Surto de doença misteriosa no Congo: tudo o que sabemos sobre os casos
Ao menos 53 pessoas morreram e mais de 400 foram infectadas em aldeias no noroeste do país desde o final de janeiro
Internacional|Do R7

Uma doença desconhecida que leva à morte em poucas horas provoca preocupação em autoridades na República Democrática do Congo. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), ao menos 53 pessoas já morreram e outras 419 foram infectadas desde que os casos começaram a se espalhar no noroeste do país, em 21 de janeiro.
O R7 reuniu as principais informações sobre a doença. Leia abaixo o que se sabe e o que ainda precisa ser esclarecido.
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Doença desconhecida no Congo
O primeiro surto da doença foi registrado na aldeia de Boloko, após três crianças, todas com menos de cinco anos, morrerem 48 horas depois de consumirem um morcego e apresentarem sintomas de febre hemorrágica, segundo o escritório da OMS na África.
Após os três óbitos, outras quatro crianças da mesma aldeia, com idades entre cinco e 18 anos, também morreram.
Dias mais tarde, em 9 de fevereiro, um segundo foco surgiu em uma aldeia próxima, chamada Bomate. Desde então, as autoridades intensificaram os esforços para entender a origem da doença, que, até o momento, permanece desconhecida.
As duas aldeias ficam na província de Equador, que faz fronteira com a vizinha República do Congo. “A localização remota e a infraestrutura de saúde fraca aumentam o risco de maior disseminação”, disse a OMS em um relatório divulgado na segunda-feira (24).
Como são os sintomas da doença?
Segundo a OMS e as autoridades locais, os sintomas incluem febre, vômitos, diarreia, dores musculares, dores de cabeça, fadiga e hemorragia interna. Esses sinais são frequentemente associados a vírus mortais já conhecidos, como Ebola, Marburg, dengue e febre amarela.
O intervalo entre o início dos sintomas e a morte foi de 48 horas na maioria dos casos. “Isso é realmente preocupante”, disse Serge Ngalebato, diretor médico do Hospital Bikoro, um centro regional de monitoramento, à agência de notícias AFP.
E as investigações sobre o surto?
A OMS disse que amostras de 18 pacientes foram enviadas para análise no Instituto Nacional de Pesquisa Biomédica, em Kinshasa, capital do Congo, depois dos casos em Bomate.
Todas as amostras testaram negativo para doenças comuns de febre hemorrágica, como Ebola e Marburg, mas algumas delas indicaram presença de malária. Os especialistas, no entanto, ainda não chegaram a uma conclusão definitiva sobre a causa dos surtos.
A doença é transmitida por animais?
A possibilidade de transmissão de animais para humanos está no centro das investigações. Em regiões onde o consumo de animais selvagens é comum, como no Congo, doenças zoonóticas têm se tornado uma preocupação crescente.
Segundo a OMS, o número de surtos desse tipo na África aumentou mais de 60% na última década, um dado destacado em um relatório divulgado pelo órgão em 2022.
Na Bacia do Congo, que abrange países como a RDC, o consumo de carne de animais selvagens é uma prática cultural profundamente enraizada e uma fonte essencial de proteína para muitas comunidades.
A ONU estima que cerca de cinco milhões de toneladas de carne de animais selvagens sejam consumidas anualmente na região. O consumo também é influenciado pela falta de infraestrutura pecuária e a pouca disponibilidade de carne no mercado local.
Qual é a situação do Congo?
O atual surto não é um caso isolado. Em 2024, outra doença misteriosa, com sintomas semelhantes aos da gripe, matou dezenas de pessoas em uma região diferente do Congo e foi associada à malária grave.
Além disso, o governo enfrenta desafios adicionais no leste, onde as instalações médicas estão sobrecarregadas por causa de um conflito armado com rebeldes que, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), invadiram o país com apoio de Ruanda para tomar posse de territórios ricos em minerais.