O cenário atual evidencia mais uma vez a forma desproporcional e, muitas vezes, enviesada com que Israel é tratado no cenário internacional. Enquanto as operações militares israelenses para resgatar reféns são amplamente condenadas, pouco se fala sobre o direito legítimo do país de proteger seus cidadãos e enfrentar um grupo terrorista que mantém civis como escudos humanos. O foco das críticas recai quase exclusivamente sobre Israel, enquanto a conduta do Hamas, que deliberadamente viola leis internacionais ao sequestrar e esconder reféns, recebe muito menos atenção. Essa disparidade levanta questionamentos sobre a real preocupação da comunidade internacional com direitos humanos e justiça, especialmente quando não há reconhecimento explícito de que Israel está agindo dentro do seu direito de soberania e autodefesa.Outro aspecto negligenciado é o papel do Egito na crise humanitária em Gaza. Desde o início do conflito, a passagem de Rafah, controlada pelos egípcios, permaneceu praticamente fechada para a entrada de ajuda humanitária, mas esse fato raramente é mencionado nos debates internacionais. Em vez disso, a pressão recai quase inteiramente sobre Israel, como se fosse o único responsável pelo bloqueio, ignorando que o Egito, um país árabe vizinho, também tem mantido restrições severas. Essa omissão seletiva sugere que a narrativa predominante não é pautada exclusivamente por preocupações humanitárias, mas sim por interesses políticos que, em muitos casos, acabam por reforçar uma visão distorcida e ideológica da realidade do conflito.A atuação da ONU e, em especial, da UNRWA, também levanta sérias preocupações. Diversos relatórios e investigações demonstraram que essa agência tem sido conivente com o Hamas, seja por empregar membros do grupo terrorista, seja pelo desvio de recursos para a construção de túneis e compra de armamentos. Apesar dessas evidências, a ONU mantém uma postura crítica quase unilateral contra Israel, o que mina sua credibilidade como entidade neutra. Ao longo dos anos, essa parcialidade tem alimentado a narrativa de que Israel seria o principal culpado pelo conflito, enquanto organizações ligadas ao terrorismo são, muitas vezes, tratadas como vítimas.Essa disparidade de tratamento reforça um padrão histórico de julgamento diferenciado contra Israel, que frequentemente se confunde com antissemitismo. A legitimidade da existência do Estado judeu e sua necessidade de defesa são questionadas de uma forma que não ocorre com outros países em situações de guerra ou terrorismo. No Brasil, essa postura se reflete em uma diplomacia que, historicamente, adotou posições contrárias a Israel, mas que, nos últimos tempos, tenta se posicionar como crítica ao governo israelense em vez de reconhecer o direito do país de agir contra ameaças existenciais. Essa seletividade nas condenações e no discurso diplomático apenas perpetua a sensação de que, quando se trata de Israel, as regras aplicadas são sempre diferentes. Quem sabe isto traduza os últimos relatórios apresentados pela nossa política externa que na minha visão decepciona um histórico de equilíbrio e multilateralismo. A ideologia presente em tudo, lamentavelmente.*Cláudio Luiz Lottenberg é médico oftalmologista e presidente da Confederação Israelita do Brasil (CONIB)