Golfinhos colocam esponjas no bico para se proteger durante caça na Austrália; assista
Considerada rara, técnica de proteção para caçar no fundo do mar é passada de mães para filhos
Internacional|Do R7
Golfinhos-nariz-de-garrafa da Baía dos Tubarões, na Austrália, foram observados utilizando uma técnica única para caçar: eles colocam esponjas marinhas no bico para protegê-lo de pedras afiadas enquanto remexem o fundo arenoso em busca de peixes escondidos.
O comportamento, detalhado em uma pesquisa publicada na terça-feira (15) na revista científica Royal Society Open Science, é transmitido exclusivamente das mães para os filhos. Um vídeo divulgado na internet mostra a prática (veja abaixo).
Essa técnica, chamada de “esponjamento”, exige grande habilidade, já que a esponja interfere na ecolocalização – o sistema de orientação dos golfinhos baseado em sons e ecos –, segundo os pesquisadores.
“É como caçar de olhos vendados. É preciso ser muito bom e muito bem treinado para fazer com eficiência”, disse Mauricio Cantor, biólogo marinho da Universidade Estadual do Oregon, nos Estados Unidos, à agência de notícias Associated Press (AP).
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Segundo Mauricio, a esponja abafa os sinais sonoros, distorcendo as ondas acústicas, o que força os golfinhos a compensarem essa limitação com precisão.
A autora principal do estudo, Ellen Rose Jacobs, bióloga marinha da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, utilizou microfones subaquáticos para confirmar que os golfinhos continuam emitindo cliques de ecolocalização mesmo com a esponja no bico.
Modelos acústicos revelaram que o som se distorce ao atravessar a esponja, tornando a caça ainda mais desafiadora. “Tem um efeito abafador, como uma máscara”, comparou Jacobs.
Apenas cerca de 5% da população de golfinhos estudada na baía, equivalente a aproximadamente 30 indivíduos, domina essa técnica. Os filhotes passam de três a quatro anos observando e aprendendo com suas mães, de acordo com os pesquisadores.
“É um conhecimento que exige dedicação para ser adquirido, e muitos simplesmente desistem no caminho”, disse Janet Mann, ecóloga marinha da Universidade de Georgetown, nos EUA, e coautora do estudo.
Os “esponjadores” formam grupos específicos dentro da população da baía, e o comportamento é considerado um exemplo raro de tradição cultural entre animais. “A delicada arte de caçar com esponjas é passada apenas de mãe para filho”, destacou Mann.
Para Boris Worm, ecologista marinho da Universidade Dalhousie, no Canadá, a raridade do comportamento se explica pela dificuldade. “Nem todos persistem nessa habilidade especial de caça”, disse à AP.
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