MP-SP denuncia 53 PMs presos por suposta ligação com PCC
Uma semana antes de prisão, Força Tática havia sido retirada do endereço. Vizinhos de antigo batalhão e moradores de comunidade relatam mudanças
São Paulo|Kaique Dalapola, do R7
O MP-SP (Ministério Público de São Paulo) denunciou, nesta segunda-feira (4), os 53 policiais militares do 22º Batalhão, na zona sul da capital, presos em dezembro de 2018 suspeitos de ligação com a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
De acordo com a denúncia, “os agentes de segurança passaram a integrar o PCC, praticando diversos ilícitos, como concussão, corrupção passiva, falsidade ideológica, violação de sigilo funcional, além do crime de associação ao tráfico de drogas”.
A maioria dos policiais presos pertencia à Força Tática do batalhão, que é uma espécie de tropa de elite da área que atuam. Uma semana antes da Operação Ubirajara, que levou os PMs à cadeia, a unidade da Força Tática e da Rocam (que costumam ser no mesmo lugar) mudou de endereço.
Moradores vizinhos do antigo batalhão afirmam que a Polícia Militar deixou o local por conta de problemas estruturais no prédio. Segundo o jornalista e empresário José Roberto, 67 anos, morador da região, a população local tentou impedir a mudança de endereço do batalhão porque, segundo ele, a unidade trazia mais segurança para o local.
O empresário afirma que quando soube, por meio de reportagens, sobre a prisão dos policiais militares por possível envolvimento com o Primeiro Comando da Capital ficou “surpreso e decepcionado”.
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Moradores da comunidade atendida pelo batalhão diz que houve mudança no patrulhamento, mas não se tem mais informações de ações violentas, que antes eram recorrentes. Além das investigações de envolvimento com PCC, moradores da comunidade que os policiais atuavam relatam problemas de violência.
No mês passado, um policial do batalhão foi condenado e outro absolvido pela morte do jovem Gabriel Paiva, de 16 anos, em abril de 2017, vítima de espancamento com um taco de madeira. O PM condenado por cometer o crime é conhecido na comunidade como “Negão da Madeira”.
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“Em relação à segurança está a mesma coisa, mas em relação ao tratamento da polícia com a população eles [PMs] estão um pouco mais atentos, não estão maltratando as pessoas. Eu não ouvi mais relatos de violência contra a população. Mas acho que ainda é cedo para avaliar o serviço sem os antigos policiais”, disse Zilda Paiva, 47 anos, moradora da comunidade e mãe do adolescente assassinado.
Fora da comunidade, moradores vizinhos do antigo batalhão da Força Tática relatam o aumento de crimes e insegurança na região depois da mudança de endereço da unidade policial. Uma fotógrafa que mora e trabalha na região afirma que está inviável continuar no local, e já está à procura de outro lugar para estabelecer o estúdio.
Uma cabeleireira que tem um salão há quatro meses ao lado de onde era o batalhão diz que já sente a diferença. Ela colocou grades na entrada do estabelecimento depois que aumentaram os relatos de assalto na região.
A denúncia contra os 53 policiais militares foi feira pelo promotor de Justiça Militar Cláudio Henrique Bastos Giannini. Segundo o Ministério Público, as investigações começaram com uma denúncia anônima dando detalhes sobre como os PMs envolvidos no esquema apreendiam grandes quantidades de drogas e negociavam com traficante local.
Na continuidade das investigações, a Justiça autorizou que telefones de policiais fossem interceptados, o que revelou, de acordo com o MP-SP, que “não se tratava de um caso isolado, e sim que diversos integrantes da corporação”. Os policiais foram presos na operação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), do MP-SP, juntamente com a Corregedoria da PM.