Além do viral: o que faltou falar sobre o caso da mãe no avião
Pedido para troca de assento gera conflito e expõe diferentes lados
Com as redes sociais, nada passa batido hoje em dia. O vídeo de uma mãe indignada porque uma passageira de avião não cedeu o lugar para seu filho ganhou a internet e está dando o que falar.
Nas imagens, Jennifer Castro aparenta estar tranquila em seu acento enquanto uma outra mulher a filma e diz palavras em tom agressivo, como: “Ela não quis trocar com a criança que está nervosa. Só porque não quer trocar de lugar. Perguntei se ela tem alguma síndrome, alguma coisa. Se ela tivesse algum problema, a gente entenderia. Você não tem empatia com as pessoas”.
Apesar das críticas e do choro incessante do menino, a jovem não respondeu e apenas questionou se estava sendo filmada. O registro foi parar em diversas plataformas e os usuários estão reagindo à situação. A maioria está criticando a postura da mãe. “Precisamos ensinar sobre limite às crianças”, afirmou um internauta. “A moça não tem obrigação de trocar”, opinou outro.
É claro que o tribunal online é o primeiro a julgar, mas essa história vale boas reflexões e é possível fazer isso sem precisar cancelar alguém.
Os lados da moeda
Primeiro, e mais evidente, é que o pequeno estava apenas agindo conforme sua idade; ele ainda não compreende as complexidades e burocracias da vida.
Sou mãe também e, geralmente, ao assumirmos esse papel, aprendemos a compreender melhor quem vive essa experiência. Aquela mulher, talvez sem saber lidar com o choro do filho, decidiu pedir o lugar e, ao ser confrontada com um ‘não’, perdeu a linha. Sua reação acabou sendo mais infantil que a do próprio filho, porque, nessa história, quem deveria dar o exemplo era ela.
Por outro lado, a passageira estava em seu direito de não ceder. Só Jennifer sabe o motivo de ter escolhido aquele lugar. Quantas vezes eu mesma voltei de uma viagem a trabalho e tudo que queria era um assento na janela para poder descansar? É um direito dela, e ninguém deveria se sentir culpado por exercê-lo.
Veja também
Limites e aprendizados
Tem muita gente julgando a mãe, mas essa situação me fez pensar sobre algo que vejo com frequência: pais que passam a mão na cabeça dos filhos, mesmo quando eles estão errados. É cada vez mais comum presenciar crianças cometendo erros ou desrespeitando regras e, em vez de serem orientadas ou corrigidas, os responsáveis escolhem confrontar professores, responsáveis ou qualquer outra figura de autoridade. Essa postura cria uma inversão de valores, onde o aprendizado e o amadurecimento da criança ficam comprometidos.
Esse comportamento não protege os filhos, como muitos pais acreditam, mas os priva de desenvolver habilidades importantes, como lidar com limites, reconhecer erros e respeitar as consequências das próprias ações. A longo prazo, isso pode gerar adultos que não sabem lidar com frustrações ou responsabilidades, acreditando que sempre haverá alguém para justificar seus atos.
A maior prova de amor que os pais podem dar é prepará-los para a vida real, onde nem sempre as coisas acontecem do jeito que desejamos. Na vida, não podemos ter tudo o que queremos, e cabe aos pais introduzir essa lição de forma firme e amorosa. Aquele episódio poderia ter sido uma excelente oportunidade de aprendizado. O lugar que estava disponível era o que a mãe comprou, e é ali que o filho deveria ter sentado. Ponto.
Empatia de verdade
Vivemos tempos em que a palavra empatia está na moda e é muito cobrada, mas, na prática, não vemos sua aplicação. Por que não ter empatia por essa mãe, que poderia estar exausta, sem saber como lidar com o estresse de uma criança chorando? Empatia pela passageira, que tinha suas próprias razões para não ceder o lugar. E, talvez o mais importante, empatia pela criança, que ainda está aprendendo a lidar com frustrações e precisa de orientação.
Que essa história nos inspire a repensar nossas reações e a lembrar que as situações mais desafiadoras podem ser oportunidades preciosas de crescimento, tanto para crianças quanto para adultos. Porque eu não acredito que a maturidade venha com o tempo, mas sim com a prática da humildade e a busca diária pela sabedoria.
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.