O futuro da fazenda começa na governança
O sucesso do legado está no planejamento da sucessão familiar
No agronegócio, falar sobre sucessão e governança ainda é um desafio para muitas famílias.
Entre tradição, história e a intensa rotina das fazendas, nem sempre há espaço para planejar o futuro.
Durante a 10ª edição do Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio (CNMA), que aconteceu em São Paulo, o Mundo Agro conversamos com Amanda Salis Guazzelli, advogada, quarta geração de pecuaristas e fundadora da Governança Agro.
Ela explicou que a governança ajuda estruturar negócios e preparar o futuro do campo, e destacou ainda a presença cada vez maior das mulheres na liderança do agro.
Mundo Agro: Existe resistência por parte de alguns produtores rurais ainda com a governança, a sucessão nas fazendas?
Amanda Salis Guazzelli: Sim. Foi justamente essa percepção que nos levou a criar a Governança Agro. Percebemos que havia uma lacuna no agronegócio para tratar de governança e sucessão. É um assunto que ou não é tratado, ou é tratado de forma muito superficial, ou até com elementos distorcidos. Por muito tempo, tentaram aplicar modelos urbanos de governança no agro, mas a realidade do campo é diferente — tem uma linguagem própria, relação com a terra e várias peculiaridades. Nosso objetivo é conscientizar sobre governança e adaptar estruturas que realmente façam sentido para o agronegócio.
Mundo Agro: Você é de uma família de produtores rurais, então compreende exatamente como são as coisas do outro lado.
Amanda Salis Guazzelli: Sou advogada e atuo no agronegócio há mais de 15 anos. Além disso, sou a quarta geração de pecuaristas da família, então conheço de dentro todas as questões do campo. Essa vivência nos permite oferecer consultoria com compreensão real das dores do produtor e dos sucessores. Não atuamos apenas como assessoria externa, mas com experiência prática do que acontece no agro.
Mundo Agro: De todos os clientes que vocês já deram suporte, há mais mulheres assumindo os negócios?
Amanda: Sim, temos percebido isso. Muitas mulheres entram abruptamente — seja por herança, divórcio ou falecimento do cônjuge —, mas elas têm maior disposição e facilidade para falar sobre sucessão, organizar o negócio para os filhos e se cercar de assessores para estruturar a empresa. Elas permitem que outras pessoas ajudem, algo que às vezes vemos mais resistência nos homens. Esse papel feminino tem sido catalisador da governança no agro.
Mundo Agro: A participação das mulheres no agro é realmente crescente?
Amanda: Sim, e isso é evidente. O próprio Congresso Nacional das Mulheres do Agro mostra isso. Conseguir reunir entre 3 mil e 3.500 mulheres em São Paulo durante dois dias para falar sobre agro é um indicativo enorme da força delas na gestão e na continuidade dos negócios.
Mundo Agro: Se você pudesse definir governança em uma palavra, qual seria?
Amanda: Continuidade. É organização para que o negócio continue e atravesse gerações sem depender exclusivamente de uma pessoa.
Mundo Agro: Falando sobre desafios no seu nicho de consultoria, qual é o maior?
Amanda: O maior desafio é mostrar às pessoas o valor da consultoria. Quando há um processo judicial, o problema é visível e as pessoas entendem o custo. Na consultoria preventiva, a perda ainda não aconteceu, então parece gasto desnecessário. Mas o investimento em governança é cinco a sete vezes menor do que o custo de um processo judicial ou de conflitos internos, como divórcios, recuperação judicial, dívidas ou brigas de sócios.
Mundo Agro: E a governança, como ajuda na prática?
Amanda: Ela organiza a empresa internamente, melhora as relações entre sucessores, sócios e colaboradores, institui processos, aumenta a transparência e facilita a compreensão do funcionamento do negócio. Muitos pensam que a governança limita, mas, na verdade, ela é libertadora: permite que você delegue funções e foque no que realmente gosta de fazer.
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