Grupo rebelde M23 declara cessar-fogo no Congo após centenas de mortes
Governo congolês promete “resposta vigorosa” enquanto acusa Ruanda de apoiar insurgentes
Internacional|Do R7

O grupo rebelde M23 anunciou um cessar-fogo unilateral a partir desta terça-feira (4) no leste da República Democrática do Congo (RDC) depois que confrontos com militares congoleses deixaram centenas de mortos.
A decisão foi divulgada na noite de segunda-feira (3) em um comunicado da coalizão Alliance Fleuve Congo (AFC), que inclui o M23. O texto diz que o cessar-fogo ocorre por “razões humanitárias” enquanto o grupo aguarda negociações previstas para o próximo fim de semana.
Os rebeldes, acompanhados de tropas ruandesas, tomaram o controle da cidade de Goma, capital da província de Kivu do Norte, na semana passada. A OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que pelo menos 900 pessoas morreram e outras 2.800 ficaram feridas desde então.
A instabilidade também levou à morte de soldados estrangeiros das forças de paz e do governador militar da província, Peter Cirimwami. Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), mais de 6 milhões de pessoas foram deslocadas da região por causa dos combates.
O Congo e grande parte da comunidade internacional acusam Ruanda de apoiar o M23. Especialistas da ONU estimam que cerca de 4 mil soldados ruandeses estejam lutando ao lado dos rebeldes em Kivu do Norte.
O presidente congolês Felix Tshisekedi alega que Ruanda busca explorar os ricos recursos naturais da região, como ouro, tântalo e estanho, utilizados na fabricação de baterias e dispositivos eletrônicos. O líder ruandês, Paul Kagame, nega as acusações.
Kagame disse em entrevista à emissora norte-americana CNN na segunda-feira que desconhece a presença de tropas ruandesas na região. Tshisekedi prometeu uma “resposta vigorosa e coordenada” contra o M23, classificando o grupo como um “fantoche” de Ruanda.
Ainda não está claro se o exército congolês aceitará a trégua. Intervenções anteriores que tentaram acabar com o conflito falharam, e a instabilidade continua ameaçando a população do leste do Congo.
Ataque à embaixada do Brasil
A Embaixada do Brasil em Kinshasa, capital da RDC, foi atacada na última terça-feira (28) em meio a protestos contra os conflitos em Goma.
Manifestantes, revoltados com o avanço do grupo rebelde M23 e com o que chamam de conivência de nações estrangeiras diante da situação, também atacaram as embaixadas dos Estados Unidos, França, Bélgica e Ruanda.
O Itamaraty disse que os servidores “não foram atingidos nesse incidente” e que a bandeira brasileira “foi retirada e levada pela multidão”. A pasta também disse confirmar que o governo congolês atuará para conter a crise.
Ainda na terça, o tenente-general do Exército Brasileiro, Ulisses de Mesquita Gomes, foi nomeado como novo comandante da força de estabilização da ONU no país.
Ao todo, 22 militares brasileiros participam da missão, dos quais cinco permanecem em Goma, segundo o Exército.
O que está por trás do conflito?
O Congo sofre há décadas com a violência causada por milícias como o M23. O grupo é formado majoritariamente por combatentes tutsis, que dizem que a ofensiva na região é necessária para defender os interesses da comunidade minoritária de sua etnia.
Desde 2022, os rebeldes têm intensificado investidas contra o país. Eles acusam o governo congolês de não cumprir um acordo de paz firmado entre ambos, em 2009, e de não integrar totalmente os tutsis ao exército e à administração nacionais.
A ofensiva em Goma também é justificada pelo M23 como uma resposta à ameaça de milícias étnica hutus, especialmente as Forças Democráticas para a Libertação de Ruanda (FDLR).
A FDLR foi fundada por hutus que fugiram de Ruanda após participarem do genocídio de 1994. O episódio deixou quase um milhão de tutsis e hutus moderados mortos em meio à guerra civil vivida pelos ruandeses.
Hoje, o M23 é responsável por controlar grande parte da província de Kivu do Norte, da qual Goma é a capital e que faz fronteira com Ruanda.