“As pessoas precisam ter noção de que o planeta é um só e que precisa ser muito bem tratado”
No Dia Mundial do Meio Ambiente, o papel de todos na conscientização e preservação
Em entrevista ao blog Mundo Agro, Paulo Engler, diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes de Uso Doméstico e de Uso Profissional (ABIPLA), destaca a importância da logística reversa, o papel das cooperativas e o compromisso da indústria com a economia circular no Brasil.
Mundo Agro: Por que o índice de reciclagem no Brasil ainda é tão baixo, mesmo com a existência de leis como a PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos)?
Paulo Engler: Temos duas questões diferentes aqui. A primeira, indiscutivelmente, é que a lei precisa ser regulamentada e adotada pelos estados. Isso é importantíssimo para que ela, de fato, tenha alcance nacional e vigência plena, garantindo sua eficácia, para que todos realizem a logística reversa. O segundo ponto é que precisa haver engajamento real das empresas que estão obrigadas ao cumprimento da logística reversa, mesmo que ela esteja estabelecida em algum estado ou município onde não haja uma obrigação formal para isso. Então, aqui, a questão é relativamente simples: trata-se da conscientização das empresas em cumprir a Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Mundo Agro: De que forma a indústria de produtos de limpeza pode servir como exemplo para outros setores no avanço da economia circular?
Paulo Engler: A indústria de produtos de limpeza está engajada na realização da logística reversa desde 2006. O programa Mãos para o Futuro existe desde essa época: começou no Rio de Janeiro, veio para São Paulo e depois se tornou nacional. A legislação que obriga a logística reversa é de 2010, mas entrou em vigor somente em 2011. Ou seja, o setor de cosméticos, higiene pessoal, produtos de limpeza para uso doméstico, uso profissional e massas alimentares industriais realiza esse trabalho excepcional desde 2006. Trata-se de um compromisso real que essas indústrias têm com o meio ambiente. E isso, na minha visão, é um exemplo para as demais cadeias produtivas.
Mundo Agro: Qual o papel das cooperativas de catadores dentro da cadeia de economia circular?
Paulo Engler: Elas são essenciais para que a economia circular aconteça. Inclusive, o Brasil conta com essa mão de obra: pessoas nas cidades que promovem o recolhimento dessas embalagens e as encaminham para cooperativas. Portanto, eles são fundamentais. E isso, de certa forma, torna a operação também inclusiva dentro do aspecto social. Ou seja, elas são extremamente importantes para que a reciclabilidade e a circularidade funcionem adequadamente.
Mundo Agro: Como o uso de embalagens recicláveis ou reutilizáveis pode ser incentivado no campo?
Paulo Engler: Hoje a indústria utiliza toda embalagem ou matéria-prima reciclada possível. Falta esse tipo de embalagem, esse tipo de matéria-prima no mercado. Se houvesse mais, certamente haveria maior utilização. Então, aqui é uma questão de fomento industrial mesmo para essa área de matéria-prima — sejam resinas, enfim — que sejam originárias da reciclagem. O que houver, o mercado certamente vai comprar. Inclusive, ele está buscando esse tipo de material. Em geral, as indústrias têm se esforçado para reutilizar material reciclado e até mesmo inovar com embalagens mais simples, como o refil. A embalagem sempre existirá. O importante é sempre encontrar um caminho mais sustentável. Hoje, ser sustentável é conhecer o que está disponível no mercado. Há, de fato, novas embalagens, novas aplicações, novas resinas — enfim, há um arcabouço grande de possibilidades onde é possível à indústria utilizar essas novas embalagens mais ecológicas para o uso do consumidor. Então, é uma questão de pesquisa e desenvolvimento. Sei que, muitas vezes, essas novidades podem até encarecer o produto final para o consumidor, mas elas são importantes para a sustentabilidade. Portanto, a busca por pesquisa e desenvolvimento é essencial nessa área.
Mundo Agro: E, por último, ainda existem pessoas que não fazem coleta seletiva ou locais onde não há esse incentivo. O que o Sr poderia falar sobre? Falta campanha? Incentivo? Não é só ajudar o meio ambiente. É um ciclo de ajuda.
Paulo Engler: De fato, ainda há municípios que não implementaram a coleta seletiva. Isso é uma questão complicadíssima e que precisa ser resolvida o mais brevemente possível. A conscientização é essencial para que o cidadão comum exija isso do poder público e também o pratique no ambiente privado — dentro da empresa, do comércio ou de casa. As pessoas precisam ter essa consciência. Por quê? Porque o meio ambiente é um só — e é o único que temos, né? Então, é isso: as pessoas precisam ter noção de que o planeta é um só, e ele precisa ser muito bem tratado.
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