O príncipe Andrew mantinha um canal direto de comunicação com o presidente da China, Xi Jinping, e contava com o apoio de um suposto espião chinês para redigir as cartas enviadas ao líder, segundo depoimento de seu ex-conselheiro, Dominic Hampshire, revelado por documentos judiciais tornados públicos na sexta-feira (4).Hampshire, que trabalhou com o duque de York entre 2019 e 2022, afirmou à Comissão Especial de Apelações de Imigração (SIAC, na sigla em inglês) que Andrew enviava regularmente cartas de cortesia ao presidente chinês, inclusive todos os anos por ocasião de seu aniversário. Segundo ele, a prática era “conhecida, aceita e, talvez, até encorajada” pelo Palácio de Buckingham e pela própria rainha Elizabeth 2ª, morta em setembro de 2022.“Era um canal aberto de comunicação que era útil ter”, declarou o ex-conselheiro. As cartas, segundo ele, eram elaboradas com apoio de Yang Tengbo, também conhecido como Chris Yang, que orientava sobre o tom e a linguagem culturalmente apropriada.Yang foi expulso do Reino Unido por razões de segurança nacional em março de 2023 pela então secretária do Interior, Suella Braverman. Em decisão mantida pela SIAC, os juízes classificaram Yang como “confidente próximo” de Andrew, com um nível de confiança “incomum” dentro da casa real. Ele nega ter cometido qualquer irregularidade e afirma que recorrerá da decisão.Hampshire, que disse conhecer o príncipe há duas décadas, defendeu a utilidade diplomática de Andrew: “Se hoje o governo do Reino Unido ou o palácio dissessem que alguém precisa falar com o presidente chinês, acho que o duque seria capaz de fazer isso. Não vejo outra pessoa com esse acesso.”Segundo ele, a figura do duque era vista como “profundamente confiável” nos círculos internos da realeza e chegou a participar de duas reuniões com o rei Charles 3º no ano passado para discutir seu futuro papel e fontes de renda independentes, após seu afastamento dos deveres oficiais.Entre as ideias apresentadas nessas reuniões estava o Eurasia Fund, um projeto de investimentos para energia renovável na África que envolvia Andrew e Yang, mas que nunca foi concretizado. O Palácio de Buckingham confirmou as reuniões, mas afirmou que o nome de Yang “não foi mencionado em nenhum momento”. A realeza também negou qualquer tipo de endosso ou aprovação formal do rei ao fundo.Hampshire também abordou o impacto devastador da entrevista do príncipe Andrew ao programa Newsnight, da BBC, em 2019, sobre sua ligação com o pedófilo condenado Jeffrey Epstein.“A reputação do duque tornou-se irrecuperável. Dentro do palácio, estava claro que precisaríamos buscar caminhos para o futuro de Andrew fora dos deveres reais”, afirmou.Um desses caminhos era o Pitch@Palace, iniciativa do duque voltada ao apoio de empreendedores, considerada um dos poucos sucessos incontestáveis de sua trajetória. Yang era cofundador da versão chinesa do projeto, e segundo Hampshire, permaneceu ao lado de Andrew mesmo após patrocinadores e apoiadores no Reino Unido se afastarem após o escândalo.Yang, em sua declaração à SIAC, afirmou que Andrew não tinha boa imagem na China antes de 2016, mas que o Pitch@Palace ajudou a consolidar sua reputação no país asiático. “Ele era bem visto nos círculos seniores e pela mídia chinesa. Depois da entrevista, sua reputação desmoronou.”Hampshire ainda revelou que foi procurado em 2022 pelo então secretário particular da rainha, Sir Edward Young, que questionou seu conhecimento sobre Yang, já sob investigação pelos serviços de segurança britânicos. Segundo o ex-conselheiro, sua resposta foi direta: “Chris Yang é praticamente nossa única avenida para o duque seguir em frente... Você tem um plano B? Sir Edward disse que não.”Mesmo assim, Hampshire sustentou que nunca percebeu comportamentos suspeitos por parte de Yang. “Nos cinco anos em que o conheci, nunca houve uma única bandeira vermelha. E o contato de Andrew com ele era limitado”, disse.Ele reforçou ainda que, uma vez aconselhado a cortar laços com Yang, o príncipe Andrew “obedeceu completamente” e “não recebeu qualquer financiamento, direta ou indiretamente, de pessoas ou entidades chinesas”.Fique por dentro das principais notícias do dia no Brasil e no mundo. Siga o canal do R7, o portal de notícias da Record, no WhatsApp