‘Gangue da pedrada’: movimento em lojas de vidro para carro triplica em São Paulo
Aumento de troca de vidros e de instalação de películas é reflexo de onda de ataques a motoristas na capital paulista
São Paulo|Lucas Ferreira, do R7
Donos de lojas de vidro para carro em São Paulo afirmam que o movimento nos estabelecimentos triplicou nas últimas semanas com a onda de roubos com pedras a motoristas.
O R7 foi a cinco oficinas que trabalham com vidros nas zonas leste e sul da capital paulista, e os gerentes foram categóricos: os serviços de troca de vidro e as buscas por películas antivandalismo dispararam. Os clientes chegam aos locais dizendo que foram vítimas de roubo, que repetidas vezes foram registrados por câmeras em vários pontos da cidade.
• Compartilhe esta notícia no WhatsApp
• Compartilhe esta notícia no Telegram
“Eu atendia cinco carros por semana, agora eu atendo 15”, afirma o aplicador de películas Ricardo Salles. “Os clientes dizem que os ladrões arremessam pedras, quebram o vidro do carro e invadem o veículo. Tem uns quatro meses [que os roubos aumentaram].”
“De janeiro para cá, parece que virou festa. Eu trocava dois vidros por semana, mas agora é mais de um por dia”, diz José Luiz, proprietário de uma loja de vidros na Vila Mariana. “[O roubo acontece com o] descuido dos clientes, normalmente quando eles estão com o celular no painel.”
Não são só os empresários automotivos que perceberam esse aumento no número de vidros quebrados. Em entrevista ao R7, o gerente de um posto de gasolina localizado no cruzamento da avenida do Estado com a rua dos Alpes, na região do Cambuci, afirma que todo dia ao menos uma pessoa para no local com o vidro quebrado.
“Não tem hora, não tem dia. Se você pegar os sete dias da semana, sempre aparece alguém com o vidro quebrado. Homem, mulher... não tem diferença. Eles sempre falam que levam o celular”, conta Douglas da Silva.
Uma das vítimas desse tipo de violência foi a acupunturista Debbora Súconic, atacada justamente na avenida do Estado, próximo ao posto de gasolina onde Douglas trabalha.
“Eram 18h, estava na avenida do Estado. Quando parei no farol, já reparei que tinha uma pessoa olhando vários carros. Como estava com o rádio ligado, acho que ele imaginou que fosse um celular. Tinha uma bolsa colorida com frutas no chão do meu carro, que chamou a atenção dele. Ele usou os dois cotovelos para quebrar o vidro do carro, mas não levou nada”, conta Súconic.
Também na avenida do Estado, mas dessa vez próximo da praça da Sé, a representante comercial Stephanie da Silva teve o vidro do carro estourado e, além do celular roubado, teve transferências financeiras realizadas no aparelho pelos criminosos.
“Meu celular estava no meio das minhas pernas. Não ando com vidro aberto nem com o aparelho no painel. Puxei o indivíduo pela touca, ele até se desequilibrou, mas pegou o celular pelo fio do carregador. Em 30 minutos, tempo de chegar em casa, eles já tinham entrado em algumas contas”, lamentou Stephanie.
Segundo a vítima, os assaltantes conseguiram realizar transferências de contas na Wise e no C6 Bank — ambas com valores em euros. O prejuízo de Stephanie ultrapassa os R$ 15 mil.
Apesar de a Wise ter constatado a fraude e devolvido os 360 euros, a empresa utilizou a cotação do dia para fazer o estorno, e não o valor pelo qual a cliente comprou a moeda estrangeira, o que teria causado prejuízo a Stephanie.
Já o C6 Bank, por sua vez, informou à cliente que o saque de 2.700 euros (R$ 13.725,16, na cotação da época) por meio do celular da representante comercial foi legal e não estornou o valor.
“Estou no prejuízo. Meu plano de saúde ficava no débito automático e, como tiraram o dinheiro da minha conta, ele foi cancelado. Agora, não consigo retomar o convênio médico”, disse.
Por meio da assessoria de imprensa, o C6 Bank afirmou que os sistemas de segurança da empresa são "invioláveis" e que a análise do caso de Stephanie mostra que as compras da consumidora foram autenticadas com uso de senha pessoal.
Em nota, a Wise informou que, quando a fraude é comprovada, a empresa reembolsa o cliente com base no câmbio comercial do dia, "que é a taxa de câmbio mais real e justa do mercado".
Confira as notas na íntegra no fim da reportagem.
Leia também
Este tipo de caso não ocorre só com anônimos, mas também com famosos. Apresentador e ídolo do Corinthians, Neto foi alvo da "gangue da pedrada" e teve o celular roubado no Morumbi, na zona sul da capital. O suspeito do roubo foi preso dias depois.
Procurada pelo R7, a SSPSP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) afirma que realiza operações constantes para coibir os roubos no trânsito e que intensificou a presença da Polícia Militar em determinados pontos.
“Os esforços das forças de segurança são contínuos, e a presença policial foi reforçada pela PM, com estacionamento de viaturas em locais de maior movimentação de veículos e pedestres”, diz a SSP em nota.
Vidros mais resistentes
A procura pelas películas antivandalismo se tornou comum em São Paulo. Se antes o acessório era usado para preservar a intimidade dos ocupantes do veículo, agora pode ser o fator determinante para evitar a perda de um bem durante um roubo.
O produto costuma ser comercializado em três níveis de proteção. Enquanto o mais frágil aguenta pequenos impactos, o mais resistente é capaz de manter a rigidez do vidro mesmo com ele estilhaçado.
A instalação das películas normais custa cerca de R$ 300; já a do acessório mais caro pode ultrapassar os R$ 1.500. Feito com lâminas de poliéster, o produto costuma ser importado da China e não possui produção nacional, segundo especialistas ouvidos pelo R7.
C6 Bank
Os sistemas de segurança do C6 Bank são invioláveis. Após a análise do caso, verificamos que não houve falhas sistêmicas ou operacionais nas compras referidas pela consumidora. Todas as transações foram autenticadas mediante uso de senha pessoal.
Wise
A Wise informa que, por conta da regulamentação brasileira sobre sigilo e privacidade, não compartilha nenhuma informação relacionada a contas de clientes ou ex-clientes. Como uma empresa global com 16 milhões de clientes ao redor do mundo, a Wise está comprometida em cumprir todas as leis e regulamentações locais de todos os mercados em que atua, incluindo o Brasil, onde opera sob a licença de corretora de câmbio concedida pelo Banco Central.
Quando há fraude comprovada, a Wise reembolsa o cliente com base no câmbio comercial do dia, que é a taxa de câmbio mais real e justa do mercado. No caso em questão, em que a cliente teve 360 euros retirados indevidamente da conta, a empresa devolveu o montante equivalente e que corresponde ao câmbio comercial praticado no momento da devolução, conforme reconhecido pela própria cliente no contato com o R7. O Centro de Suporte da Wise permanece à disposição para ajudá-la com eventuais dúvidas sobre o caso.
Película antivandalismo: conheça acessório popular entre carros de SP