Preço do milho em São Paulo sobe 20% nos últimos 30 dias, apontam corretores
Estoques baixos, atraso na colheita e compradores ansiosos elevam as cotações do milho no Brasil. Uma situação que não é diferente em outros países

Os preços do milho disparam. Nos últimos 30 dias, corretores da Bolsa Brasileira de Mercadorias, a BBM, indicam negócios no mercado disponível de São Paulo a R$ 90,00 reais a saca do milho tipo 2, preço pago ao produtor rural, a vista, sem impostos. Nada muito distante dos preços médios apurados pelo Cepea/USP, cujo indicador de milho na região de Campinas (SP) fechou nesta quarta-feira (26/02), apontando média de R$ 87,18 a saca, ou alta de 16,26% em fevereiro.
Atraso na colheita de lavouras da primeira safra e estoques baixos estimularam maior interesse dos compradores. O produtor, por sua vez, reduziu a oferta no mercado “spot” desde meados de janeiro para cá, a espera de ofertas de preço mais altas, e vem conseguindo remuneração melhor. Os estoques de passagem de uma safra para outra estão mesmo muito baixos, explicam pesquisadores do Cepea/USP.
De acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento, a Conab, a relação entre estoque e consumo interno de milho estava em 2,5% no final de janeiro. “Um patamar nunca antes registrado no Brasil”, ressaltavam pesquisadores num relatório divulgado esta semana.
Para se ter uma ideia de quão surpreendente é essa situação, a relação estoque consumo mais baixa registrada no país só ocorreu em janeiro de 2012, quando os estoques eram equivalentes a 4,1% do consumo anual.
Colheita está atrasada
Até o último dia 23 de fevereiro, menos de 21% das lavouras de milho da primeira safra foram colhidas (no mesmo período do ano passado eram quase 25%). Mas, em São Paulo, a situação é pior: até o último final de semana, apenas 6% das lavouras paulistas haviam sido colhidas. Situação bem diferente do ano passado, quando, no mesmo período, os produtores paulistas tinham colhido 20% do milho nas lavouras, segundo a Conab.
Preços do milho não cedem logo
Na Bolsa de Chicago, as cotações no mercado futuro se sustentam numa menor oferta global. O Itau BBA, em relatório divulgado esta semana, chamava a atenção para a safra 2024/25, indicando redução da produção dos EUA e diminuição dos estoques mundiais (aproximadamente 25 milhões de toneladas), ao mesmo tempo que ocorre aumento da demanda mundial. Outros países produtores também enfrentam problemas.
Terceiro maior exportador de milho do mundo, a Argentina enfrenta clima desfavorável e deve produzir perto de 50 milhões de toneladas, menos do que estava previsto, segundo o USDA. Mas há estimativas apontando que a produção recue para até 45 milhões de toneladas, o que pressionaria ainda mais os estoques globais de milho.
Para os analistas do Itaú-BBA, “no Brasil, a alta demanda e o uso crescente do milho para etanol também pressionam os estoques internos”, apesar de estimativas de uma safra maior estimada para 2024/25.
A produção do Mato Grosso pode atenuar essa perspectiva de estoques muito baixos no mercado brasileiro, já que responde na segunda safra por cerca de metade da oferta de milho do país. Mas o clima entre abril e maio ainda é incerto. No curto prazo, no entanto, os preços tendem a alta.
Na semana passada, enquanto parte dos agentes do mercado de milho negociavam com preços relativamente estáveis, outros já percebiam o mercado “firme” e diminuíam as ofertas de venda, ou buscavam acelerar as compras. Foi esse movimento, dizem pesquisadores do Cepea, que no início desta semana elevava os preços médios a R$ 84,85 a saca de 60 quilos, até então o maior patamar nominal desde março de 2023.
De janeiro até o início desta semana, o indicador milho já apresentava avanço de quase 17% e os pesquisadores ressaltavam que entre 14 e 24 de fevereiro — apenas 6 dias úteis --, o preço médio avançou 6,2%. Mas esses números já ficaram no passado.