Forças lideradas pela Rússia iniciam retirada do Cazaquistão
Contingente militar foi enviado após os violentos protestos que deixaram dezenas de mortos e centenas de feridos no país
Internacional|Do R7
O contingente militar liderado pela Rússia iniciou, nesta quinta-feira (13), sua retirada do Cazaquistão, para onde havia sido enviado após os violentos distúrbios na ex-república soviética da Ásia Central.
Uma cerimônia solene de partida reunindo os soldados da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC) - uma aliança militar liderada por Moscou - ocorreu pela manhã em Almaty, a principal cidade do Cazaquistão, segundo jornalistas da AFP.
"A operação de manutenção da paz acabou (...), as tarefas foram cumpridas", declarou o general russo Andrei Serdiukov, comandante do contingente composto por 2.030 soldados russos, bielorrussos, armênios, tadjiques e quirguizes.
Esses homens foram enviados para a ex-república soviética em 6 de janeiro e devem concluir sua partida até 22 de janeiro, segundo o CSTO e as autoridades cazaques.
De acordo com o Ministério russo da Defesa, os militares começaram "a preparar o equipamento militar e técnico para ser carregado em aeronaves da Força Aérea russa para retornar à sua base permanente".
Eles também começaram a entregar às forças de segurança do Cazaquistão as infraestruturas e os prédios que guardavam há vários dias.
Além disso, o aeroporto de Almaty, fechado desde a semana passada após ser saqueado, recebeu seu primeiro voo civil nesta quinta-feira.
O Cazaquistão foi abalado na semana passada por uma violência nunca vista desde sua independência em 1991. Os acontecimentos deixaram dezenas de mortos e centenas de feridos, motivaram a mobilização do contingente militar e levaram à prisão de pelo menos 12 mil pessoas.
Luta pelo poder
Os episódios de violência mais graves ocorreram em Almaty - com trocas de tiros, saques de lojas e o incêndio da prefeitura e da residência presidencial.
Até então, o Cazaquistão se orgulhava de sua estabilidade. Os distúrbios foram qualificados como uma agressão "terrorista" estrangeira pelo presidente Kassym-Jomart Tokaiev, que, no entanto, não forneceu provas concretas nesse sentido. Foi com base nessa afirmação, que pediu o apoio dos soldados estrangeiros.
A violência, porém, eclodiu após manifestações em 2 de janeiro contra o aumento dos preços dos combustíveis, tendo como pano de fundo anos de declínio nos padrões de vida e corrupção endêmica entre as elites do país.
A versão dos fatos apresentada pelas autoridades cazaques recebeu o apoio do presidente russo, Vladimir Putin, e de outros países da região.
As autoridades ainda não publicaram um balanço preciso desses eventos, enquanto manifestantes e policiais entraram em confronto com armas automáticas, sugerindo um número muito alto de vítimas.
No âmbito desses confrontos, o presidente do Cazaquistão também lançou uma ofensiva contra seu poderoso antecessor Nursultan Nazarbayev, bem como seus aliados e membros de sua família que controlam setores inteiros da economia e continuam muito influentes nos mistérios do regime.
Assim, acusou seu padrinho político de ter favorecido o surgimento de uma "casta rica", uma crítica inédita a quem detém o título honorário de "Chefe da Nação".
O presidente cazaque, que passou toda a sua carreira à sombra de seu mentor, também anunciou que a elite rica terá que fornecer um fundo destinado a "pagar um tributo" à população cazaque.
Um dos aliados de Nazarbayev, Karim Massimov, também foi preso no sábado por alta traição após ser demitido como chefe do serviço secreto.