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Presidente da ANA critica governo de SP e fala em "gestão terrível" da crise hídrica

Vicente Andreu ainda disse que o rodízio precisa ser adotado enquanto houver água

São Paulo|Do R7

Cantareira opera hoje com 6,4% da capacidade
Cantareira opera hoje com 6,4% da capacidade Cantareira opera hoje com 6,4% da capacidade

Um ano após o início da crise no Sistema Cantareira, o presidente da ANA (Agência Nacional de Águas), Vicente Andreu, afirmou que "há um problema de gestão terrível" por parte do governo de São Paulo, uma vez que 22% da população ainda continua consumindo mais água hoje. Em entrevista exclusiva ao jornal O Estado de São Paulo, Andreu diz que os novos gestores paulistas da crise repetem o discurso do governador Geraldo Alckmin (PSDB) ao dizer que "é preciso atravessar o deserto de 2015". E acha que o gatilho para o rodízio já passou.

As críticas não foram bem recebidas pelo governo do Estado. O subsecretário de Comunicação, Marcio Aith. rebateu as afirmações.

— O senhor Vicente Andreu é, no mínimo, desrespeitoso com o governo que trabalha há um ano de forma ininterrupta para garantir o abastecimento de água para a população de São Paulo.

A Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos optou por não comentar as declarações. Andreu afirma que a crise do Cantareira se evidenciou no começo de janeiro de 2014, ainda durante o período chuvoso, mas que ela tomou dimensão real no mês de fevereiro, quando a vazão afluente é extremamente baixa.

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— A dimensão real da crise aparece em fevereiro. Em novembro e dezembro, havia expectativa de que houvesse reversão.

Questionado sobre o fato das vazões estarem abaixo da média desde agosto de 2012 e desde maio de 2013 o sistema perder mais água do que ganha, Andreu afirma que:

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— Em uma série de longo prazo, o comportamento de 2012 até 2014 é recorrente. Não é absolutamente inédito.

Sobre o rodízio em São Paulo ter sido vetado pelo governo Alckmin há um ano, Andreu diz não opinar sobre as questões de operação da Sabesp.

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— Desde aquela época, já se manifestavam duas visões opostas em termos de gestão da crise. A nossa, já naquela época, estabelecia uma metodologia com vistas de garantir a segurança hídrica, definir uma meta e operar o reservatório a partir dessa meta. E do outro lado havia a gestão feita pela Sabesp, que tem a lógica da menor demanda possível, mas sem olhar para suas consequências para o reservatório. E naquela época a Sabesp dizia que qualquer gota abaixo dos 27 m³/s implicaria racionamento na cidade de São Paulo. O que demonstra que: ou eles mentiram ou não conheciam exatamente o que podiam fazer, porque passado um ano eles conseguiram reduzir significativamente, sem racionamento, a retirada.

Para o presidente da ANA, a situação de São Paulo seria outra se medidas para combater a crise já tivessem sido adotas.

— Sem discutir racionamento, se as medidas que estão sendo hoje adotadas tivessem sido há um ano, a situação já seria outra. A Lei de Saneamento é particularmente confusa. Na minha opinião, no caso de São Paulo, e esse precedente não deve prosperar, há interpretação errada. Para mim, é absolutamente clara: o aumento de tarifa obriga a adoção de racionamento [o que o Estado nega].

Sobre o governo afirmar que a declaração de racionamento já foi feita e citar as resoluções de ANA e Daee restringindo o Cantareira, Andreu afirma que o Estado nunca assumiu o racionamento.

— O problema passa a ser de forma. Do ponto de vista da forma, não houve. Do ponto de visto do conteúdo, houve restrição. Mas se essa restrição levaria à escassez da disponibilidade, isso nunca foi assumido pelo governador, que vivia dizendo que não faltava água. Tem uma contradição também entre a declaração e o discurso do governo. Se o governador diz que não falta água, como você vai dar uma declaração de escassez. Esse problema foi mal-administrado, seja pela incoerência do discurso e da situação, seja pela interpretação equivocada daquilo que está na Lei de Saneamento.

Acusado de disseminar o pânico (por falar da necessidade de um dilúvio), ao criticar em 2014 a falta de transparência do governo de São Paulo na crise hídrica, o presidente da ANA afirma que diferente do Estado, nunca usou "hipérboles".

— Tudo que foi afirmado, independentemente do tom, infelizmente, está acontecendo. Até a ocorrência dos eventos atuais, a série de 84 anos explicava bem os fenômenos. A série de 2014 não guarda nenhuma correlação anterior. Que o fenômeno vai acabar, não resta dúvida. Um dia acaba. Agora, quando acaba?

Para ele, em 2014, o governador apostou todas as fichas de que o fenômeno acabaria no período chuvoso de 2015.

— Infelizmente, até agora não acabou. Qual a segurança que você tem de que ele vai acabar em 2016? Do ponto de vista do gestor, temos de trabalhar com medidas restritivas.

O presidente da ANA entende como tecnicamente insuficiente a medida da Sabesp de planejar um gatilho para o racionamento oficial.

— Rodízio se faz quando você tem água. Não dá para esperar o esgotamento. Eu acredito que o índice do reservatório que vai disparar o gatilho nós já passamos por ele. Como medida de transparência acho positivo. Tecnicamente, acho insuficiente. O problema não é o nível do reservatório, mas a quantidade de água que você vai tirar dele.

Andreu acrescenta que o correto seria uma medida já defendida pela ANA desde 2014, "de uma retirada em função de uma meta definida de como você deseja que os reservatórios fiquem".

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