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Diretor de peça censurada pela Funarte celebra festival em SP

Responsável pela Res Publica 2023, vetada pelo governo federal em agosto, Biaggio Pecorelli viu falhas técnicas, mas se animou com apresentações

São Paulo|Guilherme Padin, do R7


Peça retrata Brasil próspero mas desigual em passagem de 2022 para 2023
Peça retrata Brasil próspero mas desigual em passagem de 2022 para 2023

Uma obra censurada pela Funarte (Fundação Nacional de Artes) em agosto ganhou espaço no festival Verão sem Censura, em São Paulo, com duas apresentações realizadas nos dias 22 e 23 de janeiro. Em entrevista ao R7, o diretor da peça Res Publica 2023, Biaggio Pecorelli, celebrou os ideais do evento e fez severas críticas ao governo federal.

“Não conheciam a peça, que era inédita até então. Nem o texto havia sido enviado. Chegamos à conclusão que a Funarte vetou o espetáculo baseada na sinopse”, afirmou Pecorelli.

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Embora se anime com o objetivo do evento – dar espaço a obras artísticas censuradas e oprimidas –, o ator também apontou falhas na organização e no espaço: “O CCJ (Centro Cultural da Juventude) está bem precarizado, os equipamentos de luz não comportavam a peça, o teatro é no máximo um auditório... apesar da boa vontade das pessoas que trabalham lá, o espetáculo ficou bem prejudicado pelos limites estruturais”.

Sem fazer menção a qualquer membro do atual governo, a peça retrata, no Réveillon de 2023, um Brasil de prosperidade econômica, que, no entanto, não alcança a vida de seis jovens moradores de uma república no centro de São Paulo, com esperança e luta por dias melhores.

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“É uma peça crítica e contra toda forma de poder e autoritarismo, a essa devoção à liderança e líderes, sejam quem for”, argumenta Pecorelli, afirmando que não havia sentido em vetar a obra. O diretor comenta que, “apesar do conservadorismo e desse desejo pela curadoria, não pensei que mudariam as regras do jogo com a bola rolando”.

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Grupo se apresentou nos dias 22 e 23 de janeiro
Grupo se apresentou nos dias 22 e 23 de janeiro

Segundo ele, o veto da Funarte foi, para todos os membros do grupo A Motosserra Perfumada, um susto encarado com frieza.

Pecorelli se orgulha da peça ter sido “tocada na raça”: sem verbas públicas, o grupo criou uma vaquinha online que arrecadou R$ 7.325. “Foi com muito suor. Esse dinheiro pagou o letreiro, o montador, o iluminador. Chegamos a tentar mais de 20 editais, mas foi justamente no período desse declínio de incentivo à cultura. Algumas obras não receberam, em outras houve atraso”, relata.

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Mesmo com o momento crítico em sua avaliação, o diretor do grupo A Motosserra Perfumada, que realiza a peça, se mantém animado.

“Apesar de tudo, estamos fortes: propondo, criando. É preciso, nesse contexto, muito mais que fincar o pé. É preciso um movimento de devorar o inimigo e transformar isso tudo em alegria. Res Publica é uma peça sobre a desgraça que vivemos nesse momento, mas ao mesmo tempo é uma peça de humor. É uma peça cheia de escárnio”, afirma ele, que diz não haver mais fôlego para mais temporadas, por enquanto: “Vamos trabalhar para que a peça possa continuar e se sustentar.”

A cultura sob gestão do governo federal

Na avaliação de Biaggio Pecorelli, a cultura brasileira vive um ataque permanente sob a gestão de Jair Bolsonaro. Ele acredita que as pautas culturais são usadas para desviar o foco da população.

“Esses ataques são por um lado fruto de um conservadorismo não só do governo como parte significativa da população. Mas tem a ver, no nosso ponto de vista, como uma estratégia do governo de criar falsos incêndios de coisas que não devem ser relevantes para eles”, avalia o diretor. Ele prossegue: “Não sei, por exemplo, o quanto é relevante para eles se o artista tira ou não a roupa num espetáculo. Acho que não estão nem aí, mas é importante para eles que finjam se importar, para que a onda conservadora esteja viva.”

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Responsável pelo festival Verão sem Censura, o secretário municipal de cultura da cidade de São Paulo, Alexandre Youssef, também demonstra incômodo com o tratamento do governo federal à cultura no país.

“O governo federal fica com esse discurso obscurantista, com essa criminalização do artista recorrente, num momento em que precisamos aproveitar nossos ativos. Quando falam em curadoria, é censura”, afirmou Youssef ao R7.

Para o secretário, não há uma política pública efetiva de valorização da cultura na esfera federal. “Todos esses elementos, ideologizando demais as ações do governo, mostram que eles encaram a cultura como inimigo político, não como a identidade nacional que deve ser valorizada”, conclui.

Pecorelli comemorou o convite ao festival: “Importante que toquem em questões de gênero, LGBT e outros temas censurados. Sobre cada um caiu alguma foice. Foi interessante para gente, e a programação é curiosa por ser de um entendimento de censura amplo. [A censura] não é novidade, esteve presente em vários momentos, mas agora está na moda.”

Serviço

O festival Verão sem Censura, que começou no último dia 17 e terá ao todo mais de 50 atividades e apresentações oprimidas ou censuradas, segue até o dia 31 de janeiro. Confira a programação aqui.

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