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Eu não quero ser político

Prefeito de SP assinou decreto impondo regras de limitação na cidade, por causa da pandemia, e foi ao Rio assistir jogo com o filho

Eduardo Costa|Do R7 e Eduardo Costa

Prefeito registrou momento no estádio Maracanã
Prefeito registrou momento no estádio Maracanã Prefeito registrou momento no estádio Maracanã

Não há uma semana em que alguém não me pergunte se eu não vou me candidatar a algum cargo eletivo. Nunca digo a palavra jamais por me reservar o direito de mudar de ideia, mas, enquanto meus ouvidos captam o questionamento, meus olhos fitam as expressões do interlocutor e meu cérebro faz uma análise se ali está mais um quer me quer bem e acha que de fato eu poderia ser útil na busca de dias melhores para sua vida ou, quem sabe, outro dos que sonham com alguém que conhece em postos de poder e, assim, pedir aquelas coisas não republicanas, como emprego, empurrão num concurso ou qualquer vantagem indevida.

O político é, acima de tudo, um corajoso. Primeiro, se você tiver 5 mil votos vai acreditar que teve 15 mil, pelo tanto que vai escutar “prestigiei você lá” ou “que bom que meu deputado venceu”. Acho o eleitor, em muitos casos, mais falso que o candidato. Aliás, essa é uma das razões de não querer entrar para o mundo da política: se você for sincero de verdade, não dá conta: o sistema te obriga a fingir, dissimular, mentir ou, no mínimo, abordar a verdade de jeito “bem estruturado”, ainda que a consciência esteja sofrida.

A partir do momento em que se candidata, você é mais um ladrão, oportunista e cão farejador de dinheiro e poder. Não tem mais família, vida particular, desejos, prazeres, alegrias. Sem falar nas tais redes sociais onde todo mundo julga, condena e lacra sem juízo, sem perdão ou compromisso.

Dei essa volta para chegar no prefeito de São Paulo, Bruno Covas. Ele assinou um decreto impondo regras de limitação da vida em sua cidade, por conta da pandemia, e foi ao Rio assistir um jogo do seu time com o filho – uma criança de uns 8 anos. Fosse eu assessor do prefeito não o deixaria ir de jeito nenhum.

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Consigo compreender o fato de as pessoas estarem questionando, mas, o massacre é desumano.

Gente, só Deus sabe quando vamos morrer. No entanto, é lícito imaginar que quem tem um câncer espalhado pelo corpo e foi aconselhado pelo médico a descansar, se distrair, depois de mais 24 sessões de radioterapia possa curtir o filho um pouco. A paixão do pai e da criança é o Santos. E era um jogo histórico. E Covas não foi com dinheiro da Prefeitura, sequer faltou ao trabalho porque estava licenciado. Ele não sabe por quanto tempo vai estar perto do filho. Então, aquelas horas no Maracanã – onde estava respeitando protocolos – vão ficar na memória de ambos para o resto da vida.

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Se você disser que ao se candidatar à reeleição Bruno Covas abriu mão de sua privacidade, em respeito.

Só não quero essa vida; não há poder, dinheiro ou fama que possa me impedir de curtir horas inesquecíveis com minhas filhas quando estiver de folga do serviço. Isso, definitivamente, não é vida.

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