Indústria brasileira recicla 60% do alumínio e avança na descarbonização
Setor amplia uso de fontes renováveis e já opera com intensidade de carbono 3,3 vezes menor que a média mundial
O Brasil consolida sua posição com um dos alumínios mais sustentáveis do mundo. A indústria nacional investe em energia renovável, tecnologia e economia circular para reduzir emissões e aumentar a eficiência.
Mais de 60% do alumínio consumido no país já vem da reciclagem. E, em comemoração ao Dia Mundial do Meio Ambiente, que é celebrado em 5 de junho, o Mundo Agro conversou com Janaina Donas, presidente-executiva da Associação Brasileira do Alumínio (ABAL).

Mundo Agro: Quais ações que a ABAL e a indústria do alumínio fazem para reduzir as emissões de carbono no setor?
Janaina Donas: A indústria brasileira do alumínio como um todo vem investindo em iniciativas que impulsionam, ao mesmo tempo, a redução de suas emissões setoriais — por meio da substituição de fontes fósseis — e o reposicionamento do país na cadeia global de suprimentos. A utilização de práticas ESG faz com que o alumínio brasileiro seja considerado um aliado estratégico no cumprimento das metas de descarbonização dos principais mercados consumidores. O setor já opera com uma intensidade de carbono 300% inferior à média mundial.
As principais iniciativas para a reduzir o uso de fontes fósseis de energia são:
• Uso intensivo e exclusivo da biomassa nas caldeiras, melhorando a qualidade e realizando a substituição em 100% do uso do Gás Liquefeito de Petróleo (GLP);
• Eletrificação das caldeiras ou uso de biomassa;
• Aumento da eficiência energética e substituição de combustíveis fósseis por renováveis (etanol, biodiesel, diesel sintético, etc);
• Biogás/biometano nos calcinadores de alumina;
• Parcerias para fornecimento e uso de energia solar e eólica;
• Melhorias no processo utilizando inteligência artificial ou outras tecnologias para reduzir consumo específico dos combustíveis (ou aumentar produtividade).
Além disso, a Associação Brasileira do Alumínio (ABAL) anunciou uma parceria estratégica para lançar o primeiro inventário completo de emissões de gases de efeito estufa do setor do alumínio. O projeto está sendo desenvolvido com apoio do Programa Euroclima, da União Europeia, por meio da Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ), em parceria com a Secretaria de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). A iniciativa marca um avanço estratégico para o setor, alinhado às políticas nacionais de transição para uma economia de baixo carbono.
Abrangendo toda a cadeia produtiva do alumínio no Brasil — da mineração da bauxita à reciclagem —, o inventário vai trazer dados inéditos sobre as emissões do setor entre 2019 e 2023. O estudo conta com metodologias internacionalmente reconhecidas, como o GHG Protocol e as diretrizes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC).
Mundo Agro: Hoje podemos falar que a reciclagem de alumínio é de quanto no Brasil? É um bom número ou podemos melhorar? O Brasil já é referência mundial na reciclagem de alumínio, com altas taxas de consumo vindo de material reciclado.
Janaina Donas: Atualmente, cerca de 60% do alumínio consumido já provém de fontes recicladas, enquanto a média mundial é de cerca de 30%. E, analisando apenas o desempenho do segmento de latas de alumínio para bebidas, há mais de 15 anos o índice de reciclagem se mantém acima dos 96%, o que demonstra uma tradição do brasileiro em reciclar. A indústria também faz sua parte no processo de reciclagem do alumínio, reaproveitando a matéria-prima constantemente. O resultado é fruto de um trabalho contínuo. Portanto, as empresas do setor buscam sempre trazer números melhores e colocar o Brasil no protagonismo no que diz respeito a práticas ESG da indústria do alumínio.
Mundo Agro: Qual a importância dessa cadeia, economia circular entre indústria e cooperativas?
Janaina Donas: É um trabalho conjunto e contínuo da ABAL, de toda a indústria de alumínio, especialmente a cadeia de reciclagem – fabricantes de chapas, de latas, envasadores de bebidas, cooperativas e recicladoras – e do Governo, por meio da conscientização da população. Só unidos é possível gerar influência social, econômica e ambiental sobre a reciclagem. Esta atividade tem reflexo na geração de renda para os catadores de materiais recicláveis, além de estimular maior consciência da sociedade sobre a importância da reciclagem e da conservação dos recursos naturais.
Mundo Agro: O caminho é a reciclagem. Esse processo no alumínio consome pouca energia. Como essa eficiência pode ser ampliada?
Janaina Donas: O processo de reciclagem utiliza apenas 5% da energia elétrica e, segundo dados do International Aluminium Institute (IAI), libera somente 5% das emissões de gás de efeito estufa quando comparado com a produção de alumínio primário. O processo diminui o volume de lixo gerado que teria como destino os aterros sanitários. Também estimula a consciência ecológica, incentivando a reciclagem de outros materiais, seja devido ao seu elevado valor residual ou mesmo por meio de programas de educação ambiental, e isso já é um início da consciência coletiva para a reciclagem.
Mundo Agro: Pode nos contar mais sobre o projeto-piloto do Selo Verde do MDIC e o papel da indústria do alumínio nele?
Janaina Donas: As chapas laminadas de alumínio foram escolhidas para o projeto-piloto do Programa Selo Verde Brasil porque representam um produto da cadeia do alumínio com maior valor agregado, uma vez que usam sucata em seu processo produtivo, conferindo eficiência ambiental e fortalecimento da cadeia da reciclagem. Essa é uma iniciativa coordenada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), como parte da estratégia nacional de normalização e certificação de produtos e serviços brasileiros de origem sustentável. A certificação busca fortalecer a competitividade desses produtos no mercado nacional e internacional, alinhando-se às exigências de consumidores e parceiros comerciais por práticas ambientais responsáveis.
Mundo Agro: Como a indústria do alumínio brasileira está se preparando para a COP30?
Janaina Donas: A realização da COP30 em Belém representa uma oportunidade estratégica para a indústria do alumínio brasileira e para destacar as iniciativas do setor na descarbonização e na sustentabilidade. Com o evento, a indústria nacional mostrará que tem um compromisso real com práticas sustentáveis, exemplificado na alta taxa de reciclagem e no uso de energia renovável na produção. A ABAL vê a COP30 como uma plataforma para fortalecer parcerias e promover o alumínio brasileiro como um produto de baixa pegada de carbono, contribuindo para a transição energética global. A participação ativa da ABAL no evento visa reforçar o papel do setor do alumínio na construção de um futuro mais sustentável.
Mundo Agro: Como o Brasil se destaca internacionalmente como produtor sustentável de alumínio?
Janaina Donas: O Brasil está entre os países capazes de entregar produtos de valor agregado e pode assumir uma posição de vanguarda no processo de descarbonização da indústria nacional. A utilização de práticas ESG faz com que o alumínio brasileiro seja considerado um aliado estratégico no cumprimento das metas de descarbonização dos principais mercados consumidores. O setor já opera com uma intensidade de carbono inferior em 3,3 vezes à média mundial. As taxas de reciclagem também merecem destaque, já que estão entre as mais altas do mundo. Além do percentual de recuperação de sucata, o país é referência na reciclagem de latas de bebidas graças aos investimentos do setor de alumínio em coleta e capacidade de reciclagem. Toda a cadeia do alumínio brasileira é certificada pela Aluminum Stewardship Initiative (ASI), que segue os mais altos padrões internacionais de gestão ambiental, social e de governança corporativa. Isso chancela ainda mais a nossa qualidade.
Neste momento, o Brasil precisa avançar em uma política industrial que reconheça o valor agregado das cadeias produtivas, garantindo o tratamento isonômico entre produtos nacionais e importados, bem como em medidas para incentivar a inovação tecnológica e o fortalecimento do ambiente de comércio que garanta a previsibilidade.
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