Azeite com história: Filippo Berio une tradição, ciência e sustentabilidade
Com raízes na Toscana, marca italiana se consolida no Brasil e no mundo com azeites e produtos que unem tradição e inovação

Com raízes na tradição olivícola italiana e mais de um século de história, uma das mais respeitadas produtoras de azeite do mundo segue conquistando mercados e paladares em mais de 75 países. Combinando inovação, sustentabilidade e rigor na seleção de ingredientes, a empresa tem investido em tecnologia de ponta, pesquisa agronômica e práticas sustentáveis, tanto no campo quanto na indústria.
O Mundo Agro conversou com Eduardo Casarin, Country Manager no Brasil e América Latina, para saber mais sobre os planos da companhia no país, os projetos voltados à agricultura de precisão, o combate a doenças que ameaçam os olivais e como tradição e ciência caminham juntas na produção de azeites e outros produtos de excelência.

Mundo Agro: Filippo decidiu produzir azeite na primeira metade dos anos 1800, em Lucca. O azeite já era uma mercadoria importante nessa época, e a Itália já era conhecida pelo cultivo de oliveiras e pela produção de azeite desde a antiguidade. O que levou Filippo a se tornar um produtor de azeite? Ele tinha alguma conexão com pessoas que já trabalhavam nesse setor?
Eduardo Casarin: Filippo Berio nasceu em Oneglia, na Ligúria, uma região já famosa pela produção de azeite de oliva. No entanto, aos seis anos de idade, mudou-se com sua família para Lucca, na Toscana, uma área tradicional na olivicultura. Lá, entrou em contato com a tradição secular da produção de azeite e, graças à sua paixão inata e visão empreendedora, decidiu dedicar-se a esse setor. Seu talento, aliado à qualidade das matérias-primas toscanas, permitiu-lhe desenvolver um negócio de sucesso que perdura até hoje.
Mundo Agro: Ele conquistou o mercado oferecendo paixão e grande atenção à seleção e qualidade. Seu legado continua até hoje. Podemos dizer que Filippo foi um visionário?
Eduardo Casarin: Sem dúvida. Filippo Berio não era apenas um perfeccionista, mas também um empreendedor visionário. Seu profundo conhecimento sobre o azeite de oliva e seu compromisso com a seleção de qualidade levaram-no a criar uma marca sinônimo de excelência. Seu verdadeiro golpe de gênio foi expandir o negócio além das fronteiras italianas, acompanhando as rotas dos emigrantes italianos que queriam levar consigo os sabores de sua terra natal. Já no início dos anos 1900, Filippo Berio estava entre as marcas italianas de azeite mais exportadas. Sua integridade e dedicação foram reconhecidas até mesmo pela imprensa local, como demonstra uma citação do jornal lucchese “Il Figurinaio”, que o descrevia como um homem de negócios honesto e incansável: “Tratava os negócios à moda antiga, de maneira franca e digna, e podemos afirmar sem exagero, por nossa afetuosa admiração, que, em toda a sua longa e laboriosa – era um trabalhador incansável – carreira de comerciante, não tinha do que se envergonhar, nem uma mentira, nem um engano.” A história da Salov é a história de como o talento, a intuição e a determinação de um homem deram origem a um fenômeno que já dura mais de 150 anos. Esse homem é Filippo Berio, o empreendedor que soube transformar sua paixão pelo azeite de oliva em um produto que hoje está presente nas mesas de famílias em mais de 75 países ao redor do mundo.
Mundo Agro: A empresa começou a exportar azeites para os EUA e, em seguida, expandiu para o mundo todo. Quais são os próximos objetivos da marca? Existe algum mercado, em algum país, onde vocês ainda não estão presentes? Você acha que Filippo imaginou que a empresa chegaria onde está hoje?
Eduardo Casarin: Hoje, Filippo Berio está presente em mais de 75 países, com forte presença em mercados-chave como Itália, EUA, Reino Unido, Rússia, Brasil, Bélgica, Suíça, Hong Kong entre outros. O principal objetivo é consolidar e fortalecer nossa posição nesses mercados estratégicos, mas estamos sempre atentos a novas oportunidades. Filippo Berio provavelmente não teria imaginado um sucesso dessa magnitude, mas sua ambição e determinação ainda hoje impulsionam nosso crescimento.
Mundo Agro: O azeite é o carro-chefe da marca, mas vocês também oferecem produtos como pesto, molho de tomate e vinagre balsâmico. Vocês cultivam as uvas em suas próprias propriedades ou são parceiros de algum produtor?
Eduardo Casarin: Nossas linhas de pestos, molhos e vinagre balsâmico têm sido um grande sucesso, especialmente em mercados como os EUA, UK, Rússia, onde somos líderes na categoria de pesto. A América Latina, e especialmente o Brasil, também estão experimentando um grande crescimento nesses segmentos. A qualidade é nosso ponto forte: os tomates dos molhos vêm de diversas regiões italianas por exemplo, enquanto o vinagre balsâmico é produzido em Modena, sua terra natal, graças a colaborações com produtores locais selecionados. Nossa atenção à qualidade e à tradição é o que torna esses produtos complementares ao azeite de oliva Filippo Berio.
Mundo Agro: A Villa Filippo Berio também participa de pesquisas. O projeto Life Resilience identificou 18 genótipos potencialmente resistentes à Xylella fastidiosa, uma bactéria que pode atacar várias plantas e causar sua morte. Como foi participar e contribuir para esse estudo de 4 anos? Durante a pesquisa, foram utilizadas técnicas de agricultura de precisão, reduzindo o uso de produtos fitossanitários, fertilizantes, água e combustíveis fósseis, diminuindo assim as emissões de CO2. Essas práticas também são aplicadas em seu olival?
Eduardo Casarin: A Villa Filippo Berio foi concebida para ser um local onde “o azeite de oliva está no centro” de tudo. Trata-se de um verdadeiro laboratório a céu aberto, onde, em colaboração com o CNR – IBE e outras universidades italianas e estrangeiras, são desenvolvidos projetos relacionados a novas técnicas de agricultura de precisão, agricultura sustentável, valorização da biodiversidade e testes em cultivares resistentes ao Verticillium, um fungo que afeta a oliveira. A Villa Filippo Berio também abriga as atividades relacionadas ao Life Resilience, um projeto europeu voltado ao desenvolvimento de técnicas culturais e genótipos de plantas produtivas capazes de combater a bactéria patogênica Xylella Fastidiosa. Oficialmente concluído pela Comunidade Europeia no outono de 2022, com resultados extremamente positivos para todas as metodologias, o “Life Resilience” continua com os testes de campo dos 18 novos genótipos potencialmente resistentes à Xylella Fastidiosa, conduzidos em uma seção dedicada dentro do olival da Villa.
Mundo Agro: E não é só isso, né?
Eduardo Casarin: Ainda temos também outros projetos: Novas técnicas de agricultura de precisão na cultura da oliveira. O projeto permite ao CNR aplicar a agricultura de precisão ao setor olivícola, utilizando sensores, drones e satélites para monitoramento em tempo real. Isso transforma o olival Filippo Berio em um “laboratório a céu aberto” para desenvolver técnicas inovadoras e melhorar a qualidade do azeite. E a valorização da biodiversidade olivícola. A Itália tem a maior diversidade de azeitonas do mundo, e o projeto busca aproveitar esse potencial. O CNR identificou variedades toscanas antigas para reintrodução no olival da Villa Filippo Berio. O objetivo é recuperar cultivares em desuso e fortalecer o setor olivícola. Isso ajudará a preservar a biodiversidade e enfrentar as mudanças climáticas.
Mundo Agro: Quantos hectares de oliveiras vocês cultivam? Quais tipos de azeitonas? A colheita acontece sempre em novembro, certo? Utilizam alguma tecnologia para avaliar as oliveiras, como a genética? E como monitoram o rendimento das árvores? Onde mais utilizam tecnologia no campo, como no monitoramento das oliveiras, solo, irrigação, etc.?
Eduardo Casarin: Para os projetos agronômicos, é importante considerar o papel fundamental desempenhado pela Villa Filippo Berio. Fundada na década de 1990, a fazenda Villa Filippo Berio – pertencente à Salov – é uma das maiores propriedades olivícolas da Toscana, com 75 hectares de olival em uma única área de terra. A Villa Filippo Berio, onde “o azeite de oliva está no centro” de tudo, conta com 75 hectares de olival em um único corpo de terra, localizado entre Pisa e Lucca. Cultivamos variedades como Frantoio, Leccino, Pendolino e Leccio del Corno. O olival tem cerca de 22.000 árvores e possui um moderno sistema de moagem das azeitonas.
Mundo Agro: No processo de colheita , o método utilizado é manual e envolve o uso de uma espécie de vassoura para retirar as azeitonas dos pés, que caem em uma tela. Esse processo sempre foi assim? Como era feito antigamente? Existe muito desperdício com essa técnica? Após a colheita, poderiam me explicar o passo a passo do processo: como fazem a lavagem (reutilizam a água?), o que é feito com as folhas e outras impurezas que caem junto com as azeitonas? Elas são usadas para algum propósito, como adubo? Gostaria de saber mais sobre as ações sustentáveis que aplicam tanto no campo quanto na fábrica.
Eduardo Casarin: No passado, redes eram estendidas sob as árvores e as azeitonas eram colhidas manualmente ou se esperava que caíssem naturalmente, o que afetava a qualidade. Hoje, a colheita é planejada com base nas características do produto que queremos obter. Utilizam-se os chamados “vibradores” ou “pentes”, que movimentam a planta ou os galhos para fazer as azeitonas caírem, sempre recolhidas nas redes abaixo. Depois, elas são levadas para a remoção das folhas e para a lavagem, antes de serem moídas (ou seja, passam pelo gramolador, que as tritura junto com o caroço, formando uma pasta). O resíduo das folhas e das podas é reaproveitado como fertilizante no olival, e o chamado “nocciolino” – obtido da polpa, casca e caroço das azeitonas – é vendido e utilizado como combustível, por exemplo, como alternativa ao pellet. No setor industrial (unidade produtiva), temos muitos outros projetos. Para a Salov, a sustentabilidade não é apenas uma questão de desempenho a ser relatado, mas um pilar que orienta as estratégias empresariais nos âmbitos ambiental, social e econômico. A empresa, com sua expertise no mundo do azeite de oliva, dedica-se a promover seu compromisso com a sustentabilidade por meio de diversas atividades e projetos concretos, que também visam melhorar a qualidade do azeite. As atividades desenvolvidas em colaboração com universidades e institutos de pesquisa representam um ativo fundamental e distintivo na visão estratégica de sustentabilidade da Salov.
Mundo Agro: Quais são os projetos?
Eduardo Casarin: Os industriais são voltados para a melhoria dos sistemas produtivos. Os agronômicos para o desenvolvimento de uma olivicultura com menor impacto ambiental. Os sensoriais pretendem aprimorar a qualidade do azeite e sua percepção pelos consumidores. Os principais projetos de pesquisa desenvolvidos pela Salov desde 2021 foram:
Long Life Oil – Cofinanciado pela Região da Toscana, o projeto busca identificar soluções tecnológicas capazes de prolongar as características organolépticas do azeite de oliva ao longo do tempo.
Degomagem Enzimática – Projeto relacionado ao processo de refino do óleo de sementes, com o objetivo de substituir alguns reagentes químicos por enzimas naturais. Foi premiado no Grocery & Consumi Awards, na categoria “Melhor Iniciativa Sustentável em Produção”, durante o Cibus Connecting 2023.
Mas o principal projeto sensorial de 2022, que ainda está em andamento, é o Projeto Zhaw – desenvolvido em parceria com a University of Applied Sciences – Institute for Food and Beverage Innovation ZHAW (Zurique). Ele se concentra em uma característica específica do azeite extra virgem: a harmonia, ou seja, o equilíbrio entre a intensidade das diferentes notas positivas do azeite. O projeto já resultou na criação de um blend específico, e pesquisas continuam sendo realizadas para garantir a harmonia em todos os azeites EVO da Salov.
Mundo Agro: As pessoas que trabalham na colheita são da região ou há imigrantes envolvidos?
Eduardo Casarin: São tanto trabalhadores locais quanto imigrantes de diversas origens.
Mundo Agro: No processo de produção do azeite, existe a prensagem fria e quente. Gostaria de entender melhor essa diferença. Como ela afeta o produto final, como o sabor e o aroma?
Eduardo Casarin: A prensagem a quente das azeitonas não existe na produção de azeite extravirgem. A extração do azeite de oliva ocorre a frio, ou seja, a uma temperatura controlada abaixo de 27°C, para preservar suas características organolépticas e nutricionais. No entanto, existem processos industriais para óleos de qualidade inferior que utilizam calor para aumentar o rendimento, mas esses produtos não se enquadram na categoria de extravirgem ou virgem. Em resumo, quando falamos de azeite de qualidade, a prensagem é sempre a frio!
Mundo Agro: Já experimentei o “Reserva Ouro”. O que o solo e o clima da região influenciam nesse azeite?
Eduardo Casarin: O Riserva Oro é um dos nossos produtos mais exclusivos, elaborado a partir de azeitonas 100% italianas. É um azeite de sabor intenso e fresco, que tem conquistado cada vez mais consumidores no Brasil e no mundo. Ele também recebeu diversos prêmios no BRAZIL IOOC.
Mundo Agro: Os demais azeites de vocês são uma mistura de azeitonas de diferentes origens?
Eduardo Casarin: Como empresa global, trabalhamos com grandes volumes de matéria-prima provenientes de diversas regiões do Mediterrâneo. A produção nacional italiana não é suficiente nem para o consumo interno do país. A habilidade de nossos especialistas na Itália está justamente em selecionar os melhores azeites para criar blends de qualidade excepcional e sabores únicos.
Mundo Agro: O que o azeite representa para você?
Eduardo Casarin: O azeite de oliva é um produto conhecido desde a antiguidade por suas qualidades extraordinárias. Povos da Grécia e Roma Antiga o utilizavam não apenas como alimento, mas também para fins cosméticos e medicinais. Apesar de sua simplicidade, o azeite de oliva é um verdadeiro elixir da saúde, rico em nutrientes benéficos que melhoram o bem-estar diário e protegem o organismo, como as gorduras monoinsaturadas e os polifenóis. Um produto natural que faz bem para o coração, a pele e a saúde em geral!
Mundo Agro: O Brasil é um bom mercado para vocês?
Eduardo Casarin: O Brasil é um dos maiores mercados consumidores de azeite de oliva do mundo, atrás apenas da União Europeia e dos Estados Unidos. Além disso, é um país com uma grande comunidade de descendência italiana (mais de 30 milhões de habitantes têm origens italianas). Esses dois fatores tornam o mercado muito atraente para a marca Filippo Berio. Estamos presentes no Brasil há mais de dez anos, com excelentes resultados tanto com azeites quanto com molhos e pestos. Para os próximos anos, temos planos de crescimento ambiciosos, com foco na expansão da nossa malha de distribuição para novas regiões do país. Nosso objetivo é levar a um número cada vez maior de consumidores um azeite de qualidade excepcional, enriquecido por uma história centenária e tradição inigualável.
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