Entenda qual é o impacto das eleições americanas no bolso do brasileiro
O futuro da economia dos EUA tomará caminhos distintos com o resultado, mas com efeitos diretos a empresas e consumidores
Conta em Dia|Do R7
O republicano Donald Trump e a democrata Kamala Harris disputam nesta terça-feira (5) as eleições pela presidência da maior potência econômica do mundo. Por isso, a corrida pelo cargo mais importante dos Estados Unidos tem impacto no mundo e também no Brasil, com efeitos diretos para empresas e consumidores. Mas o futuro da economia americana tomará caminhos distintos com o resultado.
Na última sexta-feira (1º), o dólar avançou 1,53% e fechou a R$ 5,8698, no maior patamar desde maio de 2020. Entre os motivos estão externos estão as incertezas com a eleição nos EUA e o ritmo da atividade econômica americana.
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Para Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas, as eleições norte-americanas influenciam a economia brasileira principalmente pelo efeito que os Estados Unidos exercem nos mercados globais. “Mudanças nas políticas de comércio exterior ou tarifárias, por exemplo, afetam diretamente as exportações brasileiras, especialmente nos setores de commodities como o agronegócio e a mineração”, explica o analista.
Além disso, segundo ele, mudanças na condução da política monetária americana trazidas por um novo governo, influenciam o fluxo de capitais para países emergentes, como o Brasil, afetando a taxa de câmbio, trazendo impactos para inflação e nossos juros internos.
“Toda essa incerteza eleitoral nos EUA costuma gerar volatilidade nos mercados financeiros, o que se reflete no custo do dólar e nos preços de produtos importados no Brasil, com efeitos diretos para empresas e consumidores”, acrescenta Gusmão.
Sidney Lima, analista CNPI da Ouro Preto Investimentos, destaca que ambos os cenários demandariam ajustes econômicos internos no Brasil para manter a estabilidade.
“A eleição de Trump tende a pressionar ainda mais o dólar para cima, com políticas que restringem o comércio e incentivam um dólar forte. Já uma vitória de Kamala Harris poderia aliviar essa pressão, ao adotar medidas que favoreçam o enfraquecimento do dólar, beneficiando moedas de mercados emergentes e incentivando o fluxo de capitais para o Brasil”, afirma Lima.
Bruno Carlos de Souza, CEO da consultoria Souzamaas, acredita que nem Harris nem Trump devem ter prioridade no Brasil, mas, dependendo de quem se eleger, o impacto pode ir em direção oposta.
“A direita ganha força com Donald Trump e a esquerda com Kamala Harris. Apesar disso, independentemente de quem vença e em qual direção os EUA caminhem, é bom que o Brasil se mantenha com as relações estáveis com ambos os lados”, afirma Souza.
Diferentes caminhos
Para ele, se Donald Trump vencer, o cenário base é de mudança. “O setor de agronegócios e suas exportações de commodities no Brasil podem se beneficiar. Um exemplo disso aconteceu durante os anos de 2018 e 2020, quando no auge da guerra comercial com a China, o Brasil se favoreceu com a demanda chinesa por commodities, deslocada dos EUA para o Brasil, beneficiando produtos como soja e milho”, prevê.
No entanto, as exportações do Brasil para os EUA podem ter impacto negativo, caso ocorra aumento de tarifas sobre todas as importações e, assim, os produtos brasileiros devem chegar mais caros. “Possível menor preço de petróleo, já que Trump defende a expansão da produção de petróleo doméstica e, durante sua presidência, ela atingiu níveis recordes”, afirma Souza.
Ele também vê a possibilidade de inflação em alta e cortes de tributos nos EUA, o que pressionariam o Fed (banco central americano) a manter as taxas de juros mais altas por mais tempo, afetando as taxas no Brasil, o que geraria um problema, já que a economia brasileira precisa de uma política de juros menor para estimular as empresas a voltar a investir e a crescer.
Agora, se a candidata Kamala Harris vencer, o cenário-base é de manutenção do governo atual, segundo ele. “Investimentos verdes podem se beneficiar. A expectativa é de continuidade, baseando-se na agenda climática de Biden, fortalecendo políticas emblemáticas, e mantendo a liderança climática global dos EUA em acordos internacionais, considerando a postura pró-clima, de defesa do meio ambiente e a agenda de transição energética e de investimentos verdes deve ser mantida”, avalia Souza.
Cooperação
O professor de economia Hugo Garbe, da Universidade Mackenzie, acredita que, caso Trump vença, uma postura mais isolacionista de seu governo pode reduzir a cooperação em áreas estratégicas, como o meio ambiente, afetando setores como agronegócio e energia.
“Sua política protecionista e de tarifas elevadas pode impactar diretamente as exportações brasileiras, especialmente em commodities e bens industriais. Isso pode levar a um efeito de desaceleração nas exportações do Brasil, prejudicando a balança comercial e pressionando a desvalorização do real frente ao dólar”, afirma Garbe.
Já no caso de Harris vencer, espera-se uma abordagem mais multilateral e cooperativa, com foco em parcerias ambientais e comerciais. “Isso poderia beneficiar o Brasil em termos de acordos climáticos, como o Fundo Amazônia, e possibilitar relações comerciais mais estáveis e previsíveis. No entanto, políticas ambientais mais rigorosas podem pressionar o Brasil a adotar medidas de sustentabilidade, impactando setores dependentes de práticas de alto impacto ambiental”, avalia o professor.
Cotação do dólar
Em relação à cotação do dólar, com Trump, a continuidade de políticas protecionistas e possíveis sanções comerciais aumentariam a percepção de risco global, pressionando o dólar para cima. “Isso é particularmente preocupante para países emergentes como o Brasil, que veriam um fluxo de saída de capital para ativos considerados mais seguros nos EUA. O resultado seria um dólar ainda mais valorizado, pressionando a inflação no Brasil”, diz Garbe.
Com a eleição de Harris, poderia sinalizar maior estabilidade política e previsibilidade, levando a uma maior confiança dos investidores em mercados emergentes. “Isso poderia resultar em uma relativa desvalorização do dólar ou, pelo menos, estabilização, reduzindo a pressão inflacionária no Brasil e incentivando o fluxo de capital estrangeiro”, acrescenta o professor.
Exportações
Para especialista, o mercado brasileiro será influenciado por fatores como a atual posição do Brasil como principal fornecedor de soja da China, uma potencial grande safra (164,8 milhões de toneladas segundo estimativa), e a alta dependência das exportações para garantir a liquidez dos produtores.
De acordo com Felipe Jordy, líder de inteligência e estratégia da Biond Agro, diferentemente de 2018, o Brasil agora está em uma posição dominante no mercado. “Mesmo com uma nova guerra comercial, o impacto será mais contido, pois a China já tem o Brasil como principal parceiro”, afirma Jordy.
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