Testemunha conta como era vida de Chapo escondido nas montanhas
O traficante colombiano Alex Cifuentes, que acompanhou Chapo em diversos refúgios na província de Sinaloa, contou como era a vida do chefão em fuga
Internacional|Fábio Fleury, do R7
O traficante mexicano Joaquín "El Chapo" Guzmán passou mais de uma década fugindo de inúmeras operações de captura, após escapar de uma penitenciária de segurança máxima, em 2001. Até hoje, pouco se sabia sobre o cotidiano dele durante esse período.
Nesta segunda-feira (14), o colombiano Alex Cifuentes, um dos homens mais próximos do chefão, relatou como era a vida deles em diversos esconderijos nas montanhas de Sinaloa, no México.
Cifuentes é irmão de Jorge Cifuentes, que durante anos foi fornecedor de cocaína do cartel de Sinaloa. Ambos foram apresentados ao mexicano pelo megatraficante colombiano Juan Carlos Abadía, que testemunhou no início do julgamento.
Enviado da Colômbia
Alex contou que foi enviado ao México pelo irmão em 2007, depois da morte de seu irmão mais velho, Pacho Cifuentes, um dos principais coordenadores do cartel do Norte do Vale. A intenção era retomar a parceria com Chapo.
Na primeira reunião, os dois traficantes acertaram que o cartel mexicano iria utilizar ranchos que pertenciam aos colombianos. Eles enviariam 3 toneladas de cocaína pura, que seriam despachadas para os EUA.
Cada quilo da droga seria vendido a US$ 2,4 mil (cerca de R$ 8,9 mil). Ou seja, um negócio de R$ 26,7 milhões, dos quais os colombianos ficariam com um quarto, cerca de R$ 6,7 milhões.
O "cozinheiro"
Na viagem seguinte, Alex levou consigo um homem de apelido El Negrito. Ele era o "cozinheiro" preferido de Pacho, o que produzia a melhor cocaína. A ideia de Chapo era produzir a cocaína localmente, com o objetivo de ter um produto de melhor qualidade.
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A parceria foi tão bem sucedida que, durante anos, Alex enviou para a Colômbia cerca de US$ 40 milhões (cerca de R$ 147 milhões) por mês. Isso durou até o fim de 2013, quando Chapo foi recapturado pela polícia mexicana.
Segundo Alex, nos seis anos que passou com Chapo nas montanhas de Sinaloa, eles viveram em pelo menos sete esconderijos diferentes. Todos eram parecidas. Cabanas simples, com janelas foscas e com eletricidade fornecida por geradores.
Luxo nas montanhas
Dentro dos esconderijos, a vida era confortável, de acordo com o relato do traficante. TVs de plasma, geladeiras, lava-roupas e outros eletrodomésticos. Ele contou que cada um tinha pelo menos 50 empregados, entre guardas, secretários, cozinheiras e arrumadeiras.
Em uma festa de aniversário em que Cifuentes estava, Chapo chegou a ganhar três carros de luxo blindados, valendo mais de US$ 150 mil (cerca de R$ 554 mil) cada, de seus parceiros no cartel e dos filhos.
Além deles, o cartel "empregava" centenas de outras pessoas, como produtores de papoula e maconha, pilotos, mensageiros, guarda-costas, pistoleiros e traficantes de diversos níveis hierárquicos.
Cifuentes explicou que, cada vez que precisavam mudar de esconderijo, um novo grupo de guardas tomava conta do local, para que os antigos não soubessem da nova localização do traficante.
Também explicou como o cartel fazia para tirar dinheiro dos EUA. Cartões pré-pagos com créditos de até US$ 9,9 mil (cerca de R$ 36 mil) a serem sacados no esterior eram o meio mais comum, mas eles também tinham uma companhia de seguros e faziam transferências eletrônicas por meio de bancos chineses para lavagem.