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Resíduos de ansiolíticos afetam comportamento de salmões em rios europeus, diz estudo

Peixes expostos a essas substâncias sofrem alteração de movimento, além de impactar na interação e reação a predadores

Internacional|Do R7

Contaminação dos rios por medicamentos é um fenômeno crescente, associado ao descarte inadequado
Contaminação dos rios por medicamentos é um fenômeno crescente, associado ao descarte inadequado Divulgação/Michael Bertram

Resíduos de medicamentos usados para tratar ansiedade estão alterando o comportamento de peixes em ambientes naturais. O estudo, conduzido por cientistas da Universidade Sueca de Ciências Agrícolas, revelou que salmões expostos a essas substâncias sofrem alteração de movimento, além de impactar na interação e reação a predadores.

A pesquisa, publicada na revista científica Science, simulou os efeitos da poluição farmacêutica em condições controladas, com foco no rio Dal, no centro da Suécia. O trabalho envolveu a inserção de microdoses de remédios como o ansiolítico clobazam, também disponível no Brasil, em salmões do Atlântico (Salmo salar) durante a fase migratória.

Os peixes dessa espécie nascem em água doce e, por volta dos dois anos, iniciam a descida pelos rios rumo ao mar, onde permanecem por mais alguns anos até completar o ciclo de vida. Os pesquisadores acompanharam centenas de salmões com a ajuda de sensores acústicos, capazes de rastrear seu deslocamento ao longo do percurso.

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O grupo exposto ao clobazam apresentou mudanças claras de comportamento. Os peixes atravessaram turbinas de hidrelétricas com até três vezes mais rapidez em comparação ao grupo de controle, que não recebeu fármacos.


Além disso, a espécie registrou uma taxa significativamente maior de migração até o Mar Báltico: em média, nove salmões do grupo medicado chegaram ao mar por ano, contra apenas quatro entre os não expostos ao remédio.

Outro experimento, realizado em laboratório, indicou que os peixes sob efeito do ansiolítico apresentavam menos coesão de movimento nos cardumes, especialmente na presença de predadores naturais. Segundo os pesquisadores, isso sugere uma alteração no sistema de resposta ao risco, um fator crucial para a sobrevivência em ambiente selvagem.


“Mesmo mudanças que à primeira vista parecem vantajosas podem ter custos ocultos”, alertou Michael Bertram, um dos autores do estudo. Ele afirma que alterações no ritmo migratório ou na capacidade de detectar ameaças podem comprometer a sobrevivência a longo prazo.

Os pesquisadores também testaram os efeitos de outras substâncias, como o analgésico opioide tramadol, e de uma combinação entre ele e o clobazam. Apenas o ansiolítico, no entanto, mostrou impacto significativo no comportamento migratório dos salmões.


A contaminação dos rios por medicamentos é um fenômeno crescente, associado ao descarte inadequado e à baixa eficiência de sistemas de tratamento de esgoto. Estima-se que cerca de mil compostos farmacêuticos, ou seus metabólitos, já tenham sido identificados em ambientes aquáticos. Embora essas substâncias estejam diluídas na água, muitas têm ação prolongada e afetam processos bioquímicos presentes em diferentes espécies de vertebrados.

Drogas que atuam diretamente no sistema nervoso central, como ansiolíticos e antidepressivos, despertam especial preocupação. Estudos anteriores já identificaram vestígios dessas substâncias em tecidos cerebrais de animais aquáticos, o que levanta dúvidas sobre seu impacto em cadeias ecológicas inteiras.

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