Entre janeiro e setembro do ano passado, a Vale lucrou R$ 21,9 bilhões, o suficiente para pagar 75% do que a mineradora ofereceu para compensar o Governo de Minas e os atingidos pelas consequências causadas pelo rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão, em Brumadinho. O desastre matou 270 pessoas e atingiu outras milhares de pessoas ao longo da bacia do rio Paraopeba.
Nesta quinta-feira (21), o Governo de Minas anunciou que não sentaria mais à mesa de negociação com representantes da empresa para fechar um acordo. O Executivo mineiro, o Ministério Público e a Defensoria Pública cobravam R$ 54 bilhões da mineradora tanto pelas perdas econômicas, como os danos sociais. Por sua vez, a Vale apresentou uma contraproposta de R$ 29 bilhões, pouco mais da metade do valor pretendido.
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De acordo com informações divulgadas pela própria Vale, de janeiro a setembro do ano passado, a mineradora registrou lucro de R$ 21,88 bilhões. Isso significa que, descontando todos os pagamentos e investimentos feitos pela Vale, esse foi o montante que ela dividiu com acionistas. O resultado do quarto trimestre deve ser divulgado no mês que vem.
Confira o lucro da Vale em 2020:
- 1º trimestre: R$ 984 milhões
- 2º trimestre: R$ 5,3 bilhões
- 3º trimestre: R$ 15,6
Caso a mineradora tenha mantido o lucro médio mensal de 2020 (R$ 2,2 bilhões) nos três últimos meses do ano passado, o montante chegaria próximo ao valor oferecido como contraproposta à oferta do Governo de Minas. Na prática, para a Vale é como se os danos causados pela maior tragédia socio-ambiental do Brasil custasse um ano de lucro da empresa.
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Leilão
O Governo de Minas, o MP e a Defensoria Pública decidiram deixar a mesa de negociações após a audiência de conciliação no Tribunal de Justiça desta quinta-feira (21). O secretário-geral de Minas Gerais, Mateus Simões (Novo), disse ao final do encontro que o Governo não entraria em um leilão e que a Vale deveria se responsabilizar pelas consequências da tragédia ocorrida em janeiro de 2019.
- É o momento de a Vale assumir a sua responsabilidade, agir com dignidade e reparar os danos que foram causados aos mineiros ou demonstrar o seu antagonismo com Minas Gerais e a sua posição de inimiga dos mineiros.
A Justiça deu prazo até a próxima semana para que a mineradora apresente uma nova proposta. Caso o acordo não seja celebrado, o assunto volta à primeira instância da Justiça.
Versão da Vale
Em nota, a Vale afirmou que "reconhece, desde o dia do rompimento, sua responsabilidade pela reparação integral dos danos causados" e que tem prestado assistências às famílias e regiões impactadas.
A mineradora cita que pagou indenizações individuais a cerca de 8.700 pessoas e que já destinou cerca de R$ 10 bilhões a ações de reparação.
"A Vale considera fundamental reparar os danos causados de maneira justa e ágil e tem priorizado iniciativas e recursos para este fim", diz trecho da nota.
Ainda de acordo com a Vale, "embora as partes não tenham chegado a consenso, a divergência concentra-se em aspectos relacionados a valores a serem pagos e à sua destinação", diz a nota. Por fim, disse também que confia na Justiça.