Morte, trabalho forçado, lesões e tortura: as histórias de americanos presos na Coreia do Norte
Turistas, acadêmicos e jornalistas dos Estados Unidos ficaram sob a custódia do regime autoritário de Kim Jong-un; um deles morreu
Internacional|Do R7
Os Estados Unidos, o maior inimigo declarado da Coreia do Norte, tiveram ao longo dos últimos anos vários de seus cidadãos presos naquele país, considerado o mais fechado do mundo. Entre eles estão turistas, acadêmicos e jornalistas. Para os americanos, viajar para a Coreia do Norte não é só uma tarefa difícil e burocrática, mas também perigosa.
Em 2017, o governo dos Estados Unidos proibiu seus cidadãos de viajar para a Coreia do Norte, medida que foi estendida até, pelo menos, agosto deste ano. A decisão foi tomada em 2017, depois do caso do estudante americano Otto Warmbier, que foi preso no país asiático, em 2016, e morreu meses depois.
Em 2 de janeiro de 2016, um tribunal norte-coreano condenou Warmbier, que viajava pela Coreia do Norte a turismo, a 15 anos de prisão com trabalhos forçados, sob a acusação de tentativa de roubo de um cartaz de propaganda. Logo após a sentença, ele sofreu uma lesão neurológica, sob circunstâncias pouco claras, e foi libertado, gravemente doente.
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Warmbier morreu em junho de 2017, 17 meses após sua prisão e recém-chegado ao país de origem. Segundo o relato do pai ao jornal The Washington Post, ele estava cego, surdo e com a cabeça raspada, e seus braços e pernas estavam "totalmente deformados". O homem acredita que o filho tenha sido "sistematicamente torturado" pelo regime do líder norte-coreano, Kim Jong-un.
O caso de Otto foi, de longe, o mais marcante e trágico dentre as histórias de americanos que foram presos na Coreia do Norte, mas não foi o único. O primeiro episódio notável de americanos detidos no país asiático ocorreu há mais de dez anos, em 2009, com as jornalistas Euna Lee e Laura Ling.
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Em março daquele ano, Euna e Laura foram presas ao viajarem — ilegalmente — pela Coreia do Norte para filmar um documentário sobre as condições humanitárias na fronteira da China com a nação comunista. À época, ambas trabalhavam na rede de televisão americana Current TV, da qual Al Gore, então vice-presidente de Bill Clinton, é um dos fundadores.
Eura e Ling entraram em território norte-coreano sorrateiramente, a partir da China, e foram condenadas a 12 anos de trabalhos forçados por ter cruzado a fronteira sem autorização, "denegrido o regime" e ter cometido um "crime grave", não especificado pelos juízes. Meses depois, em agosto, elas foram libertadas, após uma visita não anunciada de Clinton a Pyongyang, a capital da Coreia do Norte.
Outro caso impactante que envolveu um americano na Coreia do Norte foi o do missionário cristão evangélico Kenneth Bae, preso em novembro de 2012. Ele ficou dois anos encarcerado e foi o americano que passou mais tempo detido sob a custódia da Coreia do Norte.
Bae esteve na Coreia do Norte várias vezes e em todas elas havia passado despercebido pelas autoridades. Mas, naquela ocasião, foi flagrado com "material cristão" e condenado a 15 anos de prisão com trabalhos forçados, com a mídia estatal sugerindo que ele só escapou da pena de morte por ter feito uma "confissão sincera". O cristianismo é visto como inimigo do Estado norte-coreano, e os poucos cristãos que vivem no país têm que permanecer incógnitos.
Bae foi libertado em 2014, após uma visita secreta do diretor de Inteligência Nacional James Clapper a Pyongyang, e voltou para os Estados Unidos com o professor americano Mathew Miller, à época com 24 anos. Miller, outra vítima do governo repressor de Kim Jong-un, foi detido pelas autoridades norte-coreanas em setembro daquele ano, sob a acusação de ter praticado atos de espionagem, e condenado a seis anos de prisão com trabalhos forçados.
Em entrevistas antes e depois de sua libertação, Miller afirmou que passava grande parte do tempo cavando nos campos, movendo pedras e arrancando ervas daninhas, mas, fora isso, era mantido em isolamento estrito. As autoridades norte-coreanas alegam que ele chegou a admitir ter a "ambição selvagem" de explorar o país e investigar as condições de lá.
Em uma entrevista específica, Miller disse ainda que "estava tentando ficar no país", mas as autoridades queriam que ele fosse embora. Ele contou que acabou "mudando de ideia" sobre a busca de asilo e pediu ajuda ao governo dos Estados Unidos. O jovem foi solto no mês seguinte à sua prisão, em outubro de 2014.
Zona Desmilitarizada
Em outubro de 2018, a Coreia do Norte prendeu o americano Bruce Byron Lawrence, à época com 60 anos, depois de ele ter cruzado a fronteira entre as Coreias na Zona Desmilitarizada — faixa de terra que separa os dois países — e entrado ilegalmente em território norte-coreano. O local histórico, criado pela ONU, em 1953 (ano em que um cessar-fogo interrompeu a guerra entre as Coreias), recebe centenas de visitantes todos os dias, mas sempre do lado sul-coreano. Ultrapassar a linha de demarcação é expressamente proibido e perigoso.
Lawrence foi libertado cerca de um mês depois de sua detenção, no que as autoridades dos Estados Unidos acreditam ter sido um esforço diplomático de Kim Jong-un para melhorar as relações com o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump — com quem ele mantém uma curiosa relação de amizade, apesar das diferenças ideológicas. Em 2019, Trump se reuniu com Kim Jong-un na Zona Desmilitarizada, ocasião em que cruzou a linha de demarcação e entrou em território norte-coreano.
Mais recentemente, no dia 18 de junho deste ano, um militar americano, identificado como Travis King, seguiu os passos de Lawrance e também ultrapassou voluntária e ilegalmente a fronteira que separa as duas Coreias, dentro da Zona Desmilitarizada. Ele foi detido pelas autoridades norte-coreanas, e os Estados Unidos afirmam não ter recebido notícias de King desde então.
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