Devíamos tratar da (outra) pandemia
Diferente da covid-19, que é nova para todos, as drogas são um mal que nos assola há algumas décadas e continua fazendo muitas vítimas
Eduardo Costa|Do R7
Impressionado com o volume de crimes e suas características de violência no fim de semana, disse no rádio, quando a segunda começou, que me assusto mais com as drogas que com o vírus. Um amigo ligou logo depois e perguntou se eu não estava exagerando. Respondi que não.
Vamos refletir sobre algumas verdades.
Primeira delas: Belo Horizonte registra hoje 621 mortes por Covid 19 e eu, embora não tenha contado, garanto aos amigos que a cidade tem hoje dez vezes mais de gente morrendo em suas ruas por uso excessivo de drogas. E com um detalhe, as vítimas do vírus, graças a Deus, não morreram por falta de assistência médica, afogando-se sem estar dentro da água, sem respiradores. As vítimas do crack estão por todo lado, feito zumbis, agonizando e esperando a hora, sem efetivo cuidado.
Perfil das vítimas: dados da Secretaria de Estado da Saúde mostram que 72% dos mortos pelo vírus tinham alguma comorbidade, como diabetes, hipertensão ou doenças cardiovasculares, e a idade média era de 70 anos; os que a droga mata têm, todos sabemos, idade entre 10 e 30 anos, na maioria absoluta e sua comorbidade é o abandono, a miséria, a falta de sonhos.
Fique claro que não minimizo os mortos do vírus; afinal, tenho mais de 60, mas, acredite amiga, o fato de estar no grupo de risco me incomoda menos que assistir a uma menina de 16 anos pegando o revólver do namorado para atirar em um rival já morto e, em seguida, passar duas vezes com o carro por cima do cadáver.
Agora, o detalhe que faz o repórter chamar a polêmica: a Covid é algo novo, para o mundo todo, afinal, a última pandemia foi há 102 anos; não temos remédio senão usar a máscara, manter distância e esperar a vacina; as drogas são um mal que nos assola há algumas décadas, com crescente e incontrolável consequência sem que façamos algo, embora tenhamos o diagnóstico e as políticas públicas – no caso de usuários – e o aparato de segurança para os traficantes. Não conseguimos as verbas que apareceram agora em centenas de bilhões de reais para a pandemia e não enxergamos qualquer esforço, qualquer vontade política para combate de verdade.
Você não precisa concordar comigo: se puder, reflita um pouco. E cobre do seu vereador, seu deputado, senador, prefeito, governador e de todos os candidatos que vão bater à sua porta até novembro.
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