Resumindo a Notícia
- Presidente da África do Sul conseguiu escapar do processo de impeachment
- Com 214 votos contra e 148 a favor, processo parou no Congresso do país
- Cyril Ramaphosa é investigado após não reportar o roubo de R$ 3 milhões
- Polícia da África do Sul continua investigando o caso
Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, é investigado pela polícia do país
Daniel Leal/AFP - 23.11.2022O Parlamento da África do Sul votou nesta terça-feira (13) contra o lançamento de um processo de impeachment do presidente Cyril Ramaphosa, atormentado há meses por um escândalo de corrupção.
Depois de um debate acalorado, o partido no poder, o Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês), venceu a votação, com 214 votos contra o início do processo. Dois deputados se abstiveram, e 148 votaram a favor do processo.
O pedido de impeachment "não vai avançar", declarou a presidente do Parlamento, Nosiviwe Mapisa-Nqakula, após o voto dos deputados.
Ramaphosa, de 70 anos, é acusado de tentar esconder da polícia e do Fisco o roubo de uma grande quantia em dinheiro de uma das próprias propriedades.
A saída de Ramaphosa do poder poderia ter lançado o país mais industrializado da África em um período de alta instabilidade política.
A sessão extraordinária começou em meio à turbulência na Cidade do Cabo, depois que uma comissão independente disse que o presidente "pode" ser culpado de infrações graves e de má conduta.
Os deputados tiveram de decidir por maioria simples se dariam continuidade ao processo de impeachment de Ramaphosa. O presidente sobreviveu ao processo, graças à maioria do partido no Parlamento, com 230 das 400 cadeiras da Assembleia.
Além disso, na semana passada, Ramaphosa garantiu a confiança do próprio partido, depois de a direção nacional ter defendido derrubar qualquer tentativa de retirá-lo do poder. A decisão decepcionou alguns membros, que entenderam que a decisão foi imposta pela direção.
O ministro da Justiça, Ronald Lamola, rejeitou o relatório da comissão independente, dizendo que "não há evidências suficientes para destituir o presidente".
"O relatório da comissão estabeleceu um nível muito baixo para destituir um presidente em exercício", afirmou.
O presidente, que antes de entrar na política era um rico empresário, ficou imerso em um escândalo em junho, quando um ex-agente da Inteligência sul-africana apresentou uma denúncia contra ele à polícia.
Arthur Fraser alegou que Ramaphosa escondeu, em 2020, o roubo de vários milhões de dólares em uma luxuosa propriedade, onde ele cria gado raro. Também acusou o presidente de sequestrar os ladrões e comprar o silêncio do agente.
Uma investigação policial está em andamento, mas até agora Ramaphosa não foi acusado de nenhum crime e negou qualquer comportamento inadequado.
O presidente reconheceu o valor de US$ 580 mil (cerca de R$ 3 milhões), escondidos sob as almofadas do sofá de uma fazenda que possui, mas garantiu que o dinheiro veio do pagamento de um búfalo comprado por um empresário sudanês. Este confirmou a transação, em recentes entrevistas à imprensa britânica.
A decisão da liderança do partido de Ramaphosa de anular o pedido de impeachment decepcionou alguns membros do partido.
Alguns legisladores do ANC, incluindo Nkosazana Dlamini-Zuma, rival de Ramaphosa que é ministra do governo e ex-esposa de Zuma, desafiaram a recomendação do partido no momento da votação.
O antecessor de Ramaphosa, Zuma, pressionado por vários escândalos de corrupção, sobreviveu a várias moções de desconfiança durante o mandato, antes de ser forçado a renunciar pelo próprio partido em 2018.
Enquanto isso, a oposição mostrou uma frente unida.
Julius Malema, líder do segundo maior partido da oposição, os Combatentes da Liberdade Econômica, expressou "profunda decepção" em relação a Ramaphosa, considerado um "notório arquiteto" da Constituição sul-africana.
Em linguagem incomum, o político alegou que Ramaphosa agora está "mijando" no documento, chamando-o de "infrator constitucional".