MP intercepta carta em que PCC planeja ampliar atuação na Bahia
Denúncia do Ministério Público de São Paulo interceptou ligações telefônicas e cartas escritas por líderes da facção paulista falando sobre alianças
São Paulo|Kaique Dalapola, do R7
Em uma carta interceptada pelo Ministério Público de São Paulo da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, supostas lideranças do PCC teriam dito sobre a necessidade da facção criminosa ampliar no número de integrantes no Estado da Bahia.
A carta ainda afirma que os líderes do Primeiro Comando da Capital estão no aguardo de um relatório com informações sobre o BDM (Bonde dos Malucos) — que seria uma facção criminosa baiana. “Temos que se cuidar lá, puxar os trabalhos necessários para trazer a massa para o nosso lado”, disse na carta.
A Bahia é um dos alvos do PCC para ampliar sua atuação no país.
A disputa para a compra, transporte e venda de drogas nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, por exemplo, já gira praticamente em torno de uma disputa entre a facção e as diversas organizações criminosas locais, que são aliadas do Comando Vermelho.
A denúncia apresentada pelo promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) de Presidente Prudente, na última quinta-feira (5) descreve situações em que supostos membros do PCC falam sobre a relação com outras facções criminosas.
As investigações iniciaram em março de 2017, pouco depois das rebeliões em presídios da região que resultaram em dezenas de pessoas mortas e evidenciaram a guerra entre as organizações criminosas nos Estados.
No documento do grupo do MP-SP (Ministério Público de São Paulo), interceptações telefônicas de conversas entre supostos membros do PCC demonstram que as principais aliadas do Primeiro Comando da Capital são as facções Bonde dos 13 (no Acre), Estados Unidos (na Paraíba), Caveira (na Bahia) e Guardiões do Estado (no Ceará).
Os telefonemas também dizem sobre as rivais do PCC, que são aliadas do Comando Vermelho em seus Estados de atuação: Okaida (Paraíba), Sindicato do Crime (Rio Grande do Norte) e a FDN (Família do Norte), que atua nos Estados do Norte do país.
Na denúncia, o promotor afirma que “há tempos o PCC tenta estabelecer-se de maneira mais forte no Amazonas, em razão da localização estratégica do Estado: a divisa com Colômbia e Peru, grandes produtores de cocaína, e uma infinidade de rios e afluentes por onde essa droga pode circular em barcos”.
O tráfico de drogas no Estado, entretanto, é dominado pela facção criminosa Família do Norte — maior aliada do Comando Vermelho. Por causa dessa falta de espaço no Amazonas, a liderança do PCC presa na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (615 km de São Paulo), segundo o MP-SP, “não tem medido esforços em enfrentar os criminosos da FDN”.
A disputa pelo controle do tráfico de drogas nas fronteiras do Amazonas refletiu em mortes nos presídios do Estado. Dois meses antes do início das investigações do Ministério Público, no dia 2 de janeiro de 2017, uma rebelião no Complexo Penitenciário Anísio Jobim, em Manaus, terminou com a morte de 56 presos.
As investigações apontaram que a maioria dos assassinatos foram praticados por membros da Família do Norte vitimando os integrantes do Primeiro Comando da Capital. O crime teria acontecido como uma forma de resposta ao PCC na tentativa de se expandir na região.
Roraima também é FDN
Durante as investigações do Ministério Público de São Paulo, entre março de 2017 e janeiro deste ano, o cenário em Roraima era bem parecido com o do Amazonas: o tráfico de drogas é comandado pela facção criminosa Família do Norte, permitindo também a atuação da aliada Comando Vermelho, em uma guerra travada com o PCC.
Nos primeiros dias do ano passado também ocorreu uma rebelião na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, em Boa Vista, causando a morte de 33 pessoas presas. No entanto, diferentemente do que aconteceu no Amazonas, os mortos no presídio em Roraima eram os rivais do Primeiro Comando da Capital.
Um mês depois da rebelião, os integrantes do PCC também tiveram problemas com policiais. Em uma carta interceptada pelo Ministério Público, supostos integrantes do Primeiro Comando da Capital na penitenciária de Monte Cristo disseram que “a polícia baleou dois irmãos com tiros de borracha”. A carta ainda diz que os membros do PCC feridos estão bem, mas “estamos com ódio e vamos pegar o diretor dessa unidade”.
No Acre é PCC e B13
De acordo com as investigações, o tráfico de drogas no Acre é dominado pela facção local B13 (Bonde dos 13), que atua em parceria com o Primeiro Comando da Capital. Para manter o domínio, as organizações criminosas atuam de forma violenta no Estado.
“Essa união tem deixado as autoridades em alerta, porquanto a maioria dos homicídios de agentes penitenciários do Estado do Acre são perpetrados por ações conjuntas entre as organizações criminosas. Em razão da parceria, o Bonde dos 13 acaba por ser um mais um braço do PCC em outro Estado da Federação”, disse o promotor na denúncia.
Umas das vítimas da parceria entre PCC e B13 foi o agente penitenciário Humberto Furtado, 29 anos, assassinado com arma de fogo, na cidade de Bujari (25 km de Rio Branco), no dia 24 de agosto do ano passado.
Okaida versus Estados Unidos
Na Paraíba, duas facções locais disputam o controle do tráfico de drogas e armas de fogo. No entanto, Okaida e Estados Unidos podem ser considerados como meros braços de apoio aos seus aliados Comando Vermelho e Primeiro Comando da Capital, respectivamente.
Essa informação consta em uma interceptação telefônica do Ministério Público, na qual um suposto membro do PCC explica a situação no Estado: “A força dos caras [Comando Vermelho] nos outros Estados é porque se aliaram. Na Paraíba [estão com] a Okaida, mas o PCC é aliado aos Estados Unidos, que matam para caramba”.
Em outro telefonema que as investigações tiveram acesso, um integrante com cargo de “Resumo Disciplinar dos Estados” deu aval para outro integrante do Primeiro Comando da Capital de capturar e matar um possível líder do Comando Vermelho na Paraíba.
Em poucos momentos nas investigações, os integrantes do PCC demonstram preocupação com outras facções no Estado da Paraíba. Segundo consta em uma interceptação telefônica, os líderes da facção paulista teriam visto “uma reportagem onde integrantes do CV ameaçam integrantes do PCC”.
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