Agronegócio carrega o Brasil nas costas mais uma vez
Em 2023, o país volta ao grupo das 10 maiores economias do mundo graças a agropecuária
Trilha do Agro|Do R7 e Valter Puga Jr
O Brasil retorna ao grupo das 10 maiores economias do mundo em 2023. E se em valores correntes o país sai da 11ª posição em 2022 para a 9ª posição em 2023, respondendo por 2,1% do PIB mundial, deve isso à agropecuária brasileira.
O Produto Interno Bruto brasileiro cresceu 2,9% em 2023, como anunciado pelo IBGE na semana passada, mas não estaria nessa posição sem o agronegócio. "Mais uma vez, o agro carregou o Brasil nas costas”, diz Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, agência brasileira de análise de risco.
Ao analisar os dados do IBGE, Agostini explica que a agricultura e a pecuária brasileiras — isoladamente partes pequenas do PIB brasileiro, perto de 5% — avançaram mais de 15% em 2023, impulsionando as atividades das indústrias, do comércio e serviços, que são compilados para o cálculo final do PIB.
“Considerando que sem a agropecuária o crescimento seria de 2,1%, estima-se que, se o país teve 2,9% de crescimento, deve isso ao setor”, explica Agostini. A notícia é boa para os produtores rurais.
O Governo Federal trouxe a sardinha para o seu prato. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou em nota que houve ampliação do crédito ao agro, abertura de novos mercados para produtos do agronegócio brasileiro e geração de mais empregos no setor.
“Mais uma vez, a agropecuária puxou a atividade econômica brasileira, mesmo com as intempéries climáticas e o achatamento de preço das commodities”, afirmou.
Os números mostram que o PIB da agropecuária brasileira superou R$ 677 bilhões em 2023, um crescimento de 15,1% sobre 2022. É o maior da série histórica divulgada pelo IBGE desde 1995. Mas repetir a dose este ano parece pouco provável.
COMO SERÁ EM 2024
Este ano, as perspectivas são de, no máximo, manutenção dos números obtidos no ano passado. Na mesma nota em que destacava os bons números do PIB da Agropecuária em 2023, Fávaro sinalizava: “teremos mais desafios em 2024”.
E o produtor rural está preocupado, de olho nos custos. Nos últimos trimestres de 2023, os preços das commodities negociadas pelo Brasil estavam sob pressão.
O Cepea/USP apontou, por exemplo, que a soja, carro-chefe das exportações brasileiras do agro, terminou fevereiro com valores médios de negociação quase 30% menores que no mesmo mês do ano passado. Não tem sido diferente com preços médios do boi gordo e carne bovina, tanto no Exterior quanto no mercado interno.
Ainda é cedo, o ano mal começou, mas sem o suporte do agronegócio brasileiro, as expectativas diminuem. O estudo do economista Alex Agostini também mostra que, em 2024, o Brasil poderá, no máximo (salvo grandes mudanças), manter a posição conquistada em 2023 entre as maiores economias do mundo.
As projeções da Austin Rating indicam pouca mudança de posição entre as maiores economias do planeta em 2024. Os EUA e a China, que responderam juntos por quase 43% do PIB mundial em 2023, continuarão longe na liderança. Aliás, esse quadro não se altera em 2024, pelo menos entre os cinco maiores PIBs do planeta: EUA, China, Alemanha, Japão e Índia. Mudanças viriam apenas no nível mais baixo do ranking mundial.
Considerando as 15 maiores economias (que representam 75% do PIB mundial) em 2023, o PIB brasileiro estimado perto de US$ 2,17 trilhões ficou à frente de países como Canadá, México, Rússia, Coreia, Austrália e Espanha. Mas pode mudar este ano. Mesmo pujante, a agropecuária brasileira em dificuldades para manter o mesmo desempenho de 2023, deixaria de suportar — como tem feito — o PIB brasileiro deste ano.
MISTURA DE BIOCOMBUSTÍVEIS – Aumentou este mês a mistura de biodiesel no óleo diesel, por decisão do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). A adição salta de 12 para 14%, o que permite ao país economizar mais de R$ 7 bilhões com a importação de óleo diesel, ao mesmo tempo que reduz parte da ociosidade das indústrias de biocombustíveis hoje.
As indústrias querem mais. No Congresso Nacional, a nova Lei do Combustível do Futuro propõe aumentar a mistura para 20% até 2030 e até 25% em 2031. Os criadores de aves e suínos veem essa lei com bons olhos, já que do esmagamento para produzir óleo resulta 80% de farelo, insumo para rações, cuja oferta cresceria.
MAIS CARNE BOVINA NO BRASIL – O Brasil aumentará em 4% a produção de carne bovina este ano, segundo estimativas da representação do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (o USDA) em Brasília. Os norte-americanos avaliam que a melhoria do poder de compra do consumidor brasileiro, uma competição menos acirrada no mercado internacional, aliada a uma demanda forte da China, indicam que a produção brasileira de carne bovina estará próxima de 11,5 milhões de toneladas em 2024.
O USDA estima ainda que o mercado interno brasileiro consumirá em 2024 cerca de 8,5 milhões de toneladas desse produto, ou seja, 4% mais do que no ano passado.
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