de investigações os perfis dos anunciantes não foram derrubados.


Mesmo sinalizando que o uso do produto era para práticas de migrações ilegais, os comerciantes continuam livres para anunciar e vender.

Os anúncios dessas empresas também incluíam palavras-chave estratégicas nos títulos, citando destinos principais e países de trânsito de migrantes como Itália, Alemanha, Turquia, Marrocos e Líbia, facilitando sua localização por contrabandistas em buscas online.


As autoridades também alertam para o risco que essas embarcações clandestinas podem oferecer aos imigrantes.

O especialista em aplicação da lei internacional, Neville Blackwood, explicou para a reportagem a fragilidade das embarcações vendidas no e-commerce chinês.


“Ninguém parece ter medo de ser preso ou processado, os produtos vendidos são botes frágeis, com motores inadequados para navegação segura, o uso desses equipamentos em travessias perigosas pode resultar em mortes” disse.

“Anunciá-los dessa forma é simplesmente errado. Coloca vidas em risco”, acrescentou.

Produção personalizada

A reportagem do jornal expôs a facilidade de comprar um dos botes para travessia, com um dos repórteres se passando por compradores interessados em acessar outros países através do Canal.

Um dos fornecedores, a empresa Hubei Jinlong, oferece tamanhos personalizados desde que o comprador adquira, no mínimo, 10 unidades, e garante que as embarcações são seguras para uso no mar.

Quando o repórter perguntou: ”Gostaria do maior barco possível para enviar migrantes. sete metros é o maior tamanho disponível?”

O vendedor respondeu:

“Sete metros não é o maior. Podemos produzir sob medida.”

Os botes de PVC são mais simples e são anunciados por valores a partir de US$ 200 (cerca de R$ 1.050).

As autoridades encontraram até 90 pessoas espremidas em embarcações projetadas para transportar muito menos passageiros, evidenciando o extremo risco a que os migrantes são submetidos nas travessias pelo Canal da Mancha.

Segundo a agência de migração das Nações Unidas, o ano passado foi o mais mortal já registrado nessas travessias, com pelo menos 80 mortes, incluindo a de um bebê de quatro meses.

“Temos um retrato claro da inteligência e estamos cientes dessas cadeias de suprimento”, afirmou.

A Agência Nacional do Crime (National Crime Agency) informou que, nos últimos 18 meses, apreendeu mais de 600 botes e motores, além de ter removido 18 mil anúncios online relacionados ao crime organizado de imigração.

Em resposta ao agravamento da situação, a secretária do Interior do Reino Unido anunciou recentemente um financiamento adicional de £33 milhões (cerca de R$ 215 milhões) para operações destinadas a desmantelar cadeias de fornecimento e rotas de tráfico de pessoas.

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