Apoio de PT a Hugo Motta envolve pacto pela governabilidade
Aval do presidente Lula aumenta chances do candidato do Republicanos na sucessão de Lira para o comando da Câmara
Teve o aval do presidente Lula o acordo que levou a bancada do PT na Câmara a apoiar o candidato do Republicanos, Hugo Motta (Republicanos/PB), à presidência da casa.
Para evitar “desarmonia” com o Legislativo na segunda metade de seu terceiro mandato e garantir condições de governabilidade, a ordem do líder petista foi assegurar uma “gestão afirmativa e independente”, mas não de oposição ao Planalto, segundo articuladores do acerto.
A decisão da bancada petista é considerada o fiel da balança para garantir ao sucessor de Arthur Lira (PP/AL) o caráter de “candidato do consenso”, ao agregar a legenda que é carro chefe das forças de esquerda no parlamento.
O conceito, baseado na necessidade de equilibrar a um só tempo a independência da Câmara e o equilíbrio nas relações com o Executivo, sem um “ambiente belicoso”, como o vivido durante o mandato de Dilma Rousseff e parte do mandato de Jair Bolsonaro, vinha sendo construído por Lula e Arthur Lira em encontros privados.
A pedra de toque para tornar o acordo viável foi encontrar um nome que encarnasse este consenso – um parlamentar que fosse ao mesmo tempo representativo dos partidos de centro e palatável à esquerda, desde que assumisse compromissos nos mesmos termos dos acordados por Lira quando de sua vitória sobre Baleia Rossi (MDB/SP), então candidato de Rodrigo Maia (à época, no DEM/RJ).
A desistência de Marcos Pereira (Republicanos/SP) em favor de Motta permitiu a construção da candidatura, em detrimento dos demais postulantes que prometem seguir na disputa até fevereiro.
O blog apurou que o fator governabilidade preponderou sobre as demais negociações sobre a mesa, entre elas pautas polêmicas ou que projetam efeito sobre a disputa eleitoral de 2026 – caso do projeto de lei que concede anistia aos condenados pelos ataques às sedes dos três poderes em 8 de janeiro.
Parte do texto beneficia o ex-presidente Bolsonaro, uma vez que prevê que multas impostas pela Justiça Eleitoral sejam anuladas e que causas de inelegibilidade sejam cessadas. Bolsonaro foi declarado inelegível por 8 anos após condenação por uso indevido dos meios de comunicação – sentença que seria revista, com a eventual aprovação da lei.
O próprio Arthur Lira se propõe a promover um “texto alternativo” ao PL 2858/2022, que agora será levado a uma comissão especial e não mais à CCJ, hoje comandada por bolsonaristas. O mandato do alagoano como presidente da Câmara termina em fevereiro e ele caminha para fazer de Motta o seu sucessor.
Sobre a mesa do acordo que levou o PT a apoiar o deputado do Republicanos estiveram ainda temas como: a regulamentação das redes sociais e o respeito à proporcionalidade das bancadas como critério para a distribuição de cargos nas comissões temáticas da Câmara.
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