Presença de enviado de Putin limitará ação do G20 sobre guerra
Sergei Lavrov sustentará posição sobre conflito com Ucrânia, o que impõe limites à declaração final da Cúpula
No meio diplomático brasileiro são baixas as expectativas quanto à possibilidade de uma declaração mais contundente a partir da reunião de Cúpula do G20 no Rio em relação ao fim do conflito entre Rússia e Ucrânia.
A simples presença do chanceler russo, Sergei Lavrov, enviado do presidente Vladimir Putin à reunião do bloco, presidido pela primeira vez pelo Brasil, já impõe limites ao texto final, ao qual delegações diplomáticas se dedicam há dias.
Putin está impedido de comparecer em função de condenação por parte do Tribunal Penal Internacional por supostos crimes de guerra na Ucrânia. Como o Brasil é signatário do Tratado de Roma, o governo brasileiro seria obrigado a prendê-lo caso o dirigente russo desembarcasse no país.
Lavrov comparece como representante do Kremlin e sustentará a posição de Putin, que é de reanexação de parte do território ucraniano e de veto à presença da Otan nas fronteiras com a Rússia.
O presidente Lula estará no Rio a partir do final desta semana, para participar dos fóruns do G20. Ele integra a Cúpula, que recebe chefes de estado nos dias 18 e 19, e defende publicamente a possibilidade de Putin voltar a circular sem o risco de prisão.
“O que eu acho é que nós precisamos trabalhar para que essa guerra acabe de uma vez por todas e o Putin volte a conquistar o direito de forma civilizada de andar pelo mundo e participar de eventos”, declarou, na última sexta, em entrevista a órgão da imprensa estrangeira.
O Brasil almeja a posição de mediador das negociações de paz entre os dois países, em guerra há dois anos e nove meses. Lula participa do esforço liderado pela China e não reconhecido pela Ucrânia – uma vez que ambos países são vistos como aliados do Kremlin.
O brasileiro já mencionou a hipótese de que a Ucrânia concorde com a anexação pela Rússia de parte de seu território, como moeda de troca pelo fim do conflito – o que Kiev rechaça de forma veemente.
Ao G20 também comparece o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, cuja presença foi confirmada pela Casa Branca. O americano vive o final melancólico de seu mandato, após ter sido forçado a renunciar à reeleição e amargar a derrota de sua sucessora, Kamala Harris.
O governo eleito de Donald Trump, que prepara uma guinada conservadora à frente da maior potência econômica e militar do planeta, não deve mandar representante.
Os prognósticos sobre as relações da futura gestão Trump com o G20 são pessimistas. A expectativa é de que os Estados Unidos assumam uma posição diplomática muito mais voltada para os próprios interesses, com reforço a medidas protecionistas e distanciamento de fóruns de concertação global.
A provável escolha do senador da Flórida, Marco Rubio, para assumir o comando da diplomacia americana como chefe do Departamento de Estado foi recebida como sinal de que Trump pretende seguir à risca as promessas de campanha e promover uma gestão muito mais dura e autocentrada do que a de seu primeiro mandato (2017-2021).
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