Caso Rafaela: pai de escrivã relata pressão após morte da filha e fraude em boletim
Família participou de audiência na ALMG motivada por óbito da policial; casos de assédio foram denunciados
Minas Gerais|Helen Oliveira, da Record TV Minas

O pai da ex-escrivã da Polícia Civil Rafaela Drumond, que tirou a própria vida no mês passado, aos 32 anos, denunciou que sofreu pressão vinda de agentes da instituição logo após a morte da filha. A declaração foi feita durante audiência na ALMG (Assembleia Legislativa de Minas Gerais), nesta sexta-feira (7), que debateu casos de assédio no meio policial. A reunião foi motivada pela morte da agente, que já havia denunciado perseguição no ambiente de trabalho.
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“Eles estavam pressionando para ver se eu sabia de alguma coisa que estivesse acontecendo na delegacia. E não sabia de nada. A minha cabeça estava cheia de fantasia. Então, eles inventaram vários depoimentos fraudulentos ali. Eu não falei nada daquilo que está no boletim de ocorrência”, declarou Aldair Drummond.
“Fui na funerária de madrugada e tinha um escrivão me ligando. Encheu detetives, investigando se eu sabia de alguma coisa. Esse delegado falou que já estava querendo exonerá-la. Eu achei estranho. Triste”, concluiu.
Por nota, a Polícia Civil de Minas Gerais informou que o inquérito "tramita na Corregedoria-Geral de Polícia Civil (GCPC), sob sigilo, por força do disposto no art. 20 do Código de Processo Penal". Além disos, a PC também esclareceu que "todas as diligências investigativas realizadas por seus servidores devem observar os princípios e regras constitucionais e que "a instituição não compactua com eventuais desvios supostamente praticados por seus agentes."
Histórico
Rafaela trabalhava em Carandaí, no Campo das Vertentes, e vinha reclamando para amigos de assédio no trabalho. Em uma das mensagens, ela disse: "Minha vontade é pedir exoneração e sumir desse circo".
Em áudios, ela chegou a falar sobre a relação com superiores e a falta de suporte aos servidores que passam por situações complicadas. Em outra gravação, Rafaela afirmou que sofreu assédio de um colega e que comunicou o fato ao delegado de Carandaí.
Um inquérito policial foi instaurado para investigar a morte da escrivã. O delegado da cidade foi transferido a pedido próprio. Um investigador foi removido das atribuições pela administração. Os dois passaram a trabalhar na delegacia de Conselheiro Lafaiete.
Chefe da polícia
Durante a audiência pública realizada para apurar os crimes que teriam sido cometidos contra Rafaela, outros policiais civis também denunciaram assédios sexual e moral.
Uma inspetora afastada disse que sofreu assédio da chefe de Polícia de Minas Gerais, a delegada Letícia Gamboge, que assumiu o cargo em abril deste ano.
A investigadora Jaqueline disse que foi vítima de assédio moral durante um procedimento que investigava assédio moral contra ela.
“Eu a pedi um documento e ela disse que eu a estava constrangendo. Eles abriram essa sindicância, porque existe uma lei a nível do estado que diz que eu não posso ser movimentada sem a minha anuência, porque eu sou vítima de assédio sexual”, começou a relatar.
“Um dia depois do Dia da Mulher, eu a denunciei por assédio moral. O próximo trâmite seria uma tentativa de conciliação. Se não houvesse a conciliação, a denúncia iria para Corregedoria. A dra. Letícia chegou como chefe de polícia e levou a denúncia direto para a Corregedoria. A gente não tem sossego. Se é mulher na polícia, você fica calada ou suicida”, denunciou.
O caso teria acontecido quando Letícia Gamboge Reis era chefe do DHPP (Departamento de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa). A delegada estava presente na audiência e negou as acusações.
“Quando eu cheguei para trabalhar no DHPP, o caso do assédio sexual sofrido pela investigadora Jaqueline foi submetido. Eu a chamei para conversar. Ela foi totalmente acolhida por mim e toda a equipe. Ela foi encaminhada à Delegacia de Mulheres para que houvesse a adoção das providências”, retrucou.
“Eu, como mulher, policial civil e mãe, não posso tolerar qualquer situação de assédio, seja sexual ou moral. A minha trajetória me referencia. Eu estou sendo acusada de algo que eu não pratiquei”, concluiu.