Legado do caso Backer fortalece investigações sobre bebidas em MG
Passados dois anos do surgimento das primeiras denúncias referentes à cervejaria, polícia vê avanço em apurações similares
Minas Gerais|Pablo Nascimento, do R7
Passados dois anos das primeiras denúncias de contaminação das cervejas da fabricante mineira Backer, a Polícia Civil de Minas Gerais viu o processo de identificação de bebidas adulteradas se tornar mais rápido no estado devido ao legado técnico da investigação.
A perita criminal Renata Fontes Prado Faraco, do Instituto de Criminalística, avalia que, caso a investigação fosse iniciada agora, seria possível ter o resultado de análises em um espaço de tempo dez vezes menor do que foi necessário naquele início de 2020.
Em parte, a agilidade se deve ao analisador de bebidas em uso pela corporação desde agosto passado. O aparelho, que custou quase R$ 1 milhão, foi comprado por meio de um convênio da Polícia Civil com o Fundo Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor, do MPMG (Ministério Público de Minas Gerais).
"Ná época, nós fomos para Brasília usar o equipamento da Polícia Civil do Distrito Federal, até então o único do país, para conseguirmos confirmar se as garrafas de cerveja estavam lacradas ou não", conta a perita sobre a saga enfrentada na investigação referente à Backer, quando sua equipe ainda não tinha a máquina à disposição. Com a aquisição, a Polícia Civil de Minas Gerais tornou-se a segunda corporação do país a contar com o maquinário.
A avaliação foi possível graças à capacidade do equipamento de medir o teor de O2 e CO2 da cerveja. Na prática, a tecnologia viabiliza análises mais rápidas sobre a composição de bebidas. O processo também permite identificar, com mais precisão, se o produto é falsificado, se foi adulterado ou, ainda, se sofreu algum tipo de contaminação.
"Quando nós conseguimos garantir que as garrafas de cerveja contaminadas estavam lacradas, que elas não haviam sido adulteradas, foi possível voltar o foco da investigação para dentro da fábrica", recorda Renata.
Desde que o aparelho chegou a terras mineiras, a Polícia Civil local recorreu a ele para embasar investigações de outros possíveis envenenamentos com dietilenoglicol, substância encontrada nas cervejas da Backer. A corporação também desvendou golpes relacionados à falsificação de bebidas alcoólicas, principalmente de destilados considerados caros no mercado.
"Além de tomar um tempo grande do nosso trabalho, as análises que fazíamos anteriormente não eram tão contundentes. Ganhamos tanto em tempo quanto em qualidade das análises", avalia a perita sobre a evolução do processo de investigação.
Relembre o caso Backer
O caso Backer foi uma intoxicação em série de consumidores da cerveja Belorizontina, da Backer, que se tornou pública no primeiro fim de semana de 2020, após a divulgação de relatos em redes sociais.
Ao fim das investigações, os peritos concluíram que parte do lote da bebida estava contaminada com monoetilenoglicol e dietilenoglicol, dois anticongelantes tóxicos ao corpo humano, usados no processo de resfriamento industrial. O material teria caído na bebida durante a fabricação. Tanques da empresa, localizada na região oeste de Belo Horizonte, estavam furados.
Ao menos dez pessoas morreram em decorrência das intoxicações. Mais de 20 teriam apresentado problemas de saúde. Algumas delas tiveram sequelas motoras. Entre os sintomas mais comuns relatados pelos pacientes estão a insuficiência renal e paralisias motoras.
Investigação
Em setembro de 2020, o MPMG (Ministério Público de Minas Gerais) denunciou os três sócios-diretores da cervejaria Backer e sete funcionários por possíveis irregularidades e problemas ligados às contaminações. Um 11º investigado foi incluído no processo como suspeito de atrapalhar as investigações por meio de testemunhos falsos.
Um dos trabalhadores indiciados, o responsável técnico da cervejaria, Luiz Paulo Lopes, morreu em decorrência de um AVC. Ele tinha 40 anos.
A Justiça formalizou o recebimento das acusações no mês seguinte, quando o processo começou a correr oficialmente. Ainda não houve julgamento e algumas famílias que ficaram de fora do primeiro inquérito policial ainda tentam provar que foram vítimas da intoxicação em série.
"O processo encontra-se em fase inicial, de citação e apresentação de defesas prévias. Encerrada essa fase é que se começa a produção de provas, e depoimentos e interrogatórios", informou o Fórum Lafayette, em Belo Horizonte, sobre o andamento do caso.
A reportagem procurou a Backer para comentar a condução do processo e aguarda retorno.