Taxa de homicídios na Grande BH é 83% maior do que no interior de MG
Em 2018, foram registrados 3.095 assassinatos em todo Estado; pesquisador defende investimento na atenção das crianças para conter problema
Minas Gerais|Pablo Nascimento, do R7
Um levantamento feito pelo R7 junto à Secretaria de Segurança Pública de Minas Gerais mostra que a Grande BH registrou, em 2018, uma taxa média de homicídios 83% maior do que as cidades do interior.
Enquanto nos municípios mais afastados da capital foram notificados 12 assassinatos a cada 100 mil habitantes, na Região Metropolitana, a média foi de 22. A metodologia de cálculo foi a mesma utilizada em pesquisas sobre criminalidade.
Para a Secretaria de Estado de Segurança Pública, a incidência criminal está diretamente ligada, entre outros fatores, à densidade populacional e problemas sociais, como a concentração de renda. Ainda assim, a diferença nos números é grande.
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Segundo estimativa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), as 34 cidades que compõe a Grande BH têm 25% da população do Estado, com cerca de 5.313.480 habitantes. Dos 3.095 crimes de morte registrados em 2018, quase 40% (1.179) ocorreram em um destes municípios.
As motivações dos crimes são variadas e vão desde desentendimentos banais até o feminicídio. No ano passado, um dos casos que chocou o Estado foi a morte da empregada doméstica Marta Soares Fonseca, então com 42 anos.
Ela desapareceu na rodoviária de Belo Horizonte no dia 17 de setembro, enquanto voltava do Espírito Santo, onde visitava o namorado. Dias depois o corpo da vítima foi encontrado carbonizado em um lote vago em Contagem, na Região Metropolitana.
A Polícia Civil de Minas Gerais conseguiu localizar e prender o suspeito: um homem de 45 anos que confessou o crime e declarou que não conhecia a mulher. Ele revelou que a abordou no terminal oferecendo uma oportunidade de emprego e a levou até um local ermo. Chegando lá, após perceber que Marta estava nervosa com a situação, acabou dando um golpe nela.
Redução
Apesar da discrepância entre o número de mortes no interior e na área metropolitana, Minas registrou redução no número de casos nos últimos anos. De 2017 para 2018, a diminuição foi de quase 1.000 ocorrências, passando de 3.966, para 3.095.
Um estudo realizado pelo Crisp (Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública), da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), aponta a organização dos espaços tradicionalmente violentos e o estímulo do envolvimento comunitário como fatores que contribuem para a reversão do cenário.
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A pesquisa cita o projeto Fica Vivo, do Governo de Minas, como um exemplo que teve êxito trabalhando esta abordagem. O estudo levou em consideração 10 anos do programa apenas na capital. O levantamento indica que 650 vidas foram poupadas no período.
O projeto desenvolve ações de esporte, arte e cultura com jovens de 12 a 24 anos, em áreas consideradas violentas. De acordo com a Secretaria de Estado de Segurança, o Fica Vivo é uma dos principais programas para redução da criminalidade no Estado.
Para o professor Bráulio Figueiredo, pesquisador Crisp, o acompanhamento social de crianças e adolescentes é o caminho mais efetivo para se alcançar resultados positivos em relação à violência.
O estudioso defende que já por volta dois oito anos de idade, a criança deve ser envolvida em atividades que estimulem a permanência na escola e dificultem o contato com o mundo do crime.
— Temos que evitar o primeiro contato dessas crianças com a criminalidade. A ideia é tirá-las do ciclo vicioso que começa pelos pequenos furtos, passa pelos roubos maiores e termina nos homicídios, sejam elas vítimas ou autoras.
Procurado, o Governo de Minas informou que desenvolve ações específicas para o combate à criminalidade na Grande BH, entre elas o Fica Vivo. Na área abrangida pelo programa, houve uma queda de 21% de 2017 para 2018.
A nota ainda destaca redução no mês de janeiro de 2019. Veja:
“Ressaltamos, entretanto, que a RMBH possui queda no número de vítimas de homicídio, o que indica o trabalho feito pelo Estado neste enfrentamento. A queda foi de 14% na comparação janeiro deste ano com o do ano passado, o que representa 21 vidas poupadas na comparação dos períodos.
Outra forma de se avaliar o dado da RMBH é constatar que a criminalidade não está espalhada em Minas: o que é uma boa notícia. Nada menos que 773 municípios não registraram homicídios em janeiro deste ano, ou tiveram seus índices diminuídos ou mantidos na comparação com o mesmo período do ano passado.
Pela Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), o que podemos ressaltar como trabalho de destaque na busca pela redução de homicídios, é o Programa Fica Vivo, voltado especificamente para este fim, para jovens de comunidades mais vulneráveis.”