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Elas são a cara da luta: mulheres tomam a linha de frente das manifestações em São Paulo

Intensificação do debate feminista contribui para esse protagonismo, diz socióloga

São Paulo|Giorgia Cavicchioli, do R7

Marcela Nogueira foi uma das meninas que foram para as ruas, se manifestaram e ocuparam escolas em São Paulo
Marcela Nogueira foi uma das meninas que foram para as ruas, se manifestaram e ocuparam escolas em São Paulo Marcela Nogueira foi uma das meninas que foram para as ruas, se manifestaram e ocuparam escolas em São Paulo

Durante as últimas grandes manifestações que uniram, principalmente, a juventude em São Paulo, foi quase impossível deixar de notar o protagonismo das garotas. Tanto representantes de movimentos sociais quanto estudantes e trabalhadoras mostraram força, se ajudaram mutuamente e mostraram ter plena noção do que desejam para a sociedade.

Nos protestos, não era raro observar garotas puxando um jogral ou uma paródia, por exemplo. Elas dialogaram com a Polícia Militar, conversaram com a imprensa e também estavam prontas para socorrer colegas durante uma repressão por parte do Estado.

A socióloga Mariana Conti, professora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), diz que essa representatividade é um movimento que ela observa na “juventude de um modo geral”.

— Eu acho que a presença feminina é muito interessante. Mostra que as mulheres estão conquistando espaço na política. Vivemos em uma sociedade machista e essas meninas estão mostrando que a juventude quer mudar isso.

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Ela diz que, como elas estão reivindicando prioridades, toda essa atuação pode “trazer frutos interessantes” para a juventude de um modo geral. Para a socióloga, “elas aprendem muito” com esses movimentos e estão vendo como “se organizar, se colocar e adquirindo autonomia”.

— Essa juventude está tendo acesso a muita informação e a muito conteúdo. Acho que, com isso, elas [meninas] estão tendo uma preocupação com um debate público.

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A estudante Marcela Nogueira, por exemplo, acabou se tornando um símbolo das ocupações que aconteceram em São Paulo contra o fechamento das escolas imposto pelo governador Geraldo Alckmin. Ela, mesmo sem ter essa pretensão, acabou se tornando a voz de muitos estudantes.

— Eu percebi o quanto a educação é precária, principalmente pra classe preta, pobre e periférica. Eu não podia deixar o governo continuar colocando a classe mais baixa de lado. A única saída do pobre é o estudo e eles querem acabar com isso.

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Marcela conta que sua primeira experiência em manifestações aconteceu na Marcha Mundial das Mulheres de 2015. Ela afirma que as mulheres são “guerreiras desde sempre, a diferença é que agora temos voz. Não nos calamos mais”. Para a estudante, “não é nenhuma surpresa as meninas ficarem na linha de frente” dos protestos.

— Entre meus amigos, a maioria estão interessados em mostrar a insatisfação com os problemas políticos e colam comigo na luta.

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A socióloga diz que “as mulheres sempre estiveram em vários processos de luta”, mas que esse novo protagonismo das meninas “tem uma cara nova”. Isso acontece, segundo ela, como reflexo de que o feminismo está sendo mais discutido e que está acontecendo um acúmulo de debate, principalmente nas redes sociais.

— Acho que os meninos também estão aprendendo e acho importante mostrar que, muitas vezes, é uma demarcação de posição que as mulheres são as lideranças. Os meninos também podem aprender, nesse processo, a respeitar as mulheres. A gente tem que construir a sociedade em que os homens respeitem as mulheres.

Em atos contra aumento da tarifa, garotas também foram destaque
Em atos contra aumento da tarifa, garotas também foram destaque Em atos contra aumento da tarifa, garotas também foram destaque

A estudante afirma que aprendeu, durante as ocupações e protestos, que a política é muito mais difícil do que ela pensava e que também é burocrática.

— Aprendi o quanto ela [política] é suja e, mais do que isso, aprendi que a polícia tá aí pra reprimir, tá aí pra matar.

Porém, essa juventude com ações muito diferentes das anteriores, aprende no cotidiano, observando e vivenciando questões. Segundo Marcela, ela aprendeu “na vida, vivendo” e vendo seus problemas e “como muitos têm pouco e poucos têm muito”.

— [Aprendi] vendo minha mãe se matar de trabalhar e continuar sem dinheiro, sofrendo racismo e machismo. [Aprendi] vendo as tragédias que acontecem no mundo. Para mim, sempre foi muito óbvia a desigualdade.

O fato de as garotas estarem em uma posição de destaque faz com que elas também combatam a violência contra a mulher e o desrespeito, diz a socióloga.

— A gente não pode aceitar essa violência como um modo natural. O modo de a mulher combater é estar cada vez mais à frente.

A violência policial, segundo Marcela, é, “sem dúvida”, o que de pior pode acontecer nas manifestações. Porém, ela afirma que vai “continuar na luta, sempre”. E foi isso o que ela fez, também fazendo parte dos protestos contra o aumento do valor da passagem do transporte público em São Paulo.

— A tarifa é uma forma de privatizar a cultura e impedir a periferia de ir para o centro. Se você não tem dinheiro, você não anda na cidade.

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