Sudão do Sul chega a acordo de paz, mas medo ainda prevalece

Presidente assinou tratado com grupos rebeldes no país para acabar com conflito que já matou pelo menos 50 mil, mas cidades continuam inseguras

Internacional|Do R7

17/09/2018 - 05h05 (Atualizado em 19/04/2024 - 16h18)

Na última quarta-feira (12), o presidente do Sudão do Sul,
Salva Kiir, assinou um acordo de paz com os grupos rebeldes no país para acabar
com a guerra civil que já matou pelo menos 50 mil pessoas. A população que
fugiu de Malakal — segundo maior município do país, um antigo centro comercial
que hoje vive como uma cidade-fantasma —, entretanto, ainda tem medo de voltar. As informações são da agência de notícias Reuters

Uma dos ex-moradoras de Malakal é Josephine Adiemis, de 42 anos, que hoje vive com sua família de oito pessoas em um assentamento de refugiados da ONU (Organização das Nações Unidas). Ela não pensa em voltar tão cedo — ladrões podem ter invadido sua casa em meio ao caos da guerra civil. "Não há paz ainda. Se eu voltar antes da implementação do acordo de paz, posso ser morta pela pessoa que se infiltrou em minha casa", diz

Simon
Pakuang, de 63 anos, também fugiu de uma aldeia nas proximidades de Malakal.
"Os combates começaram e muita gente foi morta. Por isso fugimos",
afirmou Pakuang, que hoje mora em uma tenda — assim como as outras 25 mil
pessoas no assentamento

A violência eclodiu na região de Malakal em 2015 — dois anos
após o início da guerra no Sudão do Sul, que começou depois da independência do
Sudão. Uma disputa política entre Salva Kiir e o então vice-presidente Riek
Machar foi o que levou ao confronto armado

As
estimativas dão conta de que pelo menos um quarto da população de 12 milhões de
pessoas do Sudão do Sul foi deslocada em decorrência da guerra civil. A
economia do país, baseada na produção de óleo cru, também foi seriamente
arruinada. Malakal, que era um antigo centro comercial onde as mercadorias
embarcavam para o Sudão, é hoje ocupada por carcaças de carros, igrejas e
escolas abandonadas

Hazel
de Wet, uma das dirigentes do assentamento para refugiados da ONU perto de Malakal,
disse que o campo foi planejado como uma medida temporária. Ela encara as
perspectivas de paz na região com cautela. Antes que a população retorne para Malakal
e as aldeias vizinhas, é preciso implementar medidas de segurança pública, na
opinião de Hazel

Já Peter
Aban Amon, ministro da Informação na região do Alto Nilo, está encorajando as
pessoas a voltarem para casa. “Malakal é bem administrada pelo governo, que
agora está funcionando", disse ele, acrescentando que a cidade já
registrou um leve crescimento populacional nos últimos dois anos

A paisagem em Malakal, entretanto, dá indícios de alguns dos motivos pelos quais a população não quer retornar: o mercado local está abandonado, enquanto o comércio no assentamento da ONU é abastecido com peixes frescos trazidos do rio Nilo

Malakal foi o centro de inúmeras batalhas entre o governo e
grupos rebeldes. A administração municipal trocou de mãos várias vezes — e a
cidade foi completamente destruída neste processo

Um dos ex-moradores, Pakuang, visitou a aldeia onde morava
nas proximidades de Malakal no último mês de maio. Ele se surpreendeu ao
encontrar a própria casa habitada por desconhecidos – e não simplesmente destruída
em meio ao fogo cruzado. Os ocupantes chegaram a perguntar se ele gostaria ter
sua residência de volta, mas ele disse que não pretende voltar até se sentir
seguro: “Eu apenas pedi que a mantivessem limpa e não a destruíssem”, afirmou à
Reuters

Na última quarta-feira (12), o presidente do Sudão do Sul, Salva Kiir, assinou um acordo de paz com os grupos rebeldes no país para acabar com a guerra civil que já matou pelo menos 50 mil pessoas. A população que fugiu de Malakal — segundo maior município do país, um antigo centro comercial que hoje vive como uma cidade-fantasma —, entretanto, ainda tem medo de voltar. As informações são da agência de notícias Reuters

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