Governo peruano não se pronuncia após dissolução do Congresso
Após um dia caótico, o presidente Martín Vizcarra passou a terça-feira sem se pronunciar sobre o fechamento do Congresso e seu possível afastamento
Internacional|Da EFE

Um dia após a dissolução do Congresso do Peru e a convocação de novas eleições parlamentares, decretadas pelo presidente Martín Vizcarra, o governo do país passou a terça-feira sem se pronunciar sobre a medida, os opositores não esconderam o descontentamento, e a população mantém a expectativa sobre os próximos acontecimentos da novela política.
A terça-feira foi mais movimentada nas análises política e legal sobre a medida tomada pelo governo, que está aberta a várias interpretações sobre constitucionalidade, e portanto, para muitos analistas, deveria ser revisada pelo Tribunal Constitucional.
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Da mesma forma, as medidas tomadas contra o governo pelos legisladores opositores — que se negaram a aceitar a dissolução do Congresso e a convocação de eleições — também exigem interpretação legal. Entretanto, nenhum dos lados solicitou formalmente uma revisão sobre o caso à suprema corte.
Nos arredores do Palácio Legislativo, em Lima, foi montado um esquema especial de segurança, mas o clima reinante foi de tranquilidade, assim como no resto da capital do país.
O que o governo fez?
O presidente Martín Vizcarra passou o dia no Palácio do Governo, no centro de Lima, reunido com o novo primeiro-ministro, Vicente Zeballos, debatendo uma nova composição ministerial.
Não houve novas referências à dissolução do Congresso, nem qualquer outra declaração pública, e só se foram captadas imagens de ministros e ex-ministros entrando e saindo do Palácio.
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Um dos que passaram pelo local foi Pedro Cateriano, primeiro-ministro durante o mandato presidencial de Ollanta Humala. Também esteve por lá o ex-ministro da Economia do governo Alan García, Luis Carranza. Com isso, ambos entraram nas apostas como possíveis novos ministros de Vizcarra.
Também se soube que todos os atuais ministros, assim como ontem fez o ex-primeiro-ministro Salvador del Solar, apresentaram formalmente pedidos de renúncia, aceitos parcialmente. No entanto, a relação definitiva de qual será a nova equipe do governo não foi divulgada.
De forma paralela, vários governadores e prefeitos manifestaram ao longo do dia apoio à posição adotada por Vizcarra de dissolver o Congresso.
O que a oposição fez?
O ambiente combativo com o qual ontem à noite os congressistas opositores terminaram a segunda-feira — tanto os políticos fujimoristas como de outros partidos de direita e extrema direita — se diluiu nesta terça-feira, dando lugar a um cenário de tristeza diante das poucas opções restantes.
Os opositores não receberam apoio maior que o da entidade patronal Confiep, e os esforços para despertar alguma simpatia internacional por enquanto foram nulos.
Um ferrenho esquema policial bloqueou durante o dia os acessos ao Palácio Legislativo, ao qual só tiveram acesso os deputados que formam a comissão permanente do Congresso, que não foi dissolvida, e os funcionários administrativos.
Do lado de dentro, só atuaram os mais combativos, como o presidente do Congresso, Pedro Olaechea, e a fujimorista Rosa Bartra. Reclusos no edifício, eles não recuaram no empenho em criticar a dissolução da Casa como um "golpe de Estado" e Vizcarra como um "ditador", chegando a acusá-lo de ter enviado manifestantes para acossá-los e de estar iniciando um regime de "comunismo chavista".
Olaechea participou de uma reunião com a imprensa estrangeira credenciada em Lima e lá repetiu essas ideias, além de ter reforçado a recusa em participar da Comissão Permanente. Depois, ele convocou uma sessão para a quarta-feira, com o objetivo de "encontrar soluções democráticas diante da crise de poderes".
A grande ausente do dia foi a vice-presidente Mercedes Aráoz, que ontem à noite foi empossada no Congresso como "presidente interina". Ela se limitou a dar entrevistas, em casa, a veículos de imprensa estrangeiros, visivelmente nervosa e se definindo como "vice-presidente a serviço do país".
Aráoz foi denunciada nesta terça-feira no Ministério Público do país pelo crime de usurpação de funções, assim como Olaechea e a porta-voz fujimorista Milagros Salazar pelas ações que tomaram para enfrentar a dissolução do Congresso.
