Onde investir seu dinheiro com a alta dos juros para 4,25% ao ano?
Poupança e renda fixa ainda perdem da inflação, especialistas recomendam diversificar para não perder poder de compra
O que é que eu faço Sophia|Sophia Camargo, do R7 e Sophia Camargo
A alta da taxa básica de juros da economia, a Selic, para 4,25% ao ano pelo Copom melhora o rendimento das aplicações em renda fixa e poupança, mas ainda não é suficiente para que eles tenham rendimento acima da inflação e por isso, quem quiser preservar o seu poder de compra vai ter continuar tomando mais risco e diversificando seus investimentos.
Essa é a avaliação de três especialistas consultados pelo R7 para explicar o que fazer com seus investimentos. São eles: Gabriela Mosmann, analista de investimentos da Suno Research; Jayme Carvalho, da Associação Brasileira de Planejamento Financeiro (Planejar) e Joelson Sampaio, professor de Economia da FGV EESP.
Nesta quarta-feira (16), o Comitê de Política Monetária (Copom), aumentou pela terceira vez seguida a Selic em 0,75 ponto percentual e deixou a taxa de juros básica da economia em 4,25% ao ano. Ainda assim, essa taxa é menor do que a previsão da inflação para o fim de 2021. Segundo o boletim Focus, que reúne a previsão do mercado, o IPCA deve terminar o ano em 5,82%.
"Esse aumento de 0,75 melhora a perspectiva ao investidor mas de qualquer forma a renda fixa ainda está perdendo bastante em relação a inflação, os juros reais estão bastante negativos. Se olharmos os últimos 12 meses a inflação analisada a inflação está rodando acima de 8%", explica Jayme Carvalho, da Planejar.
"Com isso, os investidores que deixam um excesso de dinheiro na renda fixa estão perdendo muito da inflação. O aumento é bom para o investidor, porque a renda fixa está muito defasada em relação à inflação, mas para perpetuar patrimônio os investimentos têm que ser remunerados para ganhar da inflação, para corrigir seu poder de compra", explica.
Acompanhe o que eles recomendam para cada investimento:
Poupança
Quando a taxa Selic está abaixo de 8,5% ao ano, o rendimento da poupança cai de 0,5% ao ano + TR (Taxa Referencial) para 70% da Selic mais TR. Mesmo com a alta da Selic para 4,25%, o rendimento da poupança não chega a 3% ao ano (fica em 2,975% ao ano). Deixar o dinheiro nela por um longo período significa comprar menos coisas no futuro do que compraria agora.
Essa observação só vale para os depósitos na poupança nova. Quem tem dinheiro na poupança antiga continua recebendo 6,17% ao ano, ainda bastante superior ao rendimento da renda fixa atual.
"O rendimento da poupança vai ficar melhor mas não é uma aplicação para o investidor colocar 100% do seu dinheiro"
Títulos do Tesouro
Os títulos disponíveis no site do Tesouro Direto são considerados como os investimentos mais seguros porque têm a garantia do Tesouro, ou seja, do governo, e o governo é o último a quebrar.
O Tesouro Selic paga 100% do rendimento da Selic. Assim, quanto maior for a taxa Selic, maior será o rendimento desse título. Por isso, uma expectativa de alta da taxa é boa para quem investe neste papel.
Esse título tem bastante liquidez, ou seja, permite que o investidor transforme a aplicação em dinheiro de forma rápida. É indicado para guardar o dinheiro da reserva de emergência, que não deve visar boa remuneração, mas justamente liquidez.
Tesouro IPCA+ e Tesouro Prefixado – são mais indicados para investimentos de médio a longo prazo, para quem está mirando no horizonte de investimento de cinco a dez anos, pois contêm um pouco mais de risco. Esses títulos pagam o que o investidor contratou quando comprou, mas apenas se o investidor esperar a data do vencimento do título. Se decidir retirar o dinheiro no meio do caminho, poderá ganhar mais ou perder dinheiro, dependendo de como está a taxa de juros naquele momento. Isso é a chamada marcação a mercado.
"Sempre quando tem aumento da taxa de juros a recomendação é investir nos títulos pós-fixados". Os títulos do Tesouro ainda estão com bons prêmios, mas eles começam a cair", explica o professor Joelson Sampaio.
Os títulos do tesouro indexados à inflação são normalmente indicados para quem quer investir para a aposentadoria, porque têm uma duração mais longa.
CDB, LCI, LCA
Esses investimentos de renda fixa devem começar a ter uma rentabilidade melhor na modalidade pós-fixada com o aumento da taxa Selic. "Os CDBs pós-fixados vão começar a render um pouco mais dentro desse aumento (para 4,25%) porque seguem a movimentação da Selic.
Como o CDB é um produto que tem um risco privado, de uma empresa, ele remunera melhor o investidor porque embute mais risco. Quanto mais risco do emissor, maior a remuneração.
Por isso, o ideal é investir dentro do limite da garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), espécie de seguro de investimentos que cobre até R$ 250 mil.
Fundos imobiliários
Ao contrário do que muitos pensam, os fundos imobiliários são investimentos de renda variável. Os fundos são uma espécie de condomínio de investidores em imóveis cujo patrimônio pode ser composto por imóveis comerciais, residenciais, rurais ou urbanos, construídos ou em construção, que serão vendidos, alugados ou arrendados.
O retorno do fundo tende a ser maior quanto menores forem juros e inflação. Como a inflação está alta e os juros estão subindo, os investidores já não se sentem mais tão tentados a comprar cotas.
"A rentabilidade relativa dessa classe de fundo diminui porque a renda fixa começa a aumentar, mas há boas opções de fundos imobiliários principalmente com lançamentos para a classe média, fundos voltados para lançamentos para as classes B e C, esse mercado está bem aquecido. "Esses fundos pagam cerca de 6% ao ano, o que ainda é interessante se comparar à taxa Selic de 4,25% ao ano", diz o professor Joelson Sampaio.
Fundos multimercados
São fundos que podem investir em juros, moedas, ações, podem fazer operações alavancadas, trabalhar com renda fixa. O importante para escolher é ver a rentabilidade histórica, se o gestor entrega bons resultados continuamente.
"Não dá para dizer tanto o impacto nesse tipo de investimento porque vai depender muito da estratégia do getor e da capacidade dele de alocar os seus investimentos. A ideia é que o multimercado tenda a performar um pouco melhor do que ativo que estiver sendo o melhor no momento", resume Gabriela.
Ações
A alta da taxa de juros ainda não é tão expressiva a ponto de fazer os investidores deixarem de procurar algum risco para tentar mais retorno do que o investimento na renda fixa, avaliam os especialistas.
Ainda estamos com uma Selic relativamente baixa%2C não é um ponto em que as pessoas vão olhar para a Selic e ver uma oportunidade tão melhor a ponto de deixar de tomar risco em ações.
"Ainda estamos com uma Selic relativamente baixa, não é um ponto em que as pessoas vão olhar para a Selic e ver uma oportunidade tão melhor a ponto de deixar de tomar risco em ações. Não. Ainda está num patamar um pouco mais ok do que quando a Selic estava em 2% e as pessoas olhavam e pensavam, nossa, eu não vou ganhar nada então eu vou arriscar na Bolsa. E também não estamos no ponto que a pessoa que gosta de assumir risco olha para a renda fixa e fala, poxa, eu gosto de tomar risco mas o rendimento da renda fixa é tão atraente que vou deixar na renda fixa mesmo. Agora os investimentos vão ficar mais de acordo com a aptidão para o risco de cada um", resume Gabriela.
Quem quiser começar a investir em ações para buscar uma rentabilidade maior deve começar aos poucos, aconselham os especialistas. "Ações são sempre um investimento de cautela, não pode colocar um capital que comprometa muito. O ideal é ter sempre um especialista para fazer esse acompanhamento", explica o professor Joelson.
Dólar
O dólar não é recomendado por nenhum dos especialistas como investimento. Eles aconselham a compra da moeda apenas para quem for ter alguma despesa em dólar, como viagem de férias, estudo, compras no exterior. Nesse caso, Jayme Carvalho aconselha a ir comprando a moeda aos poucos, para fazer o preço médio.
"Câmbio é para quem gosta de volatilidade. Pode ganhar%3F Pode%2C mas é muito arriscado"
Para quem quer ter algum investimento atrelado ao dólar, é mais recomendado investir em fundos cambiais ou fundos que aplicam em moeda estrangeira.
________________________
Se ainda tiver mais dúvidas sobre economia, dinheiro, direitos e tudo mais que mexe com o seu bolso, envie suas perguntas para “O que é que eu faço, Sophia?” pelo e-mail sophiacamargo@r7.com
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.