'Estou um farrapo', diz esposa de vítima da Backer internada há 1 ano
Em audiência pública na Câmara de BH, familiares relatam falta de assistência da empresa, que diz que não foi comprovada culpa da contaminação
Minas Gerais|Lucas Pavanelli, do R7, com Camila Cambraia, da RecordTV Minas
Com o marido internado há um ano devido a complicações causadas pela contaminação pelo consumo de cerveja da Backer, a empresária Eliana Reis Faria pede que a cervejaria dê a assistência devida para que ele possa ser assistido da forma correta.
José Osvaldo Faria foi internado no início de 2019 e só teve um diagnóstico fechado depois que os primeiros casos de contaminação por dietilenoglicol na cerveja vieram à tona.
Cervejas da Backer podem estar contaminadas desde o início de 2019
Com o marido internado, Eliana se viu obrigada a assumir os negócios dele, deixou de lado os seus e diz que não tem tempo "nem de sofrer". A mulher compareceu a uma audiência pública na Câmara Municipal de Belo Horizonte nesta quarta-feira (5) para dar seu depoimento sobre o caso.
— Estou sempre forte de manhã, mas estou um farrapo por dentro. Eu ainda tenho que cuidar das lojas dele. Meu empreendimento ficou para trás. Eu perdi mais de R$ 100 mil que eu investi e fui cuidar das lojas dele. E não tenho tempo para sofrer a não ser nessas horas e à noite. É não ter tempo nem de sofrer. De dia eu tenho que estar inteira para ele.
Segundo Eliana, a Backer não tem dado nenhuma assistência à família, que não tem condições de manter a assistência necessária que o tratamento de Osvaldo demanda.
— Eu preciso de assistência. Eu não tenho R$ 10 mil mais quatro refeições diárias. O plano de saúde não cobre a assistência técnica dentro de hospital. Eles têm um serviço de homecare, mas o Osvaldo precisa de assistência, senão a saturação dele cai. Se ele tem uma chance de ir para o quarto, essa chance tem que vir da boa vontade deles de ajudar. Eu não tenho dinheiro.
Backer diz ter achado substâncias tóxicas em outras marcas de cerveja
O caso de Osvaldo é um dos primeiros relacionados à contaminação registrados. No entanto, no início, quando ele começou a apresentar os sintomas, os médicos não faziam ideia do que ele tinha.
Hoje, se um paciente que chegou a consumir cervejas como a Belorizontina dá entrada no hospital com sintomas de insuficiência renal e paralisia por exemplo, um exame de sangue específico pode apontar a presença da substância dietilenoglicol e o tratamento é feito com base nesse diagnóstico.
— Quando eu vi os sintomas, eram idênticos ao que ele teve. Só que ele passou por tudo no escuro. Os médicos não tinham parâmetro para dar um diagnóstico preciso. Agora, não. As experiências que ele, infelizmente, passou ajudaram outras vítimas até mesmo a estarem a salvo, em casa, hoje.
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Assistência às vítimas
A falta de assistência da cervejaria Backer foi uma das críticas presentes nos discursos dos familiares das vítimas que compareceram à audiência. É o caso da farmacêutica Camila Demartini. Seu pai é uma das seis pessoas que morreram em decorrência da contaminação e seu marido está internado há 70 dias.
— Esse contato não existe. A gente está aqui para mostrar a nossa indignação. Meu pai já veio a óbito, então não tem nem o que comentar. Felipe tem todo o suporte do plano de saúde, mas e os outros pacientes e familiares que não têm? Não há auxílio algum por parte da Backer para nenhum dos familiares. A gente quer que as pessoas em geral vejam a real situação, que é a falta de auxílio total por parte da Backer. Eles são responsáveis e estão se omitindo.
Uma das diretoras da empresa, Paula Lebbos, compareceu à audiência e disse que a Backer está disposta a ajudar e que a empresa "não irá se eximir de algo que for comprovado".
— Nós estamos nos estamos sendo fiscalizados e se a backer for culpada nos vamos sim arcar com tudo aquilo que for pertinente. Mas não chegou ao final dessa investigação. Agora é preciso que a Backer seja julgada como causadora disso.