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Em oito meses, gestão Tarcísio mostra indecisão e vai e volta na Cracolândia

Indefinições sobre local para onde usuários serão direcionados, denúncia de estupro em centro público e recuo em transferência de dependentes químicos marcaram o período

São Paulo|Do R7

Cracolândia se desloca pelas ruas do centro
Cracolândia se desloca pelas ruas do centro

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), assumiu o cargo em 1º de janeiro deste ano com a missão de combater a Cracolândia e cuidar dos dependentes químicos que por lá se concentram. Porém, nos oito primeiros meses de gestão, as estratégias do estado têm demonstrado mudanças de rota.

Em 24 de janeiro, Tarcísio, ao lado do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), anunciou um plano conjunto dos Poderes para conter o uso de drogas a céu aberto na região central da cidade.

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Na época, o governador do estado afirmou que outros políticos “talvez” tenham abordado o “problema” de forma errada. Junto de Nunes, os gestores divulgaram um programa com quatro diretrizes principais que seria coordenado pelo vice-governador, Felício Ramuth (PSD).

Uma das grandes promessas do plano foi a criação do Hub de Cuidados em Crack e Outras Drogas, aberto posteriormente em abril. O principal equipamento público para os dependentes químicos, todavia, esteve no centro de críticas após uma denúncia de estupro no local feita por uma paciente adolescente de 15 anos.


A administração do Hub, que é feita pela Secretaria Estadual de Saúde, afirmou que abriu um procedimento interno para entender em que circunstâncias a jovem foi abusada. Segundo o estado, a menina foi transferida para uma unidade de saúde no interior de São Paulo para continuar o tratamento.

Em 8 de junho, uma outra ação das autoridades paulistas chamou a atenção da opinião pública. Dependentes químicos que ficam em ruas da Santa Ifigênia foram escoltados por policiais e agentes da GCM (Guarda Civil Metropolitana) — órgão ligado à Prefeitura de SP — até a Ponte Estaiada Governador Orestes Quércia, conhecida como Estaiadinha, no Bom Retiro.


Imagens publicadas nas redes sociais por moradores do centro mostraram a peregrinação dos dependentes químicos, que ficaram na região por pouco menos de 24 horas e, em seguida, retornaram para a Santa Ifigênia.

Dez dias depois da operação, Tarcísio anunciou o deslocamento definitivo dos usuários para o Bom Retiro, com o plano de atendê-los no Complexo Prates, localizado na rua Prates, também no Bom Retiro — local que fica a menos de 2 km da ponte Estaiadinha.

“A gente quer levar essas pessoas para o Complexo Prates, porque lá eu tenho uma AMA (Assistência Médica Ambulatorial), um CAPS (Centro de Atenção Psicossocial). Lá, eu consigo deixá-los um pouco mais afastados da área residencial e comercial. Vamos ver se essa estratégia vai dar certo”, declarou o governador.

A decisão de Tarcísio, porém, durou apenas 48 horas. Dois dias após o anúncio, o Governo de São Paulo voltou atrás e divulgou uma “nova avaliação” sobre a transferência da Cracolândia para o Bom Retiro.

“Todas as estratégias buscam aproximar os dependentes químicos de equipamentos de tratamento, acolhendo e ofertando alternativas humanizadas para que essas pessoas sejam atendidas, assistidas e tenham uma porta de saída do vício, o que consequentemente reduzirá as cenas abertas de uso na região central”, afirmou o governo em nota.

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Sem nenhuma atualização nem medida anunciada pela gestão Tarcísio desde o cancelamento da transferência para o Complexo Prates, a Cracolândia continua na rua dos Gusmões, na Santa Ifigênia.

O local foi palco de ações policiais contínuas na última semana, que terminaram com ao menos 39 pessoas presas. Em uma dessas operações, o poder público também apreendeu 75 porções de cocaína, 39 de maconha, 16 de K9, dois pedaços de crack e três tijolos de maconha.

Especialista

Para o coordenador da Escola de Segurança Multidimensional da USP, Leandro Piquet Carneiro, as autoridades públicas tendem a falhar no enfrentamento das drogas por não ouvir especialistas da área da saúde.

"As instituições de segurança pública não têm resposta para o problema da disseminação do consumo e tendem a errar muito quando são acionadas nesse contexto. Melhor chamar e ouvir os médicos e especialistas em saúde pública para cuidar desse problema", explica Carneiro. 

Para o especialista, a decisão sobre a transferência da Cracolândia para o Bom Retiro pode ter sido estudada, mas é normal que, com a rejeição da opinião pública, a gestão Tarcísio tenha voltado atrás. 

"Incentivos podem ser produzidos por ações do Estado para acabar com as cenas abertas, [mas] acabar com o consumo de drogas é uma meta inatingível e que produz grande custo social quando perseguida", alerta Carneiro.

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