Mobilidade Urbana: Desfilando com a requintada Yamaha XMAX ABS
Scooter sucesso na Europa tem 250 cilindradas, controle de tração, freios ABS e chave de presença, tem design premiado, toda iluminação por LED, chegou há 12 meses e já é líder de mercado no segmento de 250/300cc
Moto Segurança e Trânsito|André Garcia, do R7
Há quase uma década a discussão do tema Mobilidade Urbana tomou conta de simpósios, redes sociais e acaloradas discussões políticas, onde por força da Lei 12.587 de 2012 por falta de visão combinado a lobby de setores da economia, o veículo de duas rodas foi jogado na mesma vala do automóvel, ou seja, foi ignorado como alternativa de deslocamento. Na prática vimos que a omissão do Congresso Nacional para com o veículo de duas rodas, não foi aceito pela sociedade que busca cada vez mais o veículo de duas rodas à combustão para ganhar tempo em relação ao automóvel ou fugir do transporte público. Com a pandemia vimos um crescimento na procura por tal modalidade e o scooter, tratado tecnicamente como motoneta no nosso Código de Trânsito Brasileiro, vem cada vez mais ganhando adeptos, dado sua facilidade de condução com sistema CVT, economia de combustível, por ocupar pouco espaço na via pública e ainda ter sob o banco capacidade de carga muito interessante que varia em cada modelo e fabricante.
A Yamaha do Brasil causou furor no público ao apresentar o X-MAX ABS durante o Salão Duas Rodas de 2019, que chegou aos concessionários em março de 2020, dotado de um motor de 250 cilindradas, monocilíndrico SOHC de 4 válvulas, 4 tempos com refrigeração líquida, com 22,8 cv de potência à 7000 RPM e bons 2,5 Kgfm de torque a 5500 RPM, movido a gasolina com sistema de transmissão automático, câmbio CVT.
Há quem torça o nariz porque na Europa o X-MAX é dotado de 300cc com mais torque e potência, mas, como sempre falo, pilote antes de opinar, já que o motor de 250cc oferecido não tira os atributos superlativos do produto.
E o primeiro atributo superlativo, sem sombra de dúvida é quanto ao design: o XMAX é bonito e chama atenção por onde passa ou quando para em um semáforo ou em vias de estacionamento. É daqueles raros produtos onde há quase unanimidade em relação a beleza e não por menos em 2018 ganhou dois dos mais importantes Prêmios de Design do mundo: Red Dot Design Awards, na categoria Design de Produto e o iF Design Award, pela organização mais antiga do mundo - iF International Forum Design.
Na minha opinião, o único item que destoa do conjunto Yamaha XMAX ABS é a pedaleira, você contempla sua beleza, suas linhas e de repente o que é aquilo?? A Yamaha poderia pintar de preto as pedaleiras para combinar com o conjunto ou bolar algo que melhore o já excepcional design e acabamento.
Como não fui no lançamento e não tinha tido qualquer contato com o produto, quando foi entregue em casa para avaliação, a primeira coisa que fiz foi baixar o manual do usuário disponível no site do fabricante em pdf. Se a dica fosse bom, não dava, mas vendia. Leia, porque demora um pouco para se familiarizar com os recursos sem chave ou sistema de chave inteligente.
Nota: Informação de segurança, página 1.4: Carga máxima 161 kg, ou seja, piloto + garupa + carga no compartimento não deve passar de 161 kg.
Ao sentar (motoneta se senta e moto se monta) você nota um banco durinho mas confortável com a linha de cintura alta, mas a Yamaha poderia pensar em afinar o banco na zona interior das coxas para facilitar o apoio dos pés de quem tem menos de 1,70 de altura. Na minha opinião o banco podia ser mais baixo, resolvendo o problema de apoiar os pés dos desavantajados em estatura e proporcionando um casamento melhor piloto-máquina, em outras palavras, vestiria melhor ou se encaixaria melhor, apesar de se acostumar fácil e os pés ficarem bem apoiados nas duas posições possíveis, uma mais relaxada com as pernas mais esticadas e outra mais dobradas com as plantas dos pés na horizontal. Apesar da pedaleira destoar do conjunto, o garupa vai confortável devido ao banco e os apoios para os pés são bem posicionados sem que para isso as pernas fiquem demasiadamente flexionadas. Igualmente eficientes são os apoios para as mãos confeccionados em alumínio, que além de ergonômicos, são fixados de tal forma que os braços encontrem um posicionamento mais natural.
Nota: A altura do banco dificulta as manobras, quase sempre, sendo necessário, no meu caso com 1,65 de estatura, descer para fazê-lo, mas note que apesar dos 179 Kg em ordem de marcha o XMAX tem uma boa distribuição de peso, pois parece ser mais leve.
Dado a altura do banco, apesar de 795mm, os braços tendem a ficar um pouco mais abertos, os punhos são ergonômicos com excelente tato, só trocaria o lampejador do farol alto, no punho esquerdo, do dedo polegar para o dedo indicador, já que o dedo polegar é importante para segurar o guidão. Guidão que conta com duas opções de ajuste na distância, podendo ser posicionado 20 mm mais a frente, completa o para-brisa que permite um posicionamento 50 mm mais alto, oferecendo maior proteção contra vento, chuva e detritos, mas com velocidade igual ou acima a 120 km/h, na cidade eu e minha esposa que participou da avaliação, preferimos sem parabrisa ou um diminuto como da NMax 160 ABS.
Nota: Ponto positivo para o pisca alerta, posicionado no punho direito, muito útil para sinalizar eventuais paradas de emergência ou sinalizar advertência quando em movimento. Mas, sugiro a Yamaha rever que quando é desligada o pisca alerta também desliga, salvo se estiver com o guidão travado, entendo que em uma parada para descer o pedestre onde é necessário abrir o banco, não tem lógica travar o guidão, já que é uma parada rápida e o pisca alerta deveria se manter ligado.
Ao ligar, sem necessidade de chave (Smart Key), o motor você nota pouco ruído e pouca vibração, não espere nas arrancadas aquela saúde que a NMAX tem, sim a XMAX parece ter uma certa preguiça nas saídas e quando está com garupa é pior, mas nada que desabone ou que coloque o piloto em risco, mesmo assim ela sai bem na frente de qualquer veículo de quatro ou mais rodas e de várias motos.
O painel é completo, multifuncional de fácil leitura, dado o velocímetro e conta-giros serem analógicos com um display digital em LCD entre eles. É possível a leitura do marcador de combustível, temperatura do motor, hodômetro total e parcial, consumo instantâneo e autonomia, mesmo com sol a pico. Nele também são indicados o nível de carga da bateria, velocidade média, temperatura ambiente, relógio, indicador de troca da correia do CVT, indicador de troca do óleo do motor, e tempo de viagem. Funções como indicador de controle de tração ativado e funcionamento do ABS são indicadas através de luzes de advertência. Tudo é acionado por um botão o punho direito que preferia que fosse no esquerdo, já falei algumas vezes de ergonomia e entendo que no punho direito só acelerador e freio dianteiro.
Nota: No painel se pudesse eu trocaria a informação de velocidade média pela de autonomia (RANGE).
Na ciclística, seu chassi é underbone, tem entreeixos de 1,540mm, o ajuste da suspensão que conta na dianteira com garfo telescópico com curso de 110mm e na traseira motor-balança com curso de 92mm/70mm na roda, que permite ajuste na pré-carga da mola em até 5 diferentes posições, combinado as rodas de 15 polegadas na dianteira calçada com pneu na medida 120/70 e na traseira com 14 polegadas calçada com pneu na medida 140/70, sofre bastante nos buracos e ondulações de São Paulo. Ouso sugerir a Yamaha recalibrar a suspensão visando mais conforto, raras vezes deu fim de curso na dianteira (na traseira nenhuma vez) já que sua opção foi por um acerto, digamos mais esportivo, tanto que a apresenta como “Sport Scooter” e rever a calibragem dos pneus Dunlop ScootsMart que na determinação do manual e no selo informativo dentro do bagageiro consta 29 no dianteiro e 33 no traseiro, mas a reclamação da minha esposa quando na garupa foi tanta, que parei o XMAX e, pela primeira na vez na vida descumpri o acerto de engenharia, baixei a calibragem para 26 na dianteira e 30 na traseira, melhorando bastante a sensação de dureza e a coluna da garupa agradecendo. Com essa calibragem de pneu, notei o scooter muito mais estável e gostoso na tocada urbana.
Nota: Não recomendo alterar a determinação de fábrica, mas aguardo um posicionamento quanto à recomendação da calibragem do pneu com 29/33, além de extremamente dura, tive a sensação de pneu muito cheio e a sensação com pista molhada piora.
O XMAX tem uma ciclística impecável característica determinante dos produtos Yamaha, ágil e fácil para ziguezaguear pelo trânsito, faz curvas como em trilhos.
Se no trecho urbano a XMAX peca pela falta de pimenta no motor e o acerto de suspensão que gera um desconforto, bem verdade por culpa do Estado que nos oferece um asfalto digno de cassar o CREA do engenheiro, em rodovia ela esbanja conforto e performance, é incrível esse scooter a partir dos 80 km/h e aos 6500RPM à 120 km/h parece que o motor acorda, se com garupa um tanto mais lento é verdade, mas o scooter está na mão e pede para acelerar.
Nota: Se falta pimenta na performance do XMAX, por outro lado sobra economia. Cravei sempre 34 km/l no painel e realizando o cálculo na bomba de gasolina com quantidade de litros e quilômetros percorridos. Deixando no painel o consumo instantâneo e com alguns macetes é possível melhorar, ainda mais, o consumo que nos dias de hoje com gasolina a peso de ouro, o bolso agradece.
Para parar o Yamaha XMAX ABS conta com freio dianteiro hidráulico com 1 disco de 267 mm e no traseiro, também hidráulico, com 1 disco de 245 mm dotados de sistema ABS independentes, gostei bastante da mordida inicial e progressividade do freio, cujo sistema ABS é pouco intrusivo, inclusive na traseira onde na concorrência é acionado facilmente, com essa Yamaha só mesmo em caso de estresse.
Nota: O controle de tração, assim como o ABS, é importante dispositivo de segurança ativa de veículo. Não foi acionado nenhuma vez, quem participou do teste-drive nada relatou, mas só de estar lá é um alívio por saber que já contamos com 3 anjos da guarda: o meu pessoal, o ABS e o TCS.
Como das outras vezes que avaliei scooters concorrentes da XMAX, dado a importância que o segmento tem hoje, busquei ouvir a opinião de dois consumidores que fazem uso de scooter no dia a dia.
Minha esposa Alides (1,62 de estatura), enfermeira, 48 anos, motociclista desde os 14 anos, curtiu uma época no interior que andava de RD 350 e de CB750F e hoje usa scooter para ir e voltar do trabalho: “Achei linda, adorei o espaço embaixo do banco, muito confortável para pilotar ou andar na garupa, muito alta, achei muito dura nas ondulações e buracos do Morumbi, mas mesmo assim levaria para minha garagem”.
Dagoberto de Moura Filho, 53 anos(1,73 de estatura), motociclista desde os 5 anos, começou a correr de moto na categoria RX 125 – 1980, depois migrou para Motocross nos anos 1984 a 1986, Campeão Paulista de Supermoto SM5 – 2010, 3º Lugar Campeonato Paulista Supermoto SM4 – 2011, Instrutor Junior Cup – 2015 a 2018. Atualmente tem uma Citycom 300 e uma Piaggio MP3 400 cc: “Produto extremamente bem acabado, assim como a Citycom HD 300. Uma ergonomia razoável, pois achei a linha de cintura alta e pouco espaço para encontrar uma melhor posição para os pés. Freios eficientes, ABS acionado em condições de stress, atenderam bem a expectativa. Consumo, não posso opinar. O Painel, acabei não avaliando nos detalhes,mas é bonito e oferece fácil leitura. Ótimo espaço sob o banco. Aceleração progressiva, nem senti a necessidade de TCS. Velocidade final não pude avaliar.”
Por fim, se na categoria abaixo de 250cc considero o NMAX 160 ABS o melhor scooter da categoria e afirmo isso desde seu lançamento em 2016, o mesmo não posso dizer do XMAX ABS mesmo sendo um produto premium dado seu nível de acabamento e qualidade, mimos como ausência de chave, iluminação por LED, o maior porta-malas ou compartimento sob o banco no segmento, mas, o preço é um tanto salgado (mas entrega o que promete), entendo que falta um acerto melhor na suspensão e na calibragem dos pneus, além da necessidade de melhorar a ergonomia para encaixar melhor o piloto, talvez descendo a linha de cintura, e este alcançar mais facilmente os pés no chão e ficar com os braços mais relaxados. Vale lembrar que como não mando em casa, considerando que não tenho automóvel há quase uma década, no dia a dia só usamos moto e scooter, já que automóvel só alugado sob demanda, o imbatível espaço do XMAX, plano de manutenção e a rede de concessionárias pesa bastante na difícil escolha que faremos para ter um scooter na faixa de 250/300cc em nossa garagem, que será pormenorizado na matéria "HD300 x Downtown x Xmax ABS - Qual Comprei?”.
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