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Nem nervosismo, nem pressa; veja os bastidores da entrevista com Lula, no auge da crise

Lula tinha pronto o discurso de defesa nacional para rebater Trump e adversários internos, em nova frente de batalha

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Lula e a jornalista Christina Lemos, durante entrevista Reprodução/RECORD

Na manhã ensolarada da última quinta-feira (10), os jardins e salões do Palácio da Alvorada literalmente resplandeciam. A obra de arte da arquitetura e do paisagismo era o remanso perfeito – distante do cenário de incertezas lançado sobre o país após a ameaça do presidente americano de tarifaço contra produtos brasileiros.

Em seu gabinete de trabalho na residência oficial, em sucessivas reuniões com ministros, o presidente Lula afiava o discurso para expor com ainda mais ênfase suas divergências com relação aos métodos de Donald Trump e uma ampla artilharia em defesa da soberania nacional. Duas horas de espera era um horizonte otimista para o início da gravação.


“Este vento vai arruinar o cabelo da repórter!” – uma voz feminina e solar corta o ambiente de ansiedade entre técnicos e jornalistas. Era Janja, que se materializava à porta da varanda do Alvorada. Sem óculos, vestida com um jovial conjunto de saia e blusa e com um largo sorriso no rosto, a primeira-dama considerou que o set de gravação que privilegiava a beleza da marquise de Niemeyer e os jardins de Lúcio Costa tinha um problema.

Pouco depois, a gravação seria transferida para a sala contígua à varanda, já que Lula, bem-humorado, considerou que o vento poderia deixá-lo “com o topete do Itamar”. O imprevisto gerou uma oportunidade única: quase meia hora de conversa informal com o presidente, na biblioteca do Alvorada. Definitivamente, era nosso dia de sorte.


Lula discorreu sobre a arte de negociar em condições adversas. Foi dos tempos de sindicalista que enfrentava multidões de metalúrgicos dispostos a manter greves que precisavam ser encerradas, às possibilidades de paz entre Rússia e Ucrânia. Quanto a Trump, saberíamos a seguir. Estava claro que o presidente antevia a oportunidade política de afirmar seu discurso pró multilateralismo e principalmente em “defesa do Brasil” - tema que imediatamente tornou-se central na comunicação do governo e do partido.

Não havia nem pressa, nem nervosismo no Alvorada. Lula estava no comando da operação para transformar a crise em inesperada oportunidade política. Por 35 minutos de entrevista, o presidente inaugurou a estratégia diante de quatro câmeras e de olhares e ouvidos atentos a cada palavra ou gesto. Atacou e responsabilizou adversários, chegando mesmo a satirizar a voz e os argumentos do filho do ex-presidente Bolsonaro – numa cena que gerou corte certeiro para as redes sociais.


Ao levantar-se da mesa, após a gravação, já perto das 13h30, Lula estava confiante do acerto de seu comando e de seu discurso. Havia tido uma conversa enérgica com Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores, e corrido os olhos rapidamente num comunicado do Itamaraty sobre o tema. Começava naquele minuto uma nova frente de batalha – do tipo que ele gostava. Era um negociador em sua zona de conforto.

“Como você está? De verdade, na sua vida, como você está hoje?” – me perguntou o presidente, em referência aos velhos tempos de convivência, quando cobri, como repórter, seus dois mandatos anteriores. “Nós estamos muito melhores hoje, não é mesmo?!” – afirmou sorrindo, em tom de confidência.


A quatro meses de completar 80 anos, o candidatíssimo Lula deixa a confirmação sobre concorrer novamente ao Planalto para depois. Mas não se furta a responder com uma provocação aos adversários. “Tem muitos partidos políticos para a gente conversar. Mas vou te contar uma coisa: os loucos que governaram este país não voltam mais. Se for necessário ser candidato para evitar isso, estarei candidato.”

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