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Armazenar água de maneira errada é ameaça à saúde, adverte especialista

Com medo de torneiras secas, moradores de São Paulo decidiram fazer estoque em casa

São Paulo|Ana Cláudia Barros, do R7

Moradora da zona leste usa engenhoca para captar água da chuva
Moradora da zona leste usa engenhoca para captar água da chuva Moradora da zona leste usa engenhoca para captar água da chuva

Diante da ameaça de desabastecimento em razão da crise hídrica que atinge São Paulo, boa parte da população resolveu estocar água em casa. A medida, vista como saída de emergência, pode se tornar um perigo à saúde, caso o armazenamento não seja realizado de forma apropriada. É o que explica o engenheiro sanitarista Eduardo Pacheco, que atua no setor de águas, efluentes e meio ambiente.

— O problema de estocar água é não ter cloro. É obrigatório. Está na Portaria Nº 2.914 do Ministério da Saúde que toda água de abastecimento sai de uma ETA (Estação de Tratamento de Água) com cloro residual livre. Isso é uma concentração de cloro que é deixada a mais para proteger todo o encaminhamento dela. O cloro é fundamental para proteger da parte biológica. Em uma água não clorada, vai proliferar todo tipo de organismo: bactéria, fungo, protozoário.

De acordo com o especialista, mesmo a água que vem das companhias de abastecimento está sujeita a riscos.

— Se ela ficar armazenada por muito tempo, o cloro perde o poder oxidante. O cloro residual livre tem um período de maturação e depois sai.

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Pacheco acrescenta que há fatores que fazem com que o cloro na água seja consumido mais rapidamente, como temperatura alta e impurezas.

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— O cloro residual é como se fosse uma proteção para quando houver sujeira na água. Quando ele encontra sujeira, oxida aquilo e some [...] Se o balde em que a água é armazenada estiver sujo, o cloro será consumido. A partir daquele momento, água já está desprotegida e passível de sofrer contaminações, que podem ou não ser patogênicas [causar doenças].

No caso de água de chuva ou a de mina, a situação ainda é mais preocupante. O engenheiro sanitarista explica que não é recomendável bebê-las.

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— Quando começar a faltar água — e a partir de abril, maio isso vai acontecer —, meu medo é que as pessoas comecem a usar qualquer uma, no desespero.

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A preocupação é com o aumento de doenças veiculadas pela água, como diarreia e, em situações mais incomuns, hepatite.

— Os hospitais não estão preparados para receber um excesso de doentes com essas características, com diarreia grave, por exemplo [...] E ainda estão pensando em Carnaval. Acho que as pessoas estão ficando loucas. Nós que trabalhamos com isso sabemos o problema que vai acontecer.

Como armazenar?

Quem pretende estocar água em casa deve tomar alguns cuidados, conforme o especialista. O recipiente usado para o armazenamento deve estar bem limpo e ser mantido na sombra, fechado — o que além de contaminação, evita problemas como dengue — e sem contato com animais.

— Bactéria gosta de calor. Temperatura alta favorece proliferação de bactérias. Lógico que para ela proliferar tem que ter o que comer. Daí a importância de manter o balde limpo e fechado.

Para a conservação, o engenheiro sanitarista recomenda a adição de água sanitária [hipoclorito de sódio diluído], que possui ação germicida. Se a água for com fins potáveis, a proporção deve ser de 200 ml de cândida para cada litro. A quantidade do produto pode ser maior, caso a água não seja usada para consumo.

— Uma bactéria, se tiver alimento, prolifera de forma geométrica.Tem bactéria que não é patogênica, mas pode dar o azar de pegar uma patogênica. A água não tem validade, mas ela se contamina e é perigoso. Você vai armazenar? Põe água sanitária.

Água de chuva

Eduardo Pacheco não recomenda a utilização de água de chuva para beber ou lavar louça, mas com outras finalidades, como limpar o chão e jogar no vaso sanitário.

— A água da chuva, quando começa a encostar no telhado, na calha, traz todo tipo de sujeira, inclusive, matéria orgânica.

De acordo com ele, se a pessoa pretender usá-la para fins potáveis, precisará da ajuda de um profissional especializado, registrado no Conselho Regional de Química.

— Quem que vai tratar essa água? Faço um projetinho e coloco uma bomba dosadora de cloro que, na verdade, é hipoclorito de sódio. A pessoa vai mexer com cloro. Lá, é preciso dosar o cloro concentrado. A pessoa vai dosar errado, vai se machucar. Sou um pouco contrário a usar esse tipo de água em condomínios, unidades familiares para fins potáveis, porque a pessoa vai se embananar e pode ter uma doença grave.

A professora Lúcia Helena de Oliveira, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, também defende a contratação de um profissional para que a qualidade da água seja atestada.

— O sistema de reaproveitamento de água pluvial requer preocupação com qualidade. A partir do momento em que você faz um sistema desse, você é o gestor. Se estiver em um condomínio e houver algum problema de doença, você é o responsável. Reúso, aproveitamento de água pluvial é uma espécie de mini Sabesp que está dentro do condomínio.

Água fervida

O engenheiro sanitarista Eduardo Pacheco afirma que ferver água é um recurso eficiente para proteger contra microrganismos, mas não é capaz de eliminar poluição química.

— Acima de 70 graus [Celsius], mata toda vida biológica, mas não a química. Por exemplo, eu pego água de um lençol freático. Tenho um posto de gasolina do lado. Noventa por cento dos postos contaminam o subsolo com hidrocarboneto, com chumbo. Não adianta ferver a água. Meu receio é que comecem a usar essa água por falta da tratada.

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