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Exploração sexual online atingiu 13 a cada 100 crianças no mundo no último ano, diz pesquisa

Crimes incluíam produção e distribuição não consentida de imagens e vídeos sexuais de mais de 300 milhões de crianças

Internacional|Rafaela Soares, do R7, em Brasília

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LEIA AQUI O RESUMO DA NOTÍCIA

  • Uma pesquisa aponta que 13% das crianças no mundo foram vítimas de exploração sexual online no último ano.
  • A maioria das vítimas tem menos de 12 anos, e situações de grooming são comuns, afetando meninas entre 11 e 17 anos.
  • Hytalo Santos, influenciador preso por acusações de exploração sexual, é investigado por práticas abusivas envolvendo menores em conteúdo digital.
  • A ONG ChildFund lançou a campanha "Os Monstros na Internet São Reais" para proteger crianças de riscos digitais e promover conscientização.

Produzido pela Ri7a - a Inteligência Artificial do R7

Mais de 300 milhões de crianças em todo o mundo foram expostas a crimes sexuais no ambiente online Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil/Arquivo

Uma pesquisa da ONG ChildLight revelou que, nos últimos 12 meses, mais de 300 milhões de crianças em todo o mundo foram vítimas de exploração ou abuso sexual online, incluindo a produção e distribuição não consentida de imagens e vídeos sexuais. Isso significa que aproximadamente 13 em cada 100 crianças foram expostas a esse tipo de crime.

Outro estudo, da Internet Watch Foundation, aponta que cerca de 70% das vítimas desse tipo de material têm menos de 12 anos. O tema ganhou destaque recentemente com a publicação de um vídeo do youtuber Felca, que denunciou a adultização e exploração de crianças em conteúdos digitais, citando o caso do influenciador Hytalo Santos.


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Principais riscos digitais na América Latina

Um estudo da ONG identificou os principais riscos digitais enfrentados por crianças e adolescentes na região:

  • Cyberbullying
  • Assédio em redes sociais
  • Perfis falsos
  • Sexting (compartilhamento ou recebimento de mensagens, fotos ou vídeos de conteúdo sexual por meio de celulares, redes sociais ou outros meios digitais)
  • Violência sexual digital

Segundo a pesquisa, 1 em cada 10 crianças já sofreu ameaças, chantagens ou divulgação não consentida de imagens íntimas, muitas vezes praticadas por pessoas próximas ou desconhecidos.


O documento também destaca o grooming, prática criminosa em que um adulto ou adolescente estabelece contato com uma criança ou adolescente pela internet com intenção de abuso e exploração sexual. Essa prática representa mais de 50% das denúncias de violência sexual digital, afetando principalmente meninas entre 11 e 17 anos.

Segundo o presidente executivo do ChildFund Brasil, Mauricio Cunha, a alta exposição a crimes dessa natureza se deve a uma combinação de fatores como a ausência de educação digital estruturada, normalização de comportamentos de risco, como o envio de imagens íntimas.


“A internet é um ambiente poderoso, mas também arriscado quando crianças e adolescentes acessam sem supervisão. Por isso, incentivamos a presença ativa dos adultos na vida digital dos filhos: conheça o que eles estão acessando na internet e se familiarize com aplicativos e plataformas que usam. Crie rotinas de conversa sobre o que é visto e vivido online. Estabeleça limites claros, construindo confiança”, afirmou.

“Monstros na internet são reais”

Diante desse cenário, o ChildFund reforça a proteção online como prioridade com a campanha internacional “Os Monstros na Internet São Reais”, lançada em seis países da América Latina (Brasil, México, Guatemala, Honduras, Equador e Bolívia).


A iniciativa utiliza relatos reais de adolescentes, vídeos impactantes, materiais educativos e recursos gratuitos para apoiar famílias e educadores na identificação e prevenção de riscos digitais, como assédio, cyberbullying, grooming e exploração sexual.

A metáfora dos “monstros” traduz o medo do desconhecido e dá forma concreta a ameaças virtuais que muitas vezes passam despercebidas.

Com garras, dentes e olhos atentos, os monstros simbolizam predadores digitais, conteúdos abusivos e manipulações disfarçadas de entretenimento ou amizade, ajudando crianças, famílias e educadores a reconhecer, nomear e enfrentar os perigos da internet.

Cunha afirma que a primeira recomendação é sempre o diálogo, para relatar os riscos da internet de maneira clara. Além disso, é impressindivel o acompanhamento dos pais para saber quais plataformas eles usam, com quem conversam e que tipo de conteúdo acessam.

“Mas acima de tudo, é preciso criar um ambiente de confiança, onde a criança e o adolescente se sintam seguros para contar, se algo estranho acontecer. A exploração sexual online se alimenta do silêncio e da vergonha — e é nosso papel romper esse ciclo com informação, presença e afeto", pontua.

Acesse a cartilha da campanha.

Metade dos adolescentes brasileiros já sofreu violência sexual online

Em 2024, o ChildFund lançou o estudo Mapeamento dos Fatores de Vulnerabilidade de Adolescentes Brasileiros na Internet, que revelou dados alarmantes no Brasil:

  • 54% dos adolescentes brasileiros já sofreram algum tipo de violência sexual online — cerca de 9,2 milhões de jovens, com ou sem interação direta de um agressor;
  • Apenas 35% dos adolescentes recebem supervisão parental;
  • 94% dos adolescentes não sabem como proceder em caso de violência sofrida;
  • Com o aumento da idade, cresce o tempo de uso da internet e o risco de exposição — jovens de 17 e 18 anos têm até 1,3 vezes mais chances de sofrer violência online do que adolescentes de 15 anos.

Caso Hytalo Santos

Natural de Cajazeiras, Sertão paraibano, Hytalo dava aulas de dança em uma praça da cidade, e publicava vídeos dançando nas redes sociais.

A carreira do influenciador decolou quando ele conheceu uma menina de 12 anos, os dois se juntaram e passaram a postar vídeos juntos na internet, as visualizações e números só aumentaram com a aparição da menor dançando. Ela foi a primeira a aparecer com Hytalo, e esse foi o começo do que futuramente seria a “Turminha do Hytalo”.

O Domingo Espetacular conversou com uma das protagonistas dessa história, seu nome e imagem foram preservados por ser menor de idade.

“Eu era fã dele, quando ele morava em Cajazeiras. Eu sempre gostei de dançar. Nunca teve negócio de exploração, nunca teve. Eu sou assim, eu gosto de dançar, entendeu? Eu gosto de viver minha vida. Só queria viver minha vida em paz com ele, só”, explicou a adolescente, em defesa de Hytalo.

Santos apadrinhava crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social, e se portava como pai e “salvador” delas.

Os menores eram chamados de “filhos” pelo influenciador, se emancipavam e se mudaram para mansão onde os conteúdos eram gravados. Em troca disso, Hytalo dava suporte financeiro às famílias biológicas, como se fosse uma troca justa.

Os conteúdos publicados funcionavam como uma espécie de reality show, a rotina da casa era gravada e postada em tempo real para os milhares de seguidores.

As apresentações contavam com vídeos da turma em festas, adolescentes dormindo juntos em uma cama, danças com cunho sexual, e até a recuperação da cirurgia de silicone de uma adolescente de 16 anos.

Prisão e acusações de Hytalo

O influenciador e seu companheiro, Israel Vicente (conhecido como Euro) foram presos no dia 15 de agosto pela polícia de São Paulo, que cumpriu um mandado de prisão do Ministério Público da Paraíba.

Encontrados em uma mansão em Carapicuíba, foram levados para o DEIC, o Departamento Estadual de Investigações Criminais de São Paulo sob acusações graves, como tráfico de pessoas, exploração sexual e trabalho infantil. A decisão também menciona a produção de conteúdo pornográfico que seria comercializado em redes privadas e ocultas.

As denúncias não começaram agora. Hytalo é investigado pelo Ministério Público desde dezembro de 2024, depois que vizinhos denunciaram festas com menores de idade na casa do influenciador, na Paraíba.

Depoimento dos pais

O DE conversou com exclusividade com os pais biológicos da adolescente. O casal é divorciado e divide opiniões diferentes sobre a situação da filha. A identidade dos dois foi preservada.

A exposição da filha preocupa o pai desde 2019, quando denunciou a exploração da imagem da filha ao Conselho Tutelar. “Da primeira vez em que eu fui ao Conselho Tutelar, Ministério Público, delegacia, não tinha acontecido isso não (mobilização dos órgãos da Justiça). Toda vez que eu ia atrás, eles respondiam “é porque a Justiça é lenta”.

A mãe apoiava a filha, tanto que abandonou seu emprego e vendeu a casa da família em Cajazeiras: “Vendi minha casa, que eu tinha lá. Abandonei meu emprego e fui viver a vida com ela, realizar o sonho dela. E eu nunca vi nada demais”.

Ela discorda das acusações contra Hytalo Santos: “Não concordo com nada sobre isso. Como ela está sendo adultizada se ela teve infância? Me explique? Eu quero saber qual foi a ilegalidade que encontraram dentro da minha casa, e com minha filha”.

Proteção infantil e denúncia do Ministério Público

Na denúncia do Ministério Público, Hytalo Santos é investigado por produzir conteúdo vexatório, inadequado e impróprio, com evidente conotação de erotização e sexualização de adolescentes.

Sérgio Bautzer, professor e especialista no Estatuto da Criança e do adolescente, explica: “Você não pode, em nome da liberdade de expressão, por exemplo, violar a intimidade de uma criança e de um adolescente. Você não pode, em nome da liberdade de expressão, submeter uma criança ou adolescente a uma situação vexatória, humilhante, degradante, até de cunho sexual, mesmo que de maneira implícita”.

O MP ainda sustenta que há crime de violência sexual contra os menores de idade, por meio da exposição do corpo em fotos e vídeos para a obtenção de vantagem financeira. A investigação aponta que tudo acontecia com o consentimento dos responsáveis legais, em troca de valores mensais, celulares, e imóveis.

Perguntas e respostas

Qual é o resultado da pesquisa da ONG ChildLight sobre exploração sexual de crianças online?

A pesquisa revelou que, nos últimos 12 meses, mais de 300 milhões de crianças em todo o mundo foram vítimas de exploração ou abuso sexual online, o que representa aproximadamente 13 em cada 100 crianças expostas a esse tipo de crime.

Quais são os dados sobre a faixa etária das vítimas?

Um estudo da Internet Watch Foundation indica que cerca de 70% das vítimas desse tipo de material têm menos de 12 anos.

O que é grooming e qual a sua relevância na pesquisa?

Grooming é uma prática criminosa em que um adulto ou adolescente estabelece contato com uma criança ou adolescente pela internet com a intenção de abuso e exploração sexual. Essa prática representa mais de 50% das denúncias de violência sexual digital, afetando principalmente meninas entre 11 e 17 anos.

Qual é a campanha lançada pelo ChildFund e qual o seu objetivo?

A campanha internacional “Os Monstros na Internet São Reais” foi lançada em seis países da América Latina, incluindo Brasil, México e Equador. O objetivo é reforçar a proteção online, utilizando relatos reais, vídeos impactantes e materiais educativos para ajudar famílias e educadores a identificar e prevenir riscos digitais.

Quem é Hytalo Santos e qual a sua relação com a exploração de crianças?

Hytalo Santos, natural de Cajazeiras, Paraíba, era um influenciador que ganhou notoriedade ao postar vídeos de dança com uma menina de 12 anos. Ele apadrinhava crianças em situação de vulnerabilidade social e era acusado de explorar suas imagens e promover conteúdos inadequados.

Quais foram as acusações contra Hytalo Santos e seu companheiro?

Hytalo Santos e seu companheiro, Israel Vicente, foram presos sob acusações de tráfico de pessoas, exploração sexual e trabalho infantil, além da produção de conteúdo pornográfico que seria comercializado em redes privadas e ocultas.

Como os pais da adolescente envolvida reagem à situação?

Os pais da adolescente têm opiniões divergentes. O pai expressou preocupação com a exposição da filha desde 2019, enquanto a mãe apoiou a filha e defendeu Hytalo, questionando as acusações e afirmando que não viu nada de errado na relação.

O que diz o Ministério Público sobre a situação?

O Ministério Público investiga Hytalo Santos por produzir conteúdo inadequado e impróprio, com conotação de erotização e sexualização de adolescentes. A investigação aponta que as exposições ocorreram com o consentimento dos responsáveis legais, em troca de benefícios financeiros.

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