Os maiores protestos na Turquia em mais de uma década tomaram as ruas de Istambul na noite de sábado (22) após a prisão do prefeito da capital turca, Ekrem Imamoglu, um dos principais opositores do atual presidente, Recep Tayyip Erdogan. Manifestantes acusam o governo de usar a máquina pública para silenciar a oposição e barrar uma possível candidatura de Imamoglu à presidência em 2028.Ekrem Imamoglu, prefeito de Istambul e integrante do Partido Republicano do Povo (CHP), foi detido no dia 19 de março sob acusações de corrupção e suposta colaboração com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), grupo considerado terrorista pelo governo turco, Estados Unidos e União Europeia. Além dele, mais de 100 pessoas foram presas, incluindo dois prefeitos distritais.A prisão ocorreu poucos dias antes de o CHP definir seu candidato presidencial, no momento em que Imamoglu despontava como o nome mais forte para desafiar Erdogan nas eleições de 2028. Opositores veem a ação como uma tentativa de minar a candidatura do prefeito. No dia anterior à prisão de Imamoglu, a Universidade de Istambul também revogou seu diploma, o que poderia torná-lo inelegível para concorrer à presidência.Desde quarta-feira (19), quando Imamoglu foi preso, os protestos se intensificaram e culminaram, no sábado (22), na maior manifestação já vista na Turquia desde as revoltas do Parque Gezi, em 2013. Em Istambul, milhares de manifestantes gritaram palavras de ordem em frente ao tribunal onde Imamoglu foi interrogado. Em Ancara e Izmir, a polícia respondeu com gás lacrimogêneo, spray de pimenta e canhões de água contra os protestos.De acordo com o ministro do Interior, Ali Yerlikaya, ao menos 343 pessoas foram detidas durante as manifestações. O governo alega que não há motivação política na prisão de Imamoglu e que as instituições judiciais atuam de forma independente. Erdogan criticou os protestos e afirmou que “os dias de vandalismo e terror de rua ficaram para trás”.Os protestos não se limitam apenas à defesa de Imamoglu. Para muitos manifestantes, o episódio representa problemas mais amplos da Turquia, como o enfraquecimento da democracia, crise econômica, desafios na educação e deficiências no sistema de saúde.Apesar da crise política, o CHP confirmou que as primárias do partido seguirão como planejado, com a participação de cerca de 1,5 milhão de delegados. Caso Imamoglu não possa concorrer, a oposição terá que buscar outro nome para enfrentar Erdogan nas próximas eleições.